O SOLDADINHO E O PEIXE GULOSO
(um outro jeito de contar a mesma história)
O dia está bem cinzento. A chuva ameaça a pequena cidade. Cai pesada sobre os telhados e lava a rua sem sequer um pedaço de sabão.
O menino olha através da vidraça partida. Respira o sopro do vento que ainda não foi. Vê por fim, que a grossa chuva agora é fina, quase nada.
Desce as escadas do casarão e coloca seu soldadinho de chumbo predileto num barquinho de papel confeccionado para ser experimentado num dia como este. Ele irá navegar nas águas que se juntaram na chuva e correm agora junto à calçada. Uma aventura e tanto! Mas o que acontece?
O barquinho sai mais rápido que o vento, não faz a curva direito e cai dentro de um bueiro, na esquina. Mas não vai sozinho, não! Leva consigo o pobre soldadinho. O menino tenta salvá-lo desesperadamente, mas não consegue. Volta para casa todo arranhado e de mãos vazias.
No entanto, a aventura do soldadinho continua com a correnteza. Depois de muitos sustos nos túneis do esgoto, o soldadinho vê novamente a luz e chega ao mar. Pensa estar em segurança ao ar livre e sob a guarda do sol.
Puro engano. No primeiro respiro é engolido por um grande peixe guloso.
No entanto, este peixe também não teve sorte. De barriga cheia e feliz é pescado e vendido muito barato no mercado. Quem o compra? A mãe do menino, dono do soldadinho, é claro! Pobre destino do soldadinho! Pobre destino do peixe guloso!
Ao cortar a barriga do peixe, a mãe do menino exclama ao ver surgir o homenzinho de chumbo!
OH! Sorte do soldadinho
que cai na boca
do peixe guloso
pescado no mar,
vendido barato,
servido no jantar
na casa do menino
que só queria ver
seu brinquedo navegar.
Que sorte danada!
O peixe é comprado
pela mãe do menino,
dono do soldadinho.
Que sorte danada!
O soldadinho está vivo
na barriga do peixe
que morava no mar.
Que sorte danada!
O peixe guloso
não mora mais do mar.
É temperado
e servido no jantar.
Que sorte danada!
Que sorte danada...
O soldadinho
está curado
e o peixe
não está estragado.
Que sorte danada!
O menino sorriu
Nasceu de novo
O pequeno amigo
Que caiu no bueiro
e sumiu...
Amigo soldado
de corpo de chumbo
e coração de algodão
Que sorte danada!
O soldadinho
só teve a perna esfolada
e a farda molhada!
Que sorte danada!
(outro jeito de contar: uma adaptação do conto de Hans Christian Andersen)