Sisana & Machadinha em O Vulcão
E NA VÉSPERA da viagem à Holoiram as meninas assistem na TV o anúncio: O Codó finalmente acordara do sono profundo de três mil anos.
O Codó era uma montanha de gelo e neve, agora é fogo e larvas. Cospe fogo intensamente no norte de Holoiram.
Machado acha lindo o espetáculo da natureza. Era o laranja e vermelho sobre o branco da neve, o fogo e brasa sobre a alva película da montanha majestosa, um cenário incomum.
A fumaça sobe ao céu azul e a paz do lugar interrompida por explosões.
O Codó entra em erupção três mil anos depois. De uma montanha majestosa, agora se torna um monstro em fúria.
Machado bem que pensara em cancelar a viagem para a cidade que vive a contemplar aquela maravilha, Selenápolis. Mas e quanto às meninas? Será que compreenderiam?
Não, como previsto, elas não aceitaram o adiamento. E conquanto as autoridades não dessem nenhum aviso, então todos foram dormir para amanhecem n’outro país, o país da magia e do encanto, do suspense e fábulas: Holoiram.
E o avião navegara por horas a fio sobre as nuvens até chegar ao Holoiram. Já do alto pelas janelinhas redondas da nave puderam observar na chegada o monstro fumegando. Mas ainda era um espetáculo.
E logo o Codó logo torna o céu do meio dia, um dia nublado.
E assim, o que seria um passeio, passa a ser um pesadelo. O aviso de alerta é soado às emissoras e também o aeroporto não autoriza os aviões a subir nem pousar. E, contudo, como as meninas já saltaram, elas se contentam em ir para o hotel. Mas o passeio era tudo menos turístico. A cidade estava em alerta. Pessoas querendo fugir do país se aglomeravam em última esperança num aeroporto que estava apinhado de gente.
-Ah, mas quanto amo meu país! – Diz Susana ao seu esposo, demonstrando cedo o quanto é feliz em Roguá.
E diante de um pequeno abalo sísmico, as meninas demonstram o mesmo desejo: o de voltar o mais rápido possível a sua terra. O céu cinzento demonstra que a situação é de caos.
E no hotel não dormem. Ficam atentos as noticias. As passagens são compradas, mas agora são reféns de uma montanha que se enfureceu e ruge de tempos em tempos. Lá se foi o passeio na floresta de Selenápolis. Lá se foi a visita ao castelo da princesa Sara. Não, nem mesmo o astro rei dera as caras num dia de fúria. E assim, se passaram mais sete dias.
Aves não voavam pelo céu de Holoiram, os aviões todos no chão, esperando a calma de Codó. Machadinha vislumbra foto do Codó em quadro no hotel. Machado daria uma nota para quem desvendasse o que ela pensa no momento. Se admira a montanha majestosa ou se maldiz no íntimo o culpado pela interrupção de suas férias.
E o monstro não volta a dormir. Continua a cospir fogo como o homem no circo finge comer as chamas. E há ainda aqueles que como Machado, admira as forças da natureza, como o leão, como o vulcão, as coisas fortes da vida como o amor e a morte, coisas que são inexoráveis...
E admira as crianças a brincar no saguão do hotel e nos salões do aeroporto, adultos dormindo sobre malas e malotes, submissos ao Codó.
E as meninas fazem novas amizades, sim, indiferentes ao estado caótico da cidade, ainda há os pregadores do fim do mundo, gritando pelas ruas, fazem a propaganda de Codó.
As meninas são de várias partes do mundo e as crianças são entretidas. Mas Machadinha pergunta quem é Codó que lhe impede de ser feliz. Pergunta se pode ir lá lhe dar umas tapas.
Mas a mãe pede calma e diz que tudo ficará bem.
Outro tremor balança os lustres do saguão. As meninas correm sorrindo como em brincadeiras de pique. Há fumaça no horizonte, há fumaça negra e há fumaça branca saindo das neves.
Nas capas dos jornais, o destaque da cidade paralisada. O governo tranqüiliza informando que a cidade está a salvo.
E assim se passaram dias, sim, dias para que as meninas refletissem na natureza que embora bela, também tem seus dias de fúria.
Numa bela manhã de domingo em Selenápolis a montanha amanhece dormindo e com sono sereno, permite a vida fluir novamente. Sisana e Machadinha retornam à Roguá e logo ajuntarão terra para criar o seu vulcão.