UM ACORDO ENTRE O GATO E O RATO

Era uma vez um velho gato

Que morava perto do mato

Numa casa toda branquinha

Junto com a velha Mariquinha.

A velha fazia pão, queijo e biscoito

Pra vender, e cada um custava oito

Dinheiros que ela guardava

Numa sacolinha muito alva

No fundo da gaveta do armário.

Um dia, depois do trabalho diário,

A velha dirigiu-se até a cozinha

Pra ver na sacola o quanto tinha,

Pois precisava comprar o recheio

E ficar sem ele ela tinha receio

Senão biscoitos ela não vendia,

Os sem recheio ninguém queria.

Ela abriu a gaveta e pegou a sacola

Deu um grito igual galinha d’Angola:

- Tem rato nesta cozinha, venha aqui

Seu gato malandro cara de sagüi

Veja como ficou meu pobre dinheiro!

Parece que foi alvo dum canhoneiro

Enquanto tu dormes empanturrado

Com a comida, fruto do trabalho suado,

Desta pobre velha sem ninguém por ela.

Este rato delinqüente pegue-o pela goela,

Leve-o pra longe, lá pros confins

Onde o Judas perdeu seus botins.

O velho gato com a ordem ficou perturbado,

Pois estava, há muito tempo, aposentado.

Agora pegar no batente não tinha cabimento,

Mas não podia provocar um desentendimento

Senão iria miar em estranhos telhados

Nas noites geladas de céu estrelado

Sem cama, comida e leite bem quentinho,

Por causa de um infame ratinho.

Então ele chamou o ratinho velhaco

E lhe disse: - doravante nem um naco

Do dinheiro da velha você roerá,

Queijo, bolacha e pão você comerá.

Na casa não poderá entrar nem em sonho!

Esse é o acordo felino que eu proponho,

Levarei todas as noites ao seu porão

De cada alimento uma boa porção

Porque eu não quero mais me cansar

Nem me arriscar a ir morar

No olho da rua por sua causa,

Veja se nessa perturbação dá uma pausa.

O rato aceitou de pronto a proposta,

Pois passar fome ninguém gosta,

E comer sem precisar trabalhar

É tudo que um rato pode desejar.

Passou-se um tempo depois desse dia

Nem sombra do rato se via.

A velha feliz e muito contente

Dizia: - este gato é muito potente,

Com ele rato não tira farinha...

Sumiu com aquele cara de fuinha

Que o meu dinheiro estragou,

Mas caro ele pagou.

O rato, gordo como ele só, no porão

Ria e rolava no pó do chão

Da trapalhada para enganar a senhora

Que ao gato abençoava a toda hora.

E assim, meu lindo netinho,

O gato muito espertinho

Passou seus dias dormindo,

E as noites, ao rato, comida servindo.

10/10/06.