Pra ser mãe tem que ter um coração de ferro
-Mãe, isso é tudo da gente? Quem foi que mandou? A mãe desorientada com a surpresa, respondeu rapidamente: “ Sim, filho, tudo isso é nosso, e foi Deus quem mandou para nós.” “Oba! Agora a gente ficou rico porque antes a gente estava pobre, né?” A mãe riu.Um riso triste...Pensou na inocência do filho. Pegou as duas sacolas e partiu direto para a cozinha e ali depositou seu abençoado fardo. Daria pra duas semanas e se tivesse cuidado, poderia até esticar pra três. O menino curioso tentava descobrir o que havia dentro das sacolas... Estavam tão inchadinhas que mais pareciam bexigas em festa de aniversário!
“Mãe! Tem biscoito, Todynho,...” Com os olhos arregalados delirava por cada coisa que ia saindo da sacola. “Agora posso levar lanche pra escola!” Dando uma pancada na cabeça, como se lembrasse de algo, exclamou: “ Droga, hoje não tem aula, é a festa dos professores!-emendou: “Mãe, posso comer um Todynho?”
“Agora não, filho, vou esquentar o almoço.” – pegando o fósforo, correu pra geladeira pra tirar a comida e dá uma esquentadinha.
“Mãe, vou dizer pra todo mundo que não estou mais pobre, e que Deus mandou comida pra gente!”
“Filho, Deus sempre atende as nossas orações e sabe daquilo que estamos precisando, mas você só precisa ir para seu quarto e agradecer a Ele pelas bênçãos recebidas. E nunca esqueça...guarde sempre no fundo do coração essa verdade: seja sempre agradecido.”
O menino não sabia, mas aquela mãe passara o dia... Tristonha, procurava um jeito para comprar um presente, mas... Por mais que calculasse não conseguia chegar a um resultado positivo. Percebia pelo semblante do filho que esse aguardava com ansiedade o momento de receber o presente e a todo o momento lembrava sem muita sutileza que aquele dia era um dia muito especial, pois era o dia das crianças.
Na hora do banho, por volta das dezoito horas, o filho com voz apagada e olhos úmidos, chamou a mãe e desabafou: “ Mãe, estou muito triste com a senhora. Todas as crianças ganharam um presente, mas a senhora não me deu nenhuma bolinha de gude.”
“Filho, você sabe que mamãe já lhe deu muitos abraços e beijos pelo seu Dia, e lhe explicou que não tinha condições de comprar um presente para você, mas que quando pudesse iria comprar algo bem bonito... uma grande surpresa.” Disse com voz embargada, consciente que uma criança não entendia o que era passar por momentos difíceis... Não ter nenhuma moeda no bolso... E que há momento que até uma moeda faz uma grande diferença.
“Além disso, diga-me com sinceridade: uma bolinha só de gude seria suficiente?”
“Não! - disse o menino tristonho. “Se fosse pra ganhar bola de gude,eu ia querer um saco bem grande, cheinho até a boca.”
A mãe saiu do quarto, sem dizer nenhuma palavra. Não poderia mesmo se quisesse. Ligou pra uma amiga que tinha uma loja, e contou o que estava acontecendo e que precisava de um presente, isso se ainda houvesse, e foi logo avisando que seria fiado, pois não tinha um tostão. Envergonhada, esperou a resposta. A amiga lhe pediu dez minutos e disse que retornaria a ligação. Nunca dez minutos foram tão longos e sofridos...
Um som de um carro estacionando, um bater de palmas, e o menino entra gritando: “ Mãe, corre, que sua amiga chegou com uma sacola imensa e quer falar com a senhora!”
A amiga sabendo que aquela mãe não estava numa situação confortável, e que só fizera aquela ligação por amor ao filho, decidiu fazer algo além do que fora pedido. A mãe, com sorriso envergonhado, recebe a sacola e pega um carro. O menino ouvindo o barulho da sacola sendo aberta entra na sala e sem pedir licença, abraça a mãe e diz: “ EU SABIA! Eu sabia que a senhora estava preparando uma surpresa pra mim!” Imediatamente, vira-se,sem pedir permissão escolhe o brinquedo mais caro. A mãe embaraçada tenta tirar do filho o presente, mas o menino já dá uma corrida para os cachorros. Queria mostrar pra seus ‘amiguinhos...’
A amiga interrompe a carreira do menino e diz: “ Ah, ainda tem mais! Deixe eu lhe mostrar os outros!” E logo vai tirando do sacolão outros objetos de prazer e diversão: abajur com os peixinhos dourados, um carrão de rodas gigantes, um not book ‘cantador’...
“Quantos presentes! Tudo isso para mim? Esse abajur é aquele que os animais correm? E esse carrão, que massa!” Diz o menino de olhos arregalados. Pega o not book e não sabe o que dizer.
“Sim, são todos seus”. Responde com os olhos umedecidos, enquanto isso a mãe, com uma mão no peito, enxuga uma lágrima solitária. O menino não se contendo, corre para sua mãe e lhe dá um grande abraço.