Homem Mau,Lobo Bom!
Homem Mau, Lobo Bom
Amanhecia novo dia no bosque selvagem das terras do Norte.
Estamos na Primavera, o gelo acabou de derreter ,o frio já foi esquecido.
Uma madrugada serena e morna, que se inicia com a saída das estrelas e do céu negro de Lua nova, pelas manchas coloridas do amanhecer ,ao ritmo tranqüilo e compassado dos grilos ; o firmamento se ilumina, de início fracamente, com tons de vermelho, laranja, roxo, amarelo, ouro; das tonalidades mais claras às mais fortes . O majestoso azul anil começa à aparecer, de mansinho, até ficar forte, junto com o Sol, glorioso em sua majestade e todo o horizonte ilumina-se, o dia finalmente chegou!
. Mas no bosque a vida ferve; e alguns animais não podem se dar ao luxo de admirar o magnífico espetáculo que a toda sabia Natureza oferece :
A respiração é pesada e profunda, profundamente ritmada por um coração poderoso, batendo quase com violência. Os olhos, injetados de ódio rancoroso, as quatro patas, firmes como rochas, respondendo ao nervosismo com energia: começa um galope veloz, o alvo está à sua frente, não pode errar; as presas afiadas saindo dos cantos da boca brilham.
O javali vinha correndo em direção ao grande lobo, preso pela perna traseira direita por uma armadilha de caçadores. Via a morte certa chegar, debatendo-se sem sucesso, tentando inútilmente escapar.
Mas havia uma testemunha para esta cena: uma bela e ruiva raposa-vermelha, que saltou da moita onde estava, com muita agilidade e com a habilidade da experiência que tinha, abriu e soltou as garras da armadilha, pisando no botão da trava.
A reação foi rápida e fulminante: o lobo desviou-se do javali, que espumava de fúria , não tardando em atacá-lo, suas presas navalhinas rasgando a carne gordurosa do porco selvagem, o sangue escorrendo generosamente , doce e oleoso, sendo bebido com delicia, até que as mandíbulas se fecharam de pronto, e os ossos do pescoço suíno estalaram, esmagadas e despedaçadas pelos dentes fortes e afiadíssimos do Lobo. O javali tombou morto.
-Hey, venha cá , raposa vermelha! Almoce comigo desta farta refeição ! Não é comum alguém salvar-me a vida, mas já que o fez , tenho de agradecer-lhe. Qual seu nome? Eu me chamo Akilah, chefe da Alcatéia dos lobos do Norte.
-Eu sou Fewh. Apenas uma raposa vermelha do bosque. Não serei eu, por acaso, sua segunda refeição?
-Ah,ahahahah! Claro que não , nunca ouviu falar da dignidade e honra dos Lobos, tão famosa? Você é meu amigo e aliado agora; e doravante jamais terá de temer a lobo algum. Eu comando todos desta floresta e todos me obedecem fiel e lealmente.
-Sim, por decerto. É que sou desconfiado. Prezo por minha vida; e minha companheira , saudosa, foi morta e devorada por um de vocês . A fome fala mais alto. Dê -me um cantinho.
-Sirva-se, Fewh. Queira desculpar-me por este infeliz incidente em sua vida. Não precisa temer à ninguém agora.
-À não ser o homem e seus cães.
-Bom, tem razão . Eles são cruéis . Temos de tomar cuidado. Sós são inofensivos, mas armados e em grande número...soube que por causa deles não existem mais lobos no sul, eles mataram todos! Mataram lobas prenhes e deixaram ninhadas inteiras morrerem de fome, após matarem os pais! Eles nos matam por medo e covardia; por irresponsabilidade também. Destroem as florestas e matam nossa caça de fome para erguerem suas fazendas; e nós , morrendo de fome, sem ter o que caçar, depois não querem que caçemos galinhas e ovelhas. Se tivéssemos boa caça para nos alimentar, não precisaríamos chegar à este ponto.
-Fossem só os lobos...às raposas eles fazem caçadas terríveis e matam à toa : pura e cruel diversão !
-Você sabe , sabe o que é ouvir os uivos, os lamentos dos filhotes ainda sequer desmamados, chamando inútilmente pela mãe , temerosos da própria morte ? O quanto isto é agônico ? E pior, sem poder ajudá-los ? Sim, já vi isto em minha vida, espero jamais ver isto novamente...
-É uma crueldade. Também já tive esta experiência, sei muito bem o que sentiu...
-Sim...mas, está devidamente satisfeito, Fewh?
-Empanturrei-me de fato.
-Ora, eu também. Sobrou pouco, mas os abutres sem duvida vão gostar muito desta refeição . Não hesite em pedir-me ajuda, se precisar, devo-lhe a minha vida, é uma dívida de honra, à qual anseio restituir-lhe de modo grato. Conte comigo para o resto de sua vida, terá sempre a minha pela sua!
-Muito obrigado. Devo ir agora. Mas, por curiosidade: nesta época , os lobos andam em casais, sempre juntos; e você está só ? E sua companheira?
-Morta pelo homens, ela o foi...quanta tristeza em meu coração ao lhe contar isto, morta covarde e cruelmente por eles, em meados da primavera passada...eu estava longe, procurando comida para ela, eles a cercaram na toca, mataram-na e deixaram os filhotes à míngua. Quando voltei, todos estavam mortos. Os cães dos homens mataram os filhotes, que pude ouvir ganirem e lamentarem até o silêncio. Com os homens ainda por perto, nada pude fazer. Ter-me-iam matado também. Mas está chegando a época do cio do povo lobo; e lutarei por uma nova fêmea. E criaremos nova ninhada!
-É revoltante, Akilah. Mas, só podemos recomeçar tudo de novo. As raposas também não tardarão a ter seu cio, então, também escolherei minha companheira; e a ajudarei a criar a ninhada. Até qualquer dia!
-Até qualquer dia, Fewh. Se precisar de mim, é só uivar !
Os dois se separaram, cada qual seguindo uma direção.
