A CHUVA E A LÁGRIMA
Eu levava Olívia para a escola em um dia desses, de chuva forte, frio inexplicável do falso inverno carioca.
Como de costume, deveria estacionar e acompanhá-la à fila até a sua entrada em sala de aula, mas a chuva apertava e eu presumia que não conseguiria estacionar a tempo para que não se atrasasse.
Combinei durante o percurso:
- Olívia, quando chegarmos, provavelmente terei que procurar uma vaga. Para você não perder tempo, a deixarei na porta do colégio com o inspetor e tentarei estacionar o carro, ok?
Olívia concordou com um "hum-hum" e ficou pensativa, aquela coisa melindrosa, carinha com biquinho que eu conheço muito bem, há seis anos.
Ao chegarmos à escola, tentei fazê-la cumprir o combinado, mas ela me pediu:
- Ah, vamos procurar uma vaga...
- Mas, você vai se atrasar!!
- Mas, eu quero ficar mais um pouco com você.
Enquanto falávamos, passei da entrada, um carro buzinou atrás, olhei pelo retrovisor, fiz um sonoro muxoxo, passei da pequena vaga e fiquei danada da vida.
- Puxa, boneca, você precisa aprender a entrar na escola sozinha. Outras crianças fazem isso! Você não pode ficar sempre grudada em mim, precisa aprender a fazer algumas coisas sozinha! E se eu morresse? - lancei a frase em tom exagerado - E quando eu não estiver mais aqui?
Daí, veio a resposta que me desarmou:
- Puxa! Então... Quero aproveitar!!
Desceu uma lágrima...
Calei-me! Senti vergonha do que disse...
Demos outra volta no quarteirão em silêncio, estacionamos, descemos do carro.
Ela me olhou com um sorriso e, abraçadas, entramos na escola.