Pé-de-Moleque
Era bem velhinha... minha bisavó.
Para lá dos noventa anos.
Pele enrugada, branquinha, tinha os cabelos mais lisos, que eu já vi.
Seus olhos cansados sorriam para a vida com uma meiguice que faziacom que nós a amassemos mesmo sem muitas vezes nos dar conta. Estávamos sempre por lá para poder ouvir suas histórias e, também para comer o “pé-de-moleque” que ela fazia como ninguém, feito de mandioca, ovos e manteiga “da boa” e temperado com cravo-do-reino. Os bolos eram desenhados e tinham o que do amor, cada um de nós recebia o seu em forma da primeira letra do nome. O A, o J, o E, o B, o S, o I. Engraçado é que ela conseguia a proeza e todos pareciam do mesmo tamanho. Eram feitos na palha da banana e assado em tacho de ferro no enorme fogão a lenha. Havia sempre achas de lenhas na cozinha, empilhadas em um canto. No fogão uma chaleira de ferro tinha sempre café quente, torrado em casa e pilado no velho pilão de madeira.
Muitas vezes aparecia alguns bisnetos emprestados e ai o abecedário se estendia.
A festa era sempre garantida. Nas tardes chuvosas onde os pés-de- moleque tornavam-se bolinhos de chuvas e as histórias tinham sabor de inverno, o fogo aceso nos dava a sensação de que a cozinha era o melhor lugar do mundo.
Mundo que na verdade não conhecíamos. Só existia a casa da bisa, a venda de Seu Malaquias, a bica onde íamos buscar água, a casa de farinha e a escolinha onde passávamos a parte chata do dia.
As músicas que escutávamos eram as que o avô cantava, na verdade nem sei se alguma tem partitura ou se algum cantor gravou. Rádio era coisa prá adulto e pessoas ricas. Mas isso não tinha a menor importância. Existia o pião, a pipa, a bola de meia, as bonecas de pano, os cozinhados para as bonecas, o esconde, esconde, o onde está o anel, e muitas outras.
As noites eram cheias de risos. Corríamos rua acima, rua abaixo “no barra bandeira” ou “pega grilo”. Quem está atrás? Ficávamos cansados e dormíamos como anjos para acordar ao raiar do dia, comer “cuscuz bondade” e ir à escola.
Era bem velhinha... minha bisavó.
Para lá dos noventa anos.
Pele enrugada, branquinha, tinha os cabelos mais lisos, que eu já vi.
Seus olhos cansados sorriam para a vida com uma meiguice que faziacom que nós a amassemos mesmo sem muitas vezes nos dar conta. Estávamos sempre por lá para poder ouvir suas histórias e, também para comer o “pé-de-moleque” que ela fazia como ninguém, feito de mandioca, ovos e manteiga “da boa” e temperado com cravo-do-reino. Os bolos eram desenhados e tinham o que do amor, cada um de nós recebia o seu em forma da primeira letra do nome. O A, o J, o E, o B, o S, o I. Engraçado é que ela conseguia a proeza e todos pareciam do mesmo tamanho. Eram feitos na palha da banana e assado em tacho de ferro no enorme fogão a lenha. Havia sempre achas de lenhas na cozinha, empilhadas em um canto. No fogão uma chaleira de ferro tinha sempre café quente, torrado em casa e pilado no velho pilão de madeira.
Muitas vezes aparecia alguns bisnetos emprestados e ai o abecedário se estendia.
A festa era sempre garantida. Nas tardes chuvosas onde os pés-de- moleque tornavam-se bolinhos de chuvas e as histórias tinham sabor de inverno, o fogo aceso nos dava a sensação de que a cozinha era o melhor lugar do mundo.
Mundo que na verdade não conhecíamos. Só existia a casa da bisa, a venda de Seu Malaquias, a bica onde íamos buscar água, a casa de farinha e a escolinha onde passávamos a parte chata do dia.
As músicas que escutávamos eram as que o avô cantava, na verdade nem sei se alguma tem partitura ou se algum cantor gravou. Rádio era coisa prá adulto e pessoas ricas. Mas isso não tinha a menor importância. Existia o pião, a pipa, a bola de meia, as bonecas de pano, os cozinhados para as bonecas, o esconde, esconde, o onde está o anel, e muitas outras.
As noites eram cheias de risos. Corríamos rua acima, rua abaixo “no barra bandeira” ou “pega grilo”. Quem está atrás? Ficávamos cansados e dormíamos como anjos para acordar ao raiar do dia, comer “cuscuz bondade” e ir à escola.