O CAMPO DAS ROSAS
Era noite e dona Lua pintava de ouro pálido a água do rio quando passou um veloz barquinho feito de casca de noz. Dentro dele vinha, sentada numa almofada de veludo cor do céu, a bela fada Tilim. Um batalhão de gnomos a seguia. Para onde iam? Eles se dirigiam a Terra das Flores para o festival que acontecia todos os anos. A fada Tilim era a convidada de honra para esse perfumado evento.
Ao chegar à Terra das Flores, uma terra imensa com muito verde, a fada Tilim ficou espantada com a tristeza. Cravos choravam, margaridas gritavam, lírios cobriam-se de cor cinza em sinal de protesto. Afinal, a Terra das Flores mais parecia a Terra da Tristeza. A fada Tilim quis saber qual o fato gerador de tanta tristeza. Perguntou aos colibris, às violetas, às orquídeas, aos sabiás. Qual nada! Ninguém tinha condições de explicar tal era a aflição, a desilusão. A fada, caminhando ligeirinha, apressava seu exército de gnomos.
- Vamos gente! Vamos em frente para descobrir o que houve.
E todos foram entrando mata adentro seguidos por milhões de tristes libélulas prateadas. A fada reparou que não havia perfume, só um cheiro que ela não podia definir. Foram em direção ao campo da rosas. O campo das rosas era o preferido de Tilim. Ao chegarem, a fada e seu exército, entenderam o motivo do desespero das flores. O campo das rosas estava devastado. Tudo ao seu redor fora cortado e arrumado em pilhas, mas as rosas jaziam no chão pisoteadas, massacradas. A fada Tilim sentou-se no tronco de uma árvore sacrificada e chorou. Foi nesse instante que o gnomo, guardião daquela terra, aproximou-se e disse:
- Minha fadinha, eu não pude fazer nada. Não sei como enfrentar os monstros. Eles são gigantes e têm armas barulhentas e perigosas. Vão cortando tudo, pisoteando tudo sem se importarem com as flores, os animais e as aves.
Foi nesse momento que o lírio, antes branco, agora cinzento, completou:
- Por causa desse triste acontecimento é que foi cancelado o Festival das Flores.
Enxugando os olhos, Tilim exclamou:
- Teremos o festival, sim!
Encaminhando-se para a gruta onde os gnomos guardavam a lâmpada mágica, uma enorme e translúcida pérola recolhida das profundezas do mar e que iluminava quilômetros e quilômetros de distância, Tilim chegou e, antes de entrar, trocou seus sapatinhos de cetim por um de cristal puríssimo. Dentro da gruta, ouviram-se sons de cristais cantantes e de pequenos sinos badalando. Curvando-se diante da lâmpada mágica, Tilim fez sinais de magia elevando a grande pérola que foi se encaminhando para a saída da gruta. Do lado de fora minúsculas fadinhas, da mesma cor da lâmpada, cantavam e faziam gestos com as mãos como a dizer: “vem, vem...”
Já do lado de fora, a lâmpada mágica, não parecia pesada. Ela começou a flutuar seguida pela fada Tilim. Tudo ficou claro. Aquela luz irisada ia passando por cima das árvores e restaurando tudo que foi destruído. O silêncio dos rios, que corriam entre as montanhas, desapareceu dando lugar a um canto de alegria das águas correndo para o mar. Sabiás, canários, pintassilgos, enfim, todos os pássaros voltaram a voar e cantar como antes. Mansamente um caracol se arrastava no tapete de relva verde que revestia o chão indo para onde só ele sabia. No horizonte o sol sorria aquecendo a Terra das Flores.
Ao se aproximar do campo das rosas, a pérola mágica parou. Tilim desceu suavemente e tocou com os pés o chão devastado. Com lágrimas nos olhos recolhia as rosas pisoteadas, amassadas, e as elevava para a luz para que revivessem. As rosas voltaram a ter a cor e o perfume perdidos. E o campo foi se transformando sob a luz da lâmpada mágica. Toda a Terra das Flores foi restaurada e iluminada. O lírio voltou a ser branco novamente do jeitinho que Deus o criou. O cheiro das flores voltou mais forte impregnando a mata toda. A alegria voltou intensa. O festival das flores foi realizado, graças ao amor de Tilim, que ao final, sentada em sua almofada de veludo cor do céu, ouviu de um sabiá as seguintes palavras:
“Junto de revivida roseira
Uma pequena fada restaura
A infinita grandeza
Da criação do Senhor Deus.
Beijando cada folha, cada pétala,
Voando de flor em flor
Esta fada da restauração,
Com amor no seu coração,
Refez a obra divina...”
Quem dera Tilim fosse real
E colocasse em cada mente:
Quem o verde destrói
O fim do planeta constrói.
A natureza não pertence
Aos humanos que não sentem
Amor e respeito por ela.
17/07/10
(histórias que contava para o meu neto)