Akilah era um lobo de meia idade, experiente da vida, chefe inconteste e temido de sua alcatéia. Solene, sisudo, orgulhoso e nobre, de caráter reto, altivo como todos os lobos, tinha a exata noção do seu potencial agressivo , de sua força , ferocidade e agilidade e sua habilidade para o combate. Era muito inteligente e só usava estes atributos agressivos de supremacia na medida exata da necessidade, nunca à toa.
Já Fewh tinha um certo quê de arrogante, não que sua autoconfiança fosse maior ou igual à de Akilah, mas tinha tremendo senso de oportunidade e oportunismo, que bem se poderia chamar de esperteza. Arguto ao extremo, era polido, experiente, no auge do vigor da idade, desconfiado e observador, simpático e bom de coração , com muito espírito de independência, assim era Fewh.
No entanto, pouco depois, a floresta emudeceu. A raposa, como os demais animais da floresta, já sabia de antemão o que isto significava: Homem.
De fato, uma garota de seus treze anos, moradora de uma fazenda próxima, desceu de seu cavalo, amarrou-o em uma árvore; e ficou perambulando pelo bosque. Trazia na cintura uma faca afiada de 15 cm e o que a guiava era simplesmente o gosto pela aventura,pois era fascinada pelo estudo do comportamento animal,e amava observar os animais na floresta. Achava que estava "explorando" o local. Passou próxima à toca de Fewh, mas continuou indo ainda mais fundo, no coração da floresta. Agora estava descendo uma ravina inclinada e escorregadia, até que seus pés não encontraram mais apoio; e ela rolou ladeira abaixo, caindo em um buraco.
Dois olhos brilharam no escuro. A menina viu-os e ficou com medo :Silêncio . A faca foi sacada. Quatro patas cautelosas moveram-se, e um focinho úmido farejou a garota. O hálito quente foi sentido e não foi agradável .
A menina ligou sua lanterna, que trazia à tiracolo. E o que ela viu foi uma dentuça alva e afiada, e dois olhos brilhantes e afilados. A menina gritou de pavor:
-Um lobo! Aaaaaah!
Akilah saltou para traz , rosnando alto e arreganhando os dentes. Estava em posição de combate!
A menina saiu correndo dali, ganhando a ravina, mas qual! Akilah saltou ágilmente interceptando seu caminho. Suas patas dianteiras bem largas estavam em cima do peito da menina e o lobo arfava, olhando para ela, curioso . A menina tremia e suava frio, tinha dificuldade de respirar, pois o grande lobo de dois metros de comprimento por um de altura e cem quilos de peso ,estava em cima dela.
-Akilah! Deixe disto, amigo. Não vale à pena !
-Oi, Fewh! Estou só brincando com o filhote de homem !
Akilah saltou de lado e a menina, ainda com dores no peito e tossindo muito, levantou-se. À sua esquerda, o grande lobo, à sua direita, a bela raposa, ambos os maiores que ele já tinha visto. Estavam olhando para ela, que recuou e fugiu assustada.
Ambos estavam se divertindo muito com o pavor da menina, pois tudo não passava de simples brincadeira. Akilah não iria de modo algum machucá-la. Sabia as conseqüências disto.O instinto, ao ver ela correndo era de persegui-la, mas Fewh o desencorajou.
Mas a garota, já fora da floresta, era uma pequena autodidata. Ou seja, estudava e pesquisava assuntos científicos sem professor, por sua própria e espontânea vontade, lendo muito, sendo que o que realmente lhe chamava a atenção era o estudo do comportamento dos animais. E seus preferidos eram justamente o lobo e a raposa. Ele chegou em casa, encontrando sua mãe , que lhe chamou a atenção :
-Michelle, onde você esteve por tanto tempo, menina?
-Na floresta, mãe . Fui observar os lobos e as raposas!
-Está ficando louca, menina! Quer morrer?De novo? Com tantos animais bonitos e inofensivos, quer ver lobos? Eles são maus , comedores de gente, ferozes, assassinos sanguinários , uma praga que infesta a floresta, mata nosso gado, nossas galinhas! Raposas também ,outra praga ! Isto sem falar que um tarado pedófilo poderia ter te encontrado e aí você estaria perdida !
-Mentira! Nenhum animal é cruel, só o homem! Não existe maldade nos animais, eles são puros e os lobos estão em extinção ,sabia? São muito inteligentes, sociáveis, organizados socialmente, são solidários entre si, coisa que não acontece com a gente! Nos poluímos e desmatamos e extinguimos a caça no ambiente deles; e eles são obrigados à invadir nossas fazendas para matar a fome! Se nos replantássemos as florestas, despoluíssemos o ar e os rios e trouxéssemos de volta para as florestas os animais de que se alimentam, que nós extinguimos, eles não mais precisariam; e não fariam mais isto, e viveríamos em paz com eles! Eles não são assassinos, cruéis ou pragas, são apenas predadores que seguem as Leis da Natureza ! A culpa pertence ao Homem, não aos lobos !Quanto a tarados, eu nunca vi nenhum, graças a Deus, e espero não ver nenhum mesmo!
-Moleca atrevida! Aonde já se viu responder assim à sua própria mãe ? Mais respeito ouviu? Eu faço tudo por você e sou tratada como mentirosa! Como pode ser mentira o que eu aprendi com meus pais, avós e bisavós ? Eles mentiam também ? Heim? Estes animais malditos são praga, sim; e terá de aceitar isto, pois é também a opinião do seu pai, se ele ouve seu discurso, lhe dá uma surra, pois responder aos pais é falta de educação ! Filha tem que aprender com os pais calada, sem nunca, nunca rejeitar o que eles lhe ensinarem, pois se estão ensinando, é por que é certo; e acabou! Filha ouve e entende, não discute, entendeu? Nunca, entendeu, nuuuuunca !Sua ingrata !
- Meus avós não mentiam , apenas não tinham conhecimentos científicos de comportamento animal, que não existiam na época deles, em segundo lugar, filho tem direito a ter opinião própria diferente dos pais e são filhos, não escravos dos pais, filho tem dignidade também, e os pais não tem o direito de serem prepotentes , nem ditatoriais, nem intolerantes, nem de serem covardes de abusarem de sua autoridade batendo nos filhos, e terceiro, deixe de ser hipócrita e submissa ao papai, porque a senhora também tem os seus direitos e deixe de fazer chantagem emocional, pois isto não me convence !
