Raísa já estava pronta para a festa do seu aniversário. Estava linda no seu vestido branco. Os cabelos louros, presos por uma fita, deixavam alguns cachinhos caindo pelos ombros, como aneis dourados. Parecia uma princesa!
Ouviu a campainha tocar e saiu correndo para atender o primeiro convidado. Na pressa tropeçou no armário e o vidro de mercúrio cromo que estava sobre o móvel voou, bateu na cadeira, na cama e no chão, se espatifando em mil pedaços. Os respingos deixaram o vestido de Raísa com mil manchas vermelhas.
Dona Claudia, mãe de Raísa, ouvindo o barulho, correu para ver o que tinha acontecido.
- Mãe, olha o que aconteceu ! Como é que eu
vou receber os convidados com esse vestido todo manchado? - falou chorando.
- Todo problema tem solução, minha filha. Não
fique triste. Eu vou resolver.
Dona Claudia foi até à porta para abrir para o convidado que estava chegando e depois foi ao quarto e pegou um pincel e um estojo de tinta de várias cores. Aproveitando o vermelho do mercúrio ela pintou varias rosinhas , no vestido branco e pediu ao convidado que havia chegado, Luisinho, que era ótimo desenhista, para pintar os galhos das rosas. Com a cor azul ela fez pequenas flores, que completavam a sua obra de arte.
Quando Raísa viu o efeito, ficou maravilhada.
- Mãe, o meu vestido agora está muito mais lindo!
Toda de branco eu parecia um anjo, mas agora pareço um anjo num jardim. Mãe, eu simplesmente a-d-o-r-e-i!
Quando suas amigas viram aquele vestido tão lindo quiseram saber onde ela havia comprado aquela preciosidade.
- Foi minha mãe quem pintou. Ela é uma artista, não
é mesmo?
- Maria Antonia, que fazia aniversário no mês seguinte, logo encomendou a sua roupa de princesa, mas queria toda pintada com aquelas flores igual ao vestido de Raísa.
Mariana queria o seu, pintado com bichinhos. Já Roberta, que era louca por matemática, queria o dela com uma barra com números de todas as cores.
Depois da festa Raísa comunicou à mãe que já tinha várias encomendas e que ela ia ganhar muito dinheiro com esse novo trabalho.
- Raísa, minha filha, como é que você diz para as
suas amigas que eu sou artista? Eu só sei pintar aquelas flores, mais nada, minha filha!
- Ah... mãe, se vira. Você não disse que todo
problema tem solução. Você se matricula numa escola de pintura e aprende rapidinho. Você não vai querer que todo mundo diga que você tem uma filha mentirosa, vai? Você sempre disse que dizer mentira é muito feio.
- E é mesmo, minha filha. Quando a gente mente as
pessoas passam a não mais acreditar em nada que a gente diz e o que você fez foi dizer uma mentira.
- Mãe, como é que você pode chamar a sua própria
filha de mentirosa? O que eu fiz foi diferente. Eu quis que todo mundo soubesse que eu tenho uma mãe muito cheia de qualidades. Se você pinta até parede que é mais difícil, pode muito bem passar a pintar vestidos para festa. Eu tive a melhor das intenções, entende?
- Dona Claudia, vencida pelos argumentos da filha, foi fazer o curso de pintura. Hoje trabalha para várias butiques do Rio de Janeiro e já está até pensando em exportar para outros países.
Raísa já está pensando em seguir a carreira de manequim para desfilar com os vestidos que dona Claudia pintar.
Dona Claudia tirou uma lição de toda essa história: A gente sempre pode fazer mais do que pensa. É só ter boa vontade.