Vida de cachorro
Essa história nada tem a ver de comum. Na verdade, é bem esquisita. E o pior, aconteceu comigo.
Belo dia, lá estava eu me espreguiçando todo, quando me deparo no piso de uma casinha fedida a cachorro...!!!
Será que tinha bebido tanto assim à noite passada, caído por ali e dormido? Não poderia ser o caso, pois nunca exagero na bebida. E aquele cheiro de cachorro molhado estava revirando o meu estômago. Queria escovar os dentes, tomar um banho, tomar meu café e aproveitar o abençoado fim de semana.
Foi então que eu percebi que eu tinha rabo! Como rabo? Rabo, oras, igual ao de um cachorro. E, antes que eu pudesse enfartar ou surtar, alguém abriu a porta da cozinha, veio até mim, disse-me qualquer coisa como “Oi, amigão!”, e se foi, me deixando ali. Era o meu dono??!!!! Mas quem era eu, afinal? Minha cabeça estava a mil. Entendi, com muita dificuldade, que eu era um cachorro!!!! O que estaria acontecendo comigo? E, por mais que eu me mordesse ou ao meu rabo, não conseguia acordar daquele pesadelo, apenas sentia dor das minhas próprias mordidas. Compreendi naquele momento o que o Spike sente, quando morde o próprio rabo. Vai ver ele também era gente e virou cachorro e, inconformado, tenta acordar do pesadelo mordendo-se. Pobre Spike...! E eu que sempre achei que ele fosse um cão muito burro... Pobre Spike!
E agora? O que comer? Aquele resto de comida, que nem eu mesmo quis comer, quando era humano? Tomar aquela água que está naquele pote que nunca vê limpeza? E esse cheiro insuportável vem de mim...!!! Sou eu que cheira tão mal. Eu raramente dava banho no Spike. Coitado...
O fato é que eu estava morrendo de fome e de sede. O jeito foi comer aquela gororoba e tomar aquela água horrorosa. Fiquei ali, preso ao meu xixi, ao meu cocô e ao meu mau cheiro, chorando sem parar. Ouvi quando meu dono funcionou o carro e saiu, me deixando ali, o dia todo, preso, em meio a toda aquela sujeira. Quando a noite chegou, eu estava tão triste e tão cansado, que dormi um sono pesado, desejando não mais acordar.
- Gabriel, Ô Gabriel, levanta! Você não disse que iria aproveitar a manhã de sábado, para jogar bola com os amigos? Eles já devem estar chegando e você aí, dormindo e resmungando.
Ufa... Foi mesmo um pesadelo. Mas pude perceber tudo de ruim que estava fazendo com o meu companheirão, o Spike. Naquele sábado, ele foi comigo ao campo e jogou bola com todos os que estavam ali. Passamos o final de semana juntos. Dei um belo banho nele, comprei ração de primeira, limpei tudo o que era dele. Nunca mais descuidei do meu amigão Spike.