E Michelle levou um tremendo tapa na face que a fez cair sentada no chão. A marca vermelha dos dedos ainda estava em seu rosto. Trancou-se chorando em seu quarto, pois sabia que ela é que estava certa, seus pais é que estavam errados, por pura ignorância , preconceito e intolerância que só os adultos conseguem ter. Mas ela jurava à si mesma que iria provar a eles que seu conhecimento científico estava correto !
Neste meio tempo, Fewh estava pronto para perseguir um coelho gordo. Ia dar o bote. Do meio das folhas secas , muito bem escondida, a raposa vermelha só esperava sua caça aproximar-se um pouco mais, para ficar ao seu alcance. Em silêncio absoluto.
Mas também o coelho era desconfiado. Sempre inseguro, saiu de sua toca , tenso e cuidadoso.
Surprêsa ! Repentinamente Fewh atacou.
Mas o coelho, tomado pelo susto, percebeu a raposa uma fração de segundo antes do bote dela se completar e começou à correr em desabalada carreira bosque afora, por sua vida, com Fewh firme em seu encalço . Fewh estava tão próximo que o coelho podia sentir seu hálito . Curvas e saltos espetaculares, à esquerda e à direita, velocidade, aceleração furiosa e a luta pela vida permanecia encarniçada . Até que o coelho se viu cercado. Não havia, devido à sua velocidade, mais tempo para frear. À sua frente uma dentuça alva e afiadíssima o esperava. E Fewh atrás .
A raposa aproveitou a tentativa desesperada do coelho para frear; e abocanhou-o pouco acima da altura da bacia. Também correndo muito, não tendo como parar, capotou violentamente, rolando varias vezes no chão , acabando por parar aos pés daquele intruso que cruzou seu caminho e o do coelho. Ouviu um miado agudo e feroz, vendo dentes alvos colocando-se à mostra. Era um Lince, dos bem grandes; e Fewh sabia que contra ele não teria chances numa luta. Ele queria tomar-lhe sua caça , parecia ameaçar tirar-lhe também a vida.
As garras retráteis do felino mostraram-se. Ia atacar.
Ataque!
Em apenas uma mordida, quebrou o pescoço do coelho, matando -o e tomando -o para si. E Fewh estava em uma tremenda enrascada. Arreganhou seus dentes, uivando em seguida por socorro.
O lince , sentindo que talvez Fewh quisesse o coelho de volta, atacou. Fewh num átimo conseguiu desviar-se, recebendo no entanto uma unhada na omoplata direita. Sangrando, ele viu que não iria conseguir escapar por muito tempo. Ao fugir, caiu em uma depressão do terreno.
E o lince, após persegui -lo preparava-se para o golpe de misericórdia . Não iria errar outra vez.
Soou como um rugido:
-Ei, Lince! Porque não procura alguém do seu tamanho
para uma luta justa? Porque não enfrenta à mim? Ou você por acaso não passa de um gato gordo ?
-Miiiiirrrr! Akilah! O grande lobo, não é ? Vou mostrar -lhe quem é o gato gordo!
-Sim, como sabe meu nome? Venha, mostre então? Vou lhe mostrar do que um lobo é capaz !
-Todos o conhecem, seu valentão . Acha que pode corresponder à sua fama? Veremos...Já enfrentou um lince antes, lobo atrevido?
-Não !Porquê ?
-Porquê na floresta vizinha já matei outros de seu tipo. Eles eram jovens, pouco mais que filhotes, mas você não . Vai ser novo para nós dois ! E só um sairá vivo desta luta !
Frente `a frente ambos se olhavam, em alerta total. Akilah sabia que deveria esperar o lince atacar primeiro, sua longa experiência em combates, vitoriosos sempre, assim o aconselhava. Mas o lince também era bastante experiente nestas coisas e igualmente esperava, com a mesma paciência de seu adversário, o primeiro golpe.
Fewh, esperto que era, percebeu que desta maneira o confronto poderia demorar muito à acontecer, e , com fome, resolveu desta maneira forçar uma ação precipitada do lince. Era arriscado, mas ele estava ciente disto. Correu por trás do felino e mordeu - o na perna traseira esquerda, fazendo-o saltar de dor para perto do lobo e escapando da zona de perigo rápidamente .
O lince caiu no solo, tendo sido este seu primeiro golpe.
Akilah só então atacou. Suas mandíbulas abriram-se rasgando os músculos de uma das pernas do felino, que urrou de dor; e saltou de lado, saltando de novo por trás do lobo, que girou ágil e rápido nos calcanhares , desviando-se não sem levar uma unhada na altura da bacia. O lobo reagiu, rasgando a orelha de seu adversário em tiras, levando parte da musculatura que a erguia também . Recebeu do lince uma dentada lateral da base do pescoço, junto a perna dianteira esquerda, respondendo com outra no peito do gato selvagem, que agora estava de costas no chão, arranhando-o no rosto e nas pernas. Ambos estavam ensangüentados. Até que Akilah acertou uma mordida fatal no pescoço do felino e o sangue espirrou rubro com forte pressão . O lince estava morto.
-Pronto, Fewh. O coelho é seu. Boa caçada a sua!
-Devo agradecer-lhe, Akilah. Salvou a minha vida! Agora a dívida de gratidão é minha!
-Apenas paguei a minha, amigo. Esqueça este tipo de coisas. Permanece podendo contar comigo à qualquer momento, comigo e minha alcatéia. Tem a minha lealdade.
-Acho difícil você precisar de ajuda, mas se for o caso, conte com a minha lealdade também. É só uivar!
-Posso precisar sim. Agradeço . Boa caçada !
-Boa caçada !
E Akilah seguiu seu caminho,enquanto Fewh devorava sua refeição.
