Na próxima quinta-feira, outras virão!
- Vamos está na hora, preparem-se. Você a menor de todas, esconda-se atrás da gordinha.
- Tudo bem, obrigada!
- Quem for agora, não se preocupe, nem se desespere, pense: "todas nós iremos".
- Você é otimista.
Dei um pequeno sorriso, e hoje foi a vez da mais gordinha.
- Que pena, eu gostava dela.
- É mesmo, ela era alegre e divertida.
- Tudo bem garotas, agora temos a tarde toda para descansar e pensar nas outras que virão e nos parentes que deixamos em algum lugar.
- Vamos falar sobre o que?
- Que tal falarmos da gordinha, vou sentir saudades, mesmo sabendo que posso ser a próxima.
- Não fique assim, é nosso dever, é por isso que servimos.
- Você é a chefe, esclarecida, confiante, acho que vai ser a última.
- Eu não me importo com isso, é que quando chegamos juntas observei e vi que metade estava com medo, outras assustadas, nós somos importantes. É assim que eu penso.
A tardinha, o nervosismo voltava. Desta vez foram levadas duas, a menor de todas e a mais medrosa.
- Elas foram juntas, assim uma consola a outra.
No canto, uma chorava: - a mais novinha de todas, a nossa mascotinha, eu gostava tanto dela.
Passei aquela noite inteira meditando sobre nossas breves vidas. Amanhã será outro dia, mais uma irá e depois mais outra, até ... outras chegarem.
O dia amanheceu incoberto com uma fina garoa. Desta vez a escolhida foi eu. Gritei:
- Não se preocupem, acalmem-se vocês duas. Hoje a noite é dia de pizza e ela não fará o jantar. Amanhã é quinta-feira e outras virão. Fiquem embaixo, no canto e atrás, assim vocês vão ter outras amigas, adeus.
E lá se foi, aquela jovem cebola pra ser descascada e picada para o almoço das crianças que estão para chegar da escola.
Na manhã seguinte de quinta-feira mais um quilo de cebolas foi comprado e agrupado com as duas que sobraram da semana passada.
" Eu escrevi este texto em 1981, para Literatura Infantil no curso de Magistério. Há inúmeras formas de se trabalhar com ele, desde o suspense que causa, até a criação de outros e mais outros. Deve estar lá no arquivo do Colégio, dentre outros que foram escolhidos na época." Resolvi colocar aqui porque li uma poesia de "Pablo Neruda" - Oda a la cebolla" e me lembrei deste meu".