Uma gruta triste nas terras de Yperoig, chora...
Um dia ensolarado! Daqueles de céu azul, sem uma nuvenzinha sequer, deixando todos habitantes das terras de Yperoig mais do que felizes. Logo a bruxinha Brisa estava voando pelos céus de norte a sul. Dando cambalhotas, zigue-zagues, rindo, rindo... Contemplando mais um dia! Quando, de repente, passou pela praia da Sununga e percebeu o mar bravo...
Tão bravo que formavam pirâmides. Assustada ela voou lentamente e percebeu na praia uma Gruta que se punha a chorar. Brisa teve vontade de ir lá perguntar o que estava acontecendo, mas ficou com medo do mar que parecia perigoso e bem irritado!
Então, resolveu ir visitar seu amigo, o vovô Braulino na Praia do Perequê-Mirim, era perto mesmo! Com certeza ele teria alguma explicação. Pois ela aprendeu logo cedo que quando sentia dúvidas, ou medo, o melhor era perguntar ou pedir proteção a alguém mais velho, eles sempre sabem como ajudar.
Voou rapidinho até lá e encontrou vovô Braulino plantando em seu quintal mudas de: cajueiros, jacas, limoeiros, fruta-pão e uma infinidade de outras árvores. Afobada, e um tanto assustada, logo foi pedindo ao vovô uma explicação: - Vovô, porque que a gruta está chorando?
Ele sempre muito atencioso, sentou-se na varanda e começou falar:
“Segundo contam os antigos habitantes de Yperoig, na vila ali perto, morava Iracema, uma jovem com seus 15 anos. Ela começou a namorar escondida um homem misterioso...
Ele entrava no quarto dela todas as noites, sem ninguém ver. Com o tempo, sua mãe começou a desconfiar. Uma noite, o pai ficou de plantão na janela da moça, ouvindo conversas vindas do quarto.
Quando o moço saiu, o pai o seguiu. Para sua surpresa, ele foi em direção da gruta que fica do lado esquerdo da praia da Sununga, transformando-se em um monstro com cabeça de Dragão e corpo de Serpente!! Desesperado, foi imediatamente buscar o Frei Bartolomeu que estava aqui em comemoração ao centenário do Padre José de Anchieta.
O frei chamou toda a comunidade até a porta da gruta. Expulsando com água benta aquele tão horrível monstro! Que entrou no mar sem nunca mais voltar. Foi uma cena horrível! Iracema gostava muito dele e foi para gruta e lá ficou meses e meses, até morrer, e quem chora todas as vezes que ouve vozes, é o seu espírito acreditando ser seu amado retornando para buscá-la.
Pobre Iracema; pois quem sempre retorna são os visitantes em busca de suas lágrimas, que acreditam estar misturadas com a água benta deixada pelo frei Bartolomeu”
- E por que o mar forma pirâmides?, perguntou Brisa curiosa.
- São os dias que Iracema fica mais triste e revoltada por terem separado ela da pessoa que mais amava. Quando ela percebe que quem está por perto são visitantes e não o seu amado ela fica brava e sopra o mar formando pirâmides pra ninguém ficar lá. Mas com o passar dos dias ela se acalma e tudo volta ao normal.
Brisa em seus pensamentos entendia muito bem aquele sentimento de Iracema. Pois ela era uma bruxinha sozinha no mundo!
Perdeu seus parentes muito cedo, mas nem por isso deixava de ser feliz e fazer novos amigos espalhando amor por onde quer que passe. E comentou com vovô: - Logo ela fica feliz, né? Como eu.
E vovô Braulino respondeu: - É, pequena Brisa, o tempo é o sábio dos sábios e também a cura de tudo, e um dia Iracema vai deixar de chorar.
Então Brisa partiu mais uma vez toda feliz. Aproveitando o dia ensolarado e prometendo ao vovô que sempre que pudesse daria uma passadinha na praia da Sununga para visitar o espírito de Iracema, que no verão se transforma em uma rara bromélia de pêndulos vermelhos enfeitando a entrada da gruta.