Algumas semanas se passaram. Akilah já tinha -se acasalado, a época do cio estava praticamente no fim. Já Fewh tinha-se metido em encrencas novamente:
Tudo por causa de uma doninha que havia roubado uma galinha da fazenda de Michelle; e corrido pelos campos, terminando por devorá-la próximo de uma das saídas da toca de Fewh, que dormia tranqüilamente. Um dos cães da fazenda perseguiu os rastros da doninha e encontrou os restos da galinha; e sua insistência acabou por trazer o pai de Michelle até a toca da raposa. Ele chamou seus empregados, com cães e cavalos e a perseguição à Fewh começou,pois ,percebendo o reboliço,Fewh usou uma de suas saídas de emergência para tentar escapar . Ele corria pela vida, como nunca tinha corrido antes! Estava desesperado! O pior é que Akilah parecia não ouvi - lo, por causa da época do cio, assim achou a raposa. Agora Fewh só esperava a morte!
Enquanto isso, Michelle acordou e percebeu a falta do pai, notando uma movimentação estranha dos empregados na fazenda. Perguntada sobre o que estava acontecendo, sua mãe a informou sobre a caça à raposa. A garota, revoltada, nem se despediu: foi às cocheiras, montou em seu cavalo e estava pronta a disparar quando sua irmã mais velha,Jeniffer, a encontrou.
-Michelle,onde você vai à esta hora da noite?
-Vou salvar aquela raposa,minha irmã.
-Então eu vou com você,Mi ! É muito perigoso você sair a noite sozinha assim !Eu vou te ajudar!
-Obrigada, Jenny,não é a toa que te adoro!Pega o outro cavalo e vamos embora, depressa, antes que a mamãe nos encontre!
As duas então dispararam à galope até a floresta. Bem a tempo: Fewh estava cercado, sem chances. Doze carabinas de cano duplo apontavam para ele. Iam atirar, quando as meninas chegaram, desmontou do cavalo, postando-se entre os atiradores e a raposa.
-Terão de atirar em nós primeiro, antes de matá-la !
-Filhas, saiam já daí ! Estou mandando!
-Eu morro para ela não morrer! Terá de atirar em mim!
-Eu também !
- Filhas, vocês sabem que eu jamais faria uma coisa destas. Saiam daí para que eu possa matar este animal estúpido !
-Ela é inocente! É um erro terrível que o senhor está cometendo! Tenho certeza!
-Largue de ser romântica , Michelle! Você é muito nova para entender! Deixa, gente, eu tiro elas daí...
Fewh, exasperado, vendo que iam tirar de cena suas únicas defensoras, mesmo sem esperança , uivou novamente pedindo socorro.
O pai das meninas desceu de seu cavalo. Aproximou-se. A raposa começou à rosnar alto. Ele estendeu as mãos às meninas.
Repentinamente, o rosnado engrossou e parecia vir de todo lado. Um coro de uivos se fez ouvir bem perto, de arrepiar os cabelos. Os cavalos se assustaram, nervosos que estavam.
Tudo foi muito rápido. Das moitas altas em torno do círculo dos caçadores, irrompeu outro. Quarenta lobos saltaram de seus esconderijos e atacaram cerradamente.
Os cavalos empinaram e fugiram a galope, derrubando os homens no chão, assustadíssimos , com os lobos arrancando as armas de suas mãos , sem chance de defesa. Estavam desarmados. A alcatéia estava impecávelmente organizada, tendo rendido os homens, cercado a raposa e as garotas; e alguns ainda vigiavam as armas. O pai delas deitado no chão tinha Akilah sobre seu peito, rosnando alto e arreganhando os dentes. Os caçadores foram expulsos com rosnados ferozes e dentes à mostra pelos lobos para fora do bosque, e só o pai de Walter permanecia.
Michelle aproximou-se de Akilah, que saltou dali com expressão tranqüila.Jeniffer ainda estava trêmula de medo. Mas o lobo deixou os três irem embora e foi ter com Fewh.
-Amigo, salvou-me a vida novamente!
-Conte sempre comigo e meus companheiros, Fewh.
-Os filhotes de Homem tentaram salvar-me, você viu?
-Sim, sem dúvida que vi. Eles nos protegem dos outros homens. Devemos protegê-los também. Eles são diferentes.
-Sim, tem razão .Mas me parece que são fêmeas, são elas. Mas como toda a alcatéia pode vir me salvar !? Não estavam no cio?
-Estávamos realmente. Mas é que já acasalamos. O cio foi rápido este ano. Tenho de ir , minha companheira logo terá filhotes, tenho de cuidar dela . Boa caçada ,amigo ! Conte sempre comigo !
Neste ínterim , as irmãs e o pai delas discutiam:
-Amigas dos lobos! Foi isto que minhas filhas viraram! É um absurdo! Vocês já pensaram, já passou por suas cabecinhas tontas, o que meus empregados e os meus amigos vão dizer de mim?
-Pai, os lobos é que estão certos! A raposa era inocente sim; perseguir estes animais é pura intolerância !
-Ah, é ? É assim? Escute aqui, Michelle, eu não estudei tanto como você , que sem duvida é muito inteligente, principalmente para a sua idade, sou apenas um fazendeiro, mas nem por isso vou admitir que minhas próprias filhas conspirem contra mim ! Aliás, a Michelle eu até entendo esta atitude desvairada, mas você, Jeniffer, que sempre foi tão ajuizada, ir na onda da sua irmã, eu não consigo entender!Você já tem quatorze anos,não devia seguir a cabeça tonta da sua irmã!
-Eu amo a minha irmã, pai, e se ela quer defender estes lobos e raposas, eu acredito nela e estou do lado dela com isto também !
-Eu não acredito,eu não acredito,Jenny ! Bom, se vocês duas estão mesmo falando sério quanto à ficar do lado daquela raposa e daqueles lobos idiotas, não as considero mais então como minhas filhas!
-Isto é...é pura infantilidade! Eu, que deveria ser infantil, pois estou na idade certa disto, vejo você comportar-se de uma maneira tão pouco madura, com esta reação ridícula sua! Pai, admita que você está errado! Por um acaso verificou as pegadas no galinheiro? Então olhe, elas estão lá ate hoje, tomei o cuidado de cerca -las e protegê -las só para lhe mostrar; e verá que são de doninha, não de raposa! Olhe a diferença de tamanho, como são pequenas e diferentes demais para serem de raposa! Eu vi! Ninguém notou por puro preconceito, acharam que era a raposa e pronto!
-Ela está falando a verdade, pai, são de doninha mesmo ! Insistiu Jenny.
