" A ÁRVORE SÁBIA"

  A beira da estrada poeirenta e pedregosa erguiam-se elegantes árvores. Havia, porém, uma árvore torta, feia, quase nua de folhas. Era então desprezada pelas companheiras, que a julgavam como uma intrusa entre elas e certo dia começaram provocá-la:
- Óh! árvore feia tem a maldição, pois, seu tronco é curvado como um homem corcunda e não produz sombra e nem frutos, como se fosse um poste de rua.
- Maldita ou não eu existo como todas vocês, tenho também o privilégio da vida, sendo assim estamos em igualdade.
   Mas as outras árvores replicaram:
-  Vive de teimosa e atrevida. Quando o vento lhe sacode ao invés de firmar suas raízes na terra, deveria deixar-se cair pesadamente ao chão, para por um fim nessa sua vida inútil.
 - Inúteis são suas palavras, que embora tenham a maléfica intenção de me destruir, não conseguem modificar nem pouquinho o meu ponto de vista. Sou o que sou.
- Você é louca e repugnante, causa de escândalo entre nós. Todas nós vestimo-nos de folhas frescas e viçosas, de flores perfumadas e de frutos saborosos. Somos ricas, somos poderosas, somos benquistas por todos, por nossos dotes. Enquanto que você se apresenta quase que completamente despida de folhas, com flores escassas e frutos miúdos. Você é pobre e não deve ocupar um lugar entre nós.
- Primeiramente me apontem em que nos diferenciamos? Todas nós temos raízes, caule, folhas, flores e frutos, crescemos todas para cima, pois, apesar da minha curvatura não sou um  pé de abóbora que cresce no chão. Sou árvore e como tal tenho minhas características de árvore e quando os homens passam por nós, reconhecem-nos como árvores e não como um musgo ou um ser animal. Sou feia, sou pobre, mas sou árvore por essência e isso é o que importa. Tenho direito à vida tanto quanto vocês.
- Você é simplesmente convencida e pretensiosa querendo igualar-se a nós.
- Eu disse somente a verdade inegável, pois, se negarem que sou uma árvore, como poderão afirmar que são árvores?  Todas nós somos árvores ou não somos...
   E as árvores belas responderam:
- Com sua teimosia demonstra apenas sua estupidez, mas não pode acrescentar-lhe uma só folha.
- Agora estão com razão, realmente não podemos aumentar-nos sequer uma folha, porque somos dependentes de um Ser superior. Um dia saberão que digo a verdade. Chegará o tempo  em que todas nós perderemos a vida e não adiantará toda a beleza e riqueza de que se orgulham. A vaidade nada vale, mais cedo ou mais tarde extinguiremos.
  Vendo a impassibilidade da árvore feia, as árvores belas desistiram de provocá-la, mas continuaram desprezando-a.
  Os dias passavam calmos naquele recanto. As belas árvores sempre arrogantes e impiedosas e a  árvore feia também permanecia firme em sua opinião.
  Certa tarde de verão, o céu cobriu-se de negro e soprou um vento com tamanha intensidade naquela região, que nenhuma árvore resistiu ficar em pé e vergaram-se e de um momento para o outro se viram sem folhas e frutos, ficando idênticas à árvore feia.
  Horrorizadas olharam-se entre si numa amarga interrogação:- Onde estão os nossos dotes? A que estamos reduzidas!!!
  E então a voz sempre segura da árvore feia ecoou com poder.
- Pobres árvores belas, onde estão os seus dotes? A que se reduziram? Estão curvadas, nuas e feias, assim como sou. Não puderam com suas teimosias segurar uma folha sequer e agora lhes pergunto, se com toda a pobreza e feiúra em que se encontram, por acaso deixaram de ser árvores?
  As árvores orgulhosas não tiveram outra saída senão responderem:
- Embora estejamos neste estado, somos árvores por essência.
- Compreenderam agora minhas palavras e minhas afirmações?
- Compreendemos. Assim como compreendemos que nunca foste louca. Loucas éramos nós que não aceitávamos suas sábias palavras.
   E desde então todas as árvores não mais viram  entre elas uma árvore feia e pobre, mas sim uma árvore sábia.