O CACHORRO O GATO E O RATO -*
A fazenda ficava em um vale muito bonito. Os ipês roxos, amarelos e outras tantas árvores floriam e balançavam freneticamente com o reboliço, dos pássaros canoros multicores naquela primavera. Mas acordar com gritos era de mais.
- Zé bento! Zé bento! Zé bentooo!!!
- O que esta acontecendo? Caiu um raio no seu pé.
- Não é nada disso, alem de ter ficado acordado com a correria do gato atrás do rato e do cachorro atrás do gato. É só meu jeito estabanad, desculpe-me se te acordei.
- Tá desculpado, mas não me acordou, só assustou-me. Ficou acordado?
- Pois é, mas deixa pra lá, isso eu te conto depois porque agora estou precisando é de uma vara bem comprida para pegar umas goiabas.
- Eu já estava indo pro curral. Se for só isso que precisa peque no galpão, fica a vontade.
Os dois saíram ao mesmo tempo. Zé bento ao chegar no curral pega um banquinho de uma perna só com um cinturão para prendê-lo a cintura para ordenha.
No galpão Ditinho esboçava um sorriso ao ver a vara firme e comprida.
- Que beleza! Essa deve ter umas três passadas ou mais. Vai dar com sobra.
Saiu cantando feliz da vida e quando passou pelo curral gritou bem alto.
- Obrigadooo!!!
Arrancando um sorriso de Zé bento.
Pois bem a manhã dava vez ao dia. Hábil na ordenha ia cantarolando e enchendo os tambores de leite, e chega Ditinho com um saco cheio de goiabas. Prende um banquinho na cintura, separa uma vaca, olha satisfeito pro Zé bento e começa a ordenhar.
- Não cansou pegando tanta goiaba?
- Mas ainda posso ajudar o amigo.
Foi terminando de falar e chegou Chico viola cantando e tocando. Assim que entra no curral se depara com o saco cheio de goiabas. Faz uma expressão de encantamento.
- Que beleza! Se estiverem gostosas como bonitas devem estar uma delicia. Esta me dando vontade de saboreá-las.
E Ditinho vira-se para ele.
- A goiabeira esta carregada e essas Já estão encomendadas. É pra fazer doce.
E Zé bento querendo atender o amigo.
- Vá lá no galpão e pegue a vara. Têm muitas, todas firmes e fortes.
E Chico viola com ar de preocupação.
- É perigoso! Vai que uma cai nos meus dedos ou a vara os machuca. Como farei para tocar?
E Ditinho desdenhando.
- Perigoso?! Essa é boa! A mimosa ta cheia de leite esperando a vez dela. Ajude-nos ajuda que vou buscar mais pra você.
E Zé bento.
- Tem outro banco ali.
E Chico viola.
- Vocês vão me desculpar, mas as minhas costas doem se me abaixar desse jeito. Nem tô com tanta vontade assim de comer goiaba.
E sai cantarolando enquanto Zé bento e Ditinho caem na risada.
E Chico bento.
- Esse ai não tem jeito.
E Ditinho.
- A mimosa eu ordenho, daqui a pouco.
E Zé bento.
- Não, não! Essa ai é parceirona das antigas. Deixa comigo. E no mais você já me ajudou bastante. Você estava me contando que demorou a dormir.
- O meu cachorro correndo atrás do gato e ele atrás do rato. Uma barulheira terrível.
- Essa briga é muito antiga. Vem desde o tempo que Deus estava arquitetando o mundo.
- Tão antiga assim?
- O gato o rato e o cachorro eles eram amigos. Enquanto O maior de todos os arquitetos ficava ocupado criando as florestas, montanhas, cachoeiras, rios. E tudo mais que existe.
- E as vacas também?
- Claro, mas não só elas. Até os insetos, cobras enfim tudo que existe entre nós.
- É muita coisa! Deve ter dado muito trabalho.
- E nesse tempo Ele não podia se ocupar com brigas. Ainda tava criando, nada era definitivo. Era um tal de arruma ali, ajeita aqui e mexe acula. Cada coisa no seu lugar, era uma trabalheira danada.
- E ficou tudo tão bonito.