-Chega, vocês duas! Agora chega! Se não conseguem conviver com seres humanos, então é melhor que vão viver com os lobos e a raposa que tanto gostam; em casa não mais as receberei! Hoje à noite, vou me reunir com os demais fazendeiros da região e vamos organizar uma caçada gigante à esta praga, esta praga comedora de gente que uiva e rosna! Vamos matar todos os lobos, de uma vez por todas! Limpar esta floresta! E caso eles ainda não as tenham devorado vivas até lá, não adianta se colocar na frente de seus "amigos", atirarei da mesma forma desta vez! E sumam-se da minha frente, que nunca mais as quero ver na minha vida!
As duas correram de volta ao bosque, a pé,chorando muito.Estavam vestidas de calças jeans, camisetas e casacos e levavam uma mochila cada uma nas costas, com uma faca, uma lanterna,curativos e algumas barras de chocolate, além de um cantil,em cada uma.Não levavam sequer uma muda de roupa.Enquanto elas iam, o pai delas chegou contou à sua esposa o acontecido. Também ela debulhou-se em lágrimas. Tiveram uma longa discussão , tempestuosa, a família estava em crise. Ela saiu da casa furiosa e apontou:
-Olhe lá no galinheiro, seu estúpido ! Por acaso aquilo lá é pegada de raposa? Hein? As meninas tinham razão e agora você diz que já combinou tudo com seus vizinhos? E o que é pior, nossas filhas estão sozinhas lá na floresta perigosa, por sua causa, por seu erro ! Nem por um instante você pensou que pode ter um pedófilo escondido na floresta e que pode agarra-las e matá-las?William, eu já estou farta! Ou você vai buscá-las agora mesmo, ou eu mesma vou sozinha !
-Agora todos estão doidos para começar a caçada ,Wilma .Como é que eu vou explicar para eles que eu é que estava errado? No final da semana todos nós vamos nos reunir e...eu não posso voltar atrás ! E quanto às meninas, provavelmente elas , elas não vão me perdoar ! Não vão mais querer voltar ! Oh, meu Deus, o que foi que eu fiz? Elas tinha razão, Wilma, elas estava certas! Eu fui mesmo infantil, um intolerante, um arrogante, preconceituoso... ah, não ! Olhe só
a tempestade que está começando agora! Como vou poder buscá-las ?
Todo choroso, William foi práticamente expulso de casa por sua esposa a chutes e tapas, que lhe ordenou que não voltasse sem as meninas.
A tempestade estava furiosa. O vento cortante açoitava a pele. Fazia frio, tudo agora estava escuro como a noite.
Enquanto isto, as garotas estavam tremendo, molhadas e geladas, procurando desesperadamente algum abrigo. Ouviram uivos no escuro, pressentindo que deveria segui-los. Correram entre as árvores como cegas, até dar de frente com uma toca grande, seca e espaçosa . Lá dentro, um par de olhos brilhava.
Contendo o medo ,elas entraram. Um focinho úmido as cheirou. Era Akilah.
As meninas ligaram suas lanternas que sempre trazia consigo e viram o grande lobo diante de si. Sim, ele as havia "convidado" para se "hospedar" lá, guiando-as no escuro com seus uivos. Akilah sacudiu sua pelagem para se secar, molhando ainda mais as meninas. A companheira de Akilah também as cheirou, e voltou a deitar -se no fundo da toca.
Mas Michelle agora estava faminta e fez um sinal de mastigar, bem audível para o lobo, que lhe trouxe uma perna de coelho, com pele e tudo. As "convidadas", sempre prevenidas, sacaram suas facas, desossaram e depelaram sua refeição e a repartiram entre si e comeram com vontade. Sim, agora estavam satisfeitas; mas Akilah estava tão próximo, comendo seu coelho recém caçado e tão tranqüilo...deixava-se agradar e afagar como cachorrinho manso, emitindo um rosnadinho leve e preguiçoso , um pouco assustador, mas sossegado. Sinal de que estava gostando daquilo.
Cansadas, as meninas caíram no sono.
Tal tranqüilidade William não tinha. Procurando pelas filhas como louco, gritava a plenos pulmões ,tentando
superar os trovões que ribombavam agora celeremente . Já estava fazendo isso à horas, estava completamente perdido. Acabou achando uma caverna; e exausto, caiu no solo e descansou.
Dali há pouco a chuva cessou. E ele escutou então altos rugidos de gelar a espinha. Era um urso negro dos bem grandes, parecendo furioso. Wiliam lembrou-se: tinha, á alguns anos atrás caçado a companheira daquele urso; e a pele dela ornava sua sala de estar. Havia deixado à míngua dois filhotes que sequer tinham desmamado ainda. Reconheceu aquela caverna e sabia a razão da fúria ursina.
Pegou sua carabina de cano duplo e atirou. Trêmulo de medo e frio ,errou o tiro, acertando no ombro direito do enorme predador.
Agora sim o urso estava muito mais furioso! Uma perseguição se iniciou na floresta.
Mas Fewh viu o que estava acontecendo e soltou seu uivo, que Akilah ouviu, atendendo imediatamente o chamado, não sem antes acordar as meninas, que tentaram seguir o lobo, mesmo sabendo que este era muito mais veloz.
Quando chegaram, viram o pai delas acuado e cercado pelo urso, pronto para a morte. Akilah tinha conseguido reunir novamente toda a alcatéia, cercando o grande caçador de centenas de quilos.
Uma pata com garras longas e afiadas veio voando para o rosto de William, com força suficiente para arrancar sua cabeça . Ao mesmo tempo, quatro patas saltaram àgilmente ao peito do pobre homem, jogando - o ao chão . Escapou das garras do urso, que no entanto acertaram o peito de Akilah, que ganiu e desmaiou ante a perda de sangue, vindo a cair aos pés das meninas, que tinham acabado de chegar. Seguiu-se violento combate, com os lobos acabando por expulsar o urso dali, muito ferido, o que custou a morte de vários lobos para tanto.
-Filhas, temos de levar este lobo para casa, precisamos salvá-lo! Nossa, como ele é pesado!
