As Ostras Gigantes do Rio Poruba
Era um final de tarde. O dia era especial, pois acabava de
aparecer um arco-íris, formado pela chuva fina
junto ao sol. Dizem que o aparecimento de
arco-íris quer dizer sorte, neste caso
queria dizer mesmo.
Vovô Braulino, sentado à beira da varanda, em
sua cadeira modesta começou a contar mais uma
história ocorrida nas terras de Yperoig:
A aldeia de Yperoig, liderada pelo
cacique Caaokira, enfrentava dias difíceis.
Com a chegada do homem branco em suas caravelas
até os animais fugiram de medo.
Assim os índios guerreiros tiveram que
procurar na mata e no mar outras formas de
alimentação: verduras, frutas, raízes e frutos
marinhos.
Naqueles últimos meses de janeiro chovia sem
parar e a aldeia não tinha como se abastecer de
alimento. Então o cacique Caaokira pediu ao pajé
da tribo que tivesse uma previsão do futuro da
aldeia, onde todos os índios já encontravam-se
fracos e alguns até doentes.
O pajé, recebendo a ordem, recolheu-se durante dias
numa das choças ficando lá sozinho somente
tomando seus preparos de ervas especiais. Três
dias depois ele apareceu dizendo: “- Daqui a uma
semana e um dia, logo depois de uma chuva fina,
aparecerá o sol e junto com ele um sinal do céu,
este deve ser seguido. Ao final dele, estará o mais
rico dos alimentos que salvará a aldeia.”
Caaokira não teve dúvidas e preparou seus
mais bravos homens para o grande
dia! Passados uma semana e um dia tudo acontecia
exatamente como o previsto pelo respeitado pajé.
Depois da chuva fina veio o sol, logo seguido pelo
mais belo e colorido arco-íris: era o sinal!
Os bravos índios não tiveram dúvidas e,
em suas canoas de nome Maria Comprida feita com a madeira do ubá,
seguiam em direção do arco-íris que terminava na costeira da praia do Puruba.
Lá chegando, o arco-íris desapareceu...
Olharam, olharam e nada encontraram.
Apenas costeira, mar, o rio negro do
Puruba, a bela praia e a vegetação da
Mata Atlântica, quase todos desistiram, menos um
índio, Ubiratã .
Ele era conhecido por sua persistência,
ousadia e fé. Todos diziam:
“- Este já nasceu guerreiro!”.
Lá ele ficou sozinho e pensando:
“Se o pajé disse que estava por aqui o alimento
que vai salvar a aldeia, eu hei de encontrá-lo!”
Procurou por todos os lugares incessantemente e
já exausto e bem desanimado resolveu dar um
mergulho para refrescar a cabeça e continuar a
busca.
Foi quando milagrosamente avistou no fundo do
mar junto à costeira as Ostras Gingantes do
Puruba! Sua felicidade foi tanta que não perdeu tempo.
Foi logo tirando a ostra que pesava quase
1kg e a levou até a aldeia e chamou seus amigos, enchendo as canoas com o precioso alimento.
Mas sempre com a sabedoria de não acabar com
todas para que pudessem fazer a colheita no
próximo ano. E assim foi durante muito tempo.
Vovô Braulino diz que somente os homens que
persistem naquilo que acreditam vencem na vida e
que os homens que trazem consigo a ganância e
querem tudo de uma só vez nada têm. E foi porque
havia homens assim nas terras de Yperoig que as
Ostras Gigantes do Rio Puruba não existem mais.