- Pois bem. Tava tudo feito, uma belezura danada, mas nos últimos retoques, antes Dele se retirar. Veio o cachorro todo faceiro latindo, brincando e pedindo que lhe desse asas, pois só assim poderia tomar conta de tudo para Ele.
- Imagina uma coisa dessas, se no chão já faz o que faz. Voando então é que ninguém iria dormir.
- Pois não lhe disse que tudo tem seu lugar. Acho que nem Ele iria aquentar o cachorro voando e latindo.
- Ainda bem. Mas e o cachorro? Deve ter ficado muito triste.
- Se o cachorro fosse atendido, Ele teria que atender a todos os bichos como: o elefante, a girafa e os macacos. Viraria uma bagunça no céu, todo mundo voando, não achou certo. Imagina um leão ou um tigre siberiano com asas!
- “Deus que me livre”!
- Foi isso que Ele fez. Livrou-nos dessa fria
- Mas e essa briga desses três?
- Ora essa, Deus não fez tudo em seis dias e descansou no sétimo.
- Foi isso mesmo. Todo mundo descansa vai pra igreja, menos o Chico viola, pra ele todo dia é dia de descanso.
- Mas vamos deixar o Chico de lado. Deixe-me acabar de contar. Se não, acabo esquecendo. No fim do sétimo dia Ele olhou conferindo pra todos os lados se faltava alguma coisa e se preparou pra partir.
- Pra onde será que ele foi?
- Pro paraíso. De lá ele podia ficar observando sua criação.
- Ainda bem que Ele esqueceu do cachorro.
- De jeito nenhum! Ele pegou uma bolsa, sorriu, chamou o gato e o mandou localizar o cachorro dizendo-lhe.
- Vá e leve consigo essa bolsa, nela esta um presente para nosso amigo.
- E partiu! O gato ficou maravilhado com tamanha incumbência e saiu correndo feliz da vida.
- Ainda bem que na correria perdeu a bolsa.
- De jeito nenhum! Era a coisa mais importante de sua vida. Miava em todos os cantos da floresta a procura de seu amigo. Subia e descia montanhas atravessava rios, lagos e pântanos.
- Até pântano!
- Era a maior e mais importante missão de sua vida. Correu tanto que se cansou. Avistou um jequitibá rei, uma arvore muito bonita e com uma sombra refrescante. Parou pra descansar.
Para sua surpresa viu o rato dormindo. Cansado da busca não pensou duas vezes, procurou um cantinho bem confortável, ao lado de seu amigo, e dormiu profundamente.
O rato era preguiçoso. Tava com fome, mas nem assim se virava para conseguir comida. Ficava esperando por um viajante cansado e trazendo comida, assim comeria junto ou suas sobras.
- Preguiçoso! Isso me lembra alguém.
- Pois é, isso já vem de longe.
- Mas continue a estória é boa.
- Pois é, o gato dormiu pesado e o danado do rato levantou bem de mansinho, olhou se tinha alguma sobra e não encontrou nada. Só a bolsa do gato.
- Preguiçoso tem é que ficar com fome! Assim quem sabe não vai atrás de comida.
- O gato acordou ainda um pouco cansado pegou a bolsa e partiu. Depois de muita procura encontrou o cachorro correndo tanto que só faltava asas para voar. O chamou e contou o acontecido e que estava dentro da bolsa um presente de Deus.
O cachorro já se imaginava voando e quando abriu a bolsa só encontrou restos de alguma coisa
Ele ficou tão enfurecido que partiu pra cima do gato exigindo explicações. E esse desesperado, ainda tentava acalmar o amigo, mas ficou tão nervoso que ficou na ponta dos pés e todo arrepiado e o rabo esticado. Tentava explicar, não sabia o que havia acontecido.
Não conseguiu acalmar o amigo e saiu correndo até a arvore pra que o rato desse conta do presente. Mas a briga não terminou, pois o rato vendo a fúria do cachorro atrás do gato, saiu correndo dizendo que não sabia de nada e que só estava com fome e correu. É por isso brigam até hoje. Um persegue o outro.
- E o que tinha na bolsa?
E Zé bento levantou-se rapidamente. Olhou-o com um jeito de suspense.
- Ninguem sabe, é um enigma. O rato roeu.
E Ditinho caiu na rizada.
15/04/10