-Vamos colocá-lo no cavalo. Vamos logo, ele está perdendo muito sangue!Disse Michelle, que continuou: -Jenny, me ajude a levantá-lo !Os três juntos ,com muito esforço,colocar o lobo de cem quilos na garupa do cavalo.
Fewh e todos os lobos da alcatéia não desgrudaram de Akilah um só instante. Quando Willam chegou com suas filhas, uma raposa vermelha e trinta e cinco lobos em casa, mais Akilah, desfalecido em seus braços ,Wilma quase caiu de costas. Depois das devidas explicações e da visita do veterinário ,Akilah começou à ser tratado. Logo recuperou-se. Ficou forte novamente.
Akilah, Fewh e o restante da alcatéia voltaram para a floresta. A grande caçada dos fazendeiros foi suspensa.
Poucos dias depois, quando o inverno retornou, os lobos da alcatéia de Akilah estavam ocupados procurando caça, e por conta das suas presas naturais estarem tão raras, eles já não comiam nada há dias.
Mas, finalmente, depois de muita procura, eles encontraram um velho alce que , fraco e doente, tinha sido deixado para trás por sua manada. Aliás, os lobos, como todos os demais predadores, nunca atacam presas saudáveis e fortes, por causa das Leis Naturais, que ordenam que todos os fracos , velhos e doentes sejam eliminados, para que os mais fortes possam sobreviver.
Akilah comandava a operação de ataque:
-Você, Letok, vá para o lado esquerdo, juntamente com Sowoo, Munny e Terook! Lefrek, Tereb e Zagop ,vão para o lado direito ! Sufi, Gatchoo ,Moki, corram à frente para fechar o cerco, e o resto vem comigo, para perseguir nossa presa para que ela não tenha chance de escapar !Agora, vão !
De fato, o alce foi pêgo de surpresa, e notou os lobos já tarde demais. Ele começou a correr por sua vida, mas era uma causa perdida. Saltando de um lado, saltando para outro, Akilah foi comandando com maestria novos movimentos, perfeitamente coordenados, e o alce, desesperado tentava escapar mais e mais vezes sem sucesso, apenas gastando energia preciosa, que era desperdiçada com rapidez. Corria e saltava para todos os lados , e para onde ia, encontrava uma parede viva de lobos que o cercavam. Então, repentinamente , o círculo se fechou, quando um grupo de lobos cortou sua frente. Ele olhou para todos os lados, e tudo o que viu foram lobos. Mas ao invés de se entregar e desistir da vida, o alce insistiu em viver e decidiu resistir lutando bravamente até a morte. Sua galhada pesada estava preparada.
“-ATAQUE !”
Ordenou Akilah e a resposta veio pronta : eles saltaram de seu circulo de morte , atacando simultaneamente, quarenta bocas famintas mordendo ao mesmo tempo, centenas de dentes cravados no alce ao mesmo tempo. O alce respondeu ao ataque maciço com golpes vigorosos de sua galhada, e com coices fortes de suas pernas traseiras, a adrenalina inundava seu corpo musculoso agora, que sangrava abundantemente, e ele empinava e avançava contra todos, desesperadamente, carregando consigo muitos lobos pendurados em suas pernas, pescoço, peito , dorso e barriga, matando a chifradas e coices violentos vários lobos, corajosamente. Então, o peso de tantos lobos foi ficando demasiado, e eles conseguiram fincar suas patas no chão, e com suas mandíbulas e pescoços muito fortes, os lobos logo o obrigaram a cair deitado, e Akilah aproximou -se de seu pescoço, suas mandíbulas se fecharam, os dentes afiados rasgaram o couro, continuaram afundando pelos músculos rijos em meio a jorros de sangue em alta pressão, e alcançaram a espinha, e então as mandíbulas pressionaram ainda mais forte, fechando -se mais ainda, e ouviu -se o estalar das vértebras do pescoço. O alce estava morto. A alcatéia então começou a comer.
Enquanto isto, em um outro canto da floresta, um homem e seu cão corriam por suas vidas, penetrando na mata. Ele tinha escapado de uma prisão , e tinha libertado seu cão do canil da prisão também, pois este sempre o acompanhava.
Ele não era um homem comum, era muito alto e tinha uma fisionomia feroz e mal encarada, era muito musculoso e robusto, e levava uma poderosa e pesada metralhadora consigo. Seu cão, um ferocíssimo pit bull, era tão forte e robusto como o dono.
O nome dele era Black Joe Metralhadora, porque só gostava de se vestir de roupas pretas e não largava de maneira nenhuma sua metralhadora. Toda a vida ele fora um criminoso cruel, matando, roubando, traficando drogas e praticando toda a sorte de crimes bárbaros,não poupando sequer crianças. Mesmo os presidiários da penitenciária em que esteve preso tinham terror dele, pois mesmo para tais criminosos, seu nome significava morte. Quando ele terminou de despistar a policia, deixando um rastro de sangue atrás de si, aprofundou -se na floresta.
Mas na mata todos os habitantes já tinham notado sua presença, e a notícia correu de boca em boca.
Black Joe parou então, para descansar, e soltou da correia seu cão, chamado “Killer”.
Ele disse para o cão:
-Anda, cão dos infernos ! Vá caçar alguma coisa e traga alguma comida para mim, que estou com fome. Vá ! Vá !
Mas nas profundezas da floresta:
-Akilah! Akilah ! Tenho novidades para você !
-Oi, Oo ! O que uma coruja como você esta fazendo aqui no meio do dia?
Oo, a coruja então contou sobre a chegada de Black Joe e Killer.
-Isto é muito grave, Oo !Penso que a floresta está em perigo. Obrigado, Oo ,vou tomar providencias a respeito agora mesmo. Até mais !
Oo foi embora.
Akilah reuniu os outros lobos, e contou as notícias. Então, um cheiro ruim e diferente foi notado no ar.
-Sinto o cheiro de um intruso, um cheiro de um cão sujo, deve ser aquele que entrou na floresta!
-Só pode ser ele, Akilah, não conheço nada que tenha um cheiro destes, mas ele cheira pior que o cheiro dos cães de caça dos homens!
