UMA FLORESTA DESENCANTADA
Era uma vez uma floresta
Cheia de magias e encantos
Que, misteriosamente, passou
Por maldições e desencantos.
E tudo teve início
Quando o astro Sol
Ignorou o tempo
E atrasou o arrebol.
Daí por diante
Tudo ali deu errado:
Voltou a ser um sapo
O Príncipe Encantado,
E o seu cavalo branco
Em mula se transformou,
Saiu em disparada
E numa pedra tropeçou,
Caiu de cara no chão
E de dores se contorceu,
Pois quebrou o pescoço
E sua cabeça perdeu.
- Uma coisa preciso falar
Antes que eu me esqueça:
Hoje o cavalo é chamado
De Mula Sem Cabeça!...-
E os mistérios daquela noite
Não pararam por aí:
Outra vítima das tragédias
Foi o moleque Saci.
Ele, inexplicavelmente,
Um acidente sofreu
Numa roda de capoeira
E uma perna perdeu.
Outro fato muito estranho
Vou contar-lhes agora,
Aconteceu no meio da noite
Com o indígena Caipora:
O rapaz de cabelos ruivos
Foi dormir, como sempre faz,
E ao acordar pela manhã
Seus pés estavam para trás.
Mas isso não lhe foi tão ruim,
Pois tem lá os seus valores:
Ele usa sua deficiência
Para despistar os caçadores
Que vendo suas pegadas
Saem à caça do danadinho,
Mas na hora de regressarem
Não encontram o caminho.
E nem mesmo os mortais
Escaparam da maldição
Que se espalhou pela floresta
Em meio à escuridão.
Vejam só o que aconteceu
Com quem só quis ajudar
Os seres encantados
Que viviam naquele lugar:
O poeta destes versos,
Que de todos sente dó,
Também foi afetado
E hoje tem um olho só.
Mas nem este fato
O deixou triste e aflito,
Pois tudo isso é lenda
E toda lenda vira mito.