-É isto mesmo, Letok, mas ainda não o vejo. Mas ele já deve estar bem próximo. Esperem, ele já chegou!
Nem bem Akilah terminou de falar, uma sombra se projetou no meio do círculo de lobos, que ainda não tinham terminado de devorar o alce, embora já estivessem quase acabando.
-Hey, eu quero a sua comida, seus tolos !
-Terá de lutar por isto, cachorro sarnento ! Mas eu , se fosse você , nem tentaria, e fugiria correndo de nosso território !
-Seu estúpido ! Eu nunca fujo !Por toda a minha vida sempre lutei pela minha sobrevivência, inclusive contra inimigos maiores do que você, e eu tenho prazer em matar !Eu não me interesso se vou morrer ou não, eu não tenho medo de nada !Não é à toa que me chamo Killer !
- Quem é que você está chamando de estúpido, seu tolo? Quem você pensa que eu sou? Sou Akilah, chefe desta alcatéia, e você está sendo tão tolo em desafiar a morte desta maneira, que merece ser morto mesmo ! Pelo orgulho dos lobos, vá embora agora, ou perderá a vida !
Os demais lobos pediram para lutar a luta de morte com o cão. Ao que Akilah respondeu, que isto era entre ele e Killer, e que o cão pagaria com a vida por ofende - lo e ofender a alcatéia de modo tão grave, sem falar na tentativa de roubo da comida dos lobos, que tanto trabalho deu para ter sido conquistada !
-Você verá agora, Killer, o quanto um lobo é superior a um simples cão ! Dêem -me mais espaço, amigos, vou acabar com ele agora !
Os lobos abriram o círculo para ver a luta.
Frente a frente, os dois inimigos esperavam pelo primeiro bote. Ambos arrepiados, dentes arreganhados, ambos rosnando bem alto, em posição de ataque.Porém, Killer não era um cão qualquer, era um dos maiores e mais fortes pitt bulls já vistos, e passara a vida toda em arenas de lutas de cães,onde a luta era sempre até a morte, e ele permanecia invicto até então.
Tensão...
ATAQUE !
Killer saltou repentinamente para tentar morder o pescoço de Akilah, mas o ágil lobo evitou o golpe, e ainda conseguiu mastigar uma das patas dianteiras do cão. Sangue pingou no chão.
Killer atacou de novo, mas errou o alvo, mordendo a pélvis do lobo, afundando seus dentes até tocar os ossos.
Sangrando, Akilah atacou e acertou uma pata traseira , e Killer foi ao chão. O lobo, rápido como um raio, aproveitou e atacou novamente, quebrando uma costela e perfurando um pulmão do seu oponente com seus dentes afiados. Killer sangrava muito agora.
Mas o cão, furioso, revidou e mordeu as costas de Akilah, que sabia o quanto aquele local era perigoso, pois o cão, mordendo ali, poderia quebrar sua espinha.
Agora Akilah precisava ser rápido para revidar, ou poderia morrer, e os outros lobos assistiam a tudo apreensivos. A idéia era um ataque em massa, caso Killer matasse Akilah.
Mas Akilah era experiente e esperto em ocasiões de lutas assim, e comprimiu suas patas dianteiras e liberou as traseiras em um salto espetacular, e surpreendido, o cão afrouxou suas mandíbulas, e o lobo, ainda no ar, mordeu sua garganta, perfurando a veia carótida, o sangue explodindo em alta pressão, jorrando violentamente em um esguicho veloz, e Killer caiu no chão desacordado, em choque por falta de sangue. Logo parou de respirar. Estava morto, em meio à uma poça generosa de sangue.
Todos os lobos estavam orgulhosos da vitoria de Akilah, ele ainda era invencível !
Mas Black Joe não estava assim tão feliz .Depois de horas de espera, ele decidiu procurar pelo seu cão. Primeiro ele, em um golpe de muita sorte, achou um javali, o qual matou a tiros de metralhadora, e devorou, depois de improvisar uma fogueira e assa’ - lo. Continuou então, e depois de muito tempo procurando, acabou achando a carcaça do cachorro sendo devorada pelos abutres, os quais ele metralhou matando a quase todos.
Ele estava furioso, e clamou por vingança.
Examinou a carcaça e concluiu então que aquilo era trabalho de lobos, e jurou vingar -se deles.
Enquanto isto, Michelle estava se dirigindo para a garagem da fazenda, para conhecer melhor a moto de neve novinha em folha que seu pai acabara de comprar no dia anterior. Aproveitou -se que seus pais tinham ido na cidade fazer compras com a camionete da família, e resolveu, curiosa, dar uma voltinha no pequeno veiculo, aproveitando -se da boa quantidade de neve que aquele inverno rigoroso proporcionava. Ela sabia pilotar, uma vez que seu pai a deixava pilotar quando ambos saiam juntos para passear na mesma velha moto de neve que havia sido trocada pela nova que ele ligava o motor agora.
O tanque estava cheio, o motor ligou -se na primeira tentativa, e ela saiu correndo na neve.
Quando já próxima da floresta, ouviu um uivo de lobo. Então, começou a procurar pelos lobos na floresta. Mas estava difícil, pois não conseguia encontrar pegadas. Logo a frente, parou: ali era a toca de Fewh. Ele desceu da moto e chamou pela raposa, mas Fewh não estava. Continuou em frente. Sabia que dali para a frente avistaria as tocas de lobos.
Então viu pegadas humanas, e não gostou do que viu. Desceu da moto, e apanhou as raquetes de caminhar na neve no porta malas da moto, e amarrou suas botas nelas. Depois de caminhar um pouco, viu um homem forte e mau encarado apontando uma arma para as entradas das tocas de lobos, as quais ficavam muito próximas umas das outras. Ele estava pronto para atirar.
-Hey, moço, não atire nos meus amigos !
O enorme criminoso saiu de seu esconderijo, por trás de uma àrvore.
Os lobos então saíram de suas tocas, rosnando ferozmente. Akilah prontamente saltou à frente da garota para protegê -la, e estava em posição de ataque para Black Joe, com os dentes afiados bem à mostra.
-Então os lobos são seus amigos, não é ? Certo, olha, seus cães estúpidos simplesmente mataram meu pit bull, e eu quero vingança !Alias, quem é você, garotinha ?Saiba que quando eu quero vingança, não fica ninguém vivo para se vingar de mim depois ! Ou meu nome não é Black Joe Metralhadora, o maior bandido que o Canadá já viu !
A metralhadora, apontada para Akilah, brilhou à luz do sol,e o bandido continuou com suas bravatas:
-Sorriam , vocês dois, minha vingança vai começar agora...
Os lobos estavam prontos para atacar, já que eles estavam dispostos a sacrificar as vidas deles por Akilah e Michelle.
Mas tudo aconteceu muito depressa.
Uma mancha vermelha, rápida como um raio apareceu de repente e no momento seguinte , a arma não estava mais nas mãos de Black Joe, apesar de um tiro ter sido disparado.
A mancha vermelha era Fewh, que ao saltar, afundou seus dentes afiados na mão do bandido, perfurando - a de fora a fora, e a dor foi tão intensa que o bandido foi obrigado a soltar a arma, para socorrer a mão ferida, e a arma caiu no chão. Fewh, tão repentinamente quanto apareceu, desapareceu, mas a menina ainda o viu correndo pela neve.
Agora Black Joe estava cercado, sem chances de escapatória, mas a sua surpresa foi maior ainda, quando percebeu que quem estava com a metralhadora na mão era Michelle !
-Garota, devolva a minha arma, ande, isto não é um brinquedo, isto mata de verdade, não é coisa para crianças !
-Nada disto, Joe ! Akilah, não deixe que ele escape! Vou chamar a polícia e volto já !
-Não faça isto, menina!Você não me escutou?Eu sou um bandido!Um serial killer! Se eu te pego,você vai se arrepender,nem imagina o quanto a torturarei antes de matá-la!
-Não me parece que você esteja em posição de me fazer ameaças, seu covarde!Você vai pagar por tudo o que você fez!Por todos os seus crimes! Não duvido que desta vez você seja condenado à morte! Agora, eu poderia matá-lo agora mesmo com sua própria arma ou mandar os lobos te darem uma surra, o que prefere ?
-Não ,pelo amor de Deus!
-Então fique quietinho aí, que a policia já vem !Nem pense em tentar fugir ,ou eu não me responsabilizo pelos lobos!
A garota encaixou a arma no oco de uma arvore, e dirigiu -se à moto de neve.
Mas Black Joe era esperto e oportunista , e notou a oportunidade:
saltou rápido como um relâmpago , agarrou a garota como refém, e alcançou a arma. Dois lobos , sob ordens de Akilah, avançaram nele e morreram fuzilados fulminantemente. O bandido não perdeu tempo, e montou na moto de neve e fugiu à toda a velocidade,com a menina no colo, que se debatia e esperneava com violência tentando escapar.
Akilah, preocupado, comandou a operação de resgate, e iniciou a perseguição à moto.
O veiculo era rápido, mas tinha dificuldade de correr entre as árvores, muito próximas umas das outras. Os lobos logo cercaram a moto e a tangeram para um trecho de neve profunda e pesada, onde a moto tinha dificuldades para ganhar velocidade. Os lobos continuaram conduzindo a moto por um corredor de neve espessa, enquanto eles corriam nos morros laterais, de neve bem mais fina, onde podiam correr bem mais, e , no momento correto, Akilah saltou, e mordeu o pescoço do criminoso, que caiu da moto, que colidiu com um monte de neve muito espesso.
A precisão do ataque do lobo foi absoluta: seus dentes não penetraram nas veias e artérias principais do pescoço, o que teria matado o bandido, e a força muscular aplicada não foi suficiente para quebrar o pescoço do criminoso, mas foi forte o suficiente para arrancar o bandido do veiculo. Black Joe estava agora caído no chão, e Michele também, mas livre dos braços do seu opressor.
Como ambos caíram na neve fofa, ninguém se machucou, mas Black Joe estava com os músculos traseiros do pescoço em frangalhos e estava sangrando considerávelmente, embora nenhuma veia ou artéria importante ou de grosso calibre tivesse sido perfurada. Ele estava cercado pelos lobos de novo, mas agora o cerco era bem mais cerrado. A companheira de Akilah lambeu as faces da menina, que acordou, e a agradou, levantando -se em seguida. Ela então abocanhou a arma e a levou para longe do alcance do bandido, quebrando com sua pata o gelo fino do rio próximo e jogando a arma na água , e a metralhadora foi ao fundo.
Michelle subiu na moto e foi para casa, onde chamou a polícia, que , ao chegar, encontrou o dolorido bandido ainda cercado pelos lobos, e assim que os policiais se aproximaram, os lobos foram embora. Black Joe foi preso e encarcerado, por tentativa de sequestro de menor de idade e fuga da prisão,desta vez em um presídio de segurança máxima. Quando o inverno terminou, as fazendas da região passaram a receber a visita de ecologistas, cientistas e pesquisadores, que iniciaram o trabalho de repovoar a floresta com a fauna nativa, da qual lobos, ursos e raposas, alem de outros animais caçadores , se alimentavam, restabelecendo assim o equilíbrio natural.
Nunca mais o gado e as aves das fazendas foram importunados.
Tudo por causa do intenso trabalho de conscientização que Michelle e sua irmã fizeram, um verdadeiro movimento social promovido por elas, começando através da escola delas, conscientização seus colegas, e os pais de alunos, o que culminou com o movimento dos adultos na câmara de vereadores ate chegar à Prefeitura local. E o projeto comunitário de restauração da natureza local acabou dando resultados e obteve muito sucesso.
Quanto `a Akilah e Fewh, ambos continuavam a proteger-se entre si e salvar-se um ao outro inúmeras vezes.
Como estavam eles agora?
Akilah , com sua loba companheira , formou uma família bem numerosa, com uma bela ninhada de fortes filhotes. Fewh também conquistou sua companheira e agora sua toca também estava repleta de alegres e sadios filhotinhos, seguro e tranqüilo.
Uma bela amizade, forte e duradoura, unia agora, para todo sempre, um lobo e uma raposa , e duas garotas : Akilah e Fewh, Michelle e Jeniffer,os novos guardiães da floresta !
FIM