FÁBULA - O CARACOL E A BORBOLETA
 
     Entre a folhagem tenra e úmida do canteiro de uma praça, deslizava lentamente um caracol deixando atrás de si um rastro brilhoso.
     Sobre as folhas e flores uma linda borboleta bailava com toda a sua leveza e graciosidade.
     De repente sem perceber pousou em cima do caracol.
     O bichinho irritou-se e com um tom grave de voz disse à borboleta:
     - Com que direito senta sobre mim e minha casa?
     Descendo ao chão a borboleta responde:
     - Desculpe-me, eu nem notei que você estava aí.
     O caracol irritou-se ainda mais achando que a borboleta julgava-o insignificante, e continuou:
     - Pois devia reparar no que lhe rodeia e dar o devido respeito aos outros.
     - Olha senhor caracol, agora eu que estou zangada. Não tive a intenção de ofendê-lo, mas já que está ofendido, então vou dizer-lhe umas verdades.
     Interrompeu o caracol:
     - Já sei, vai me dizer que é superior a mim só porque tem duas vidas, uma na terra e outra no ar!
     - Exatamente senhor caracol. Eu também já fui um bicho asqueroso semelhante a você, mas felizmente passei pela metamorfose e hoje sou esta linda borboleta que está a sua frente.
     O caracol replicou:
      - Se você se considera privilegiada porque agora tem asas, eu também me sinto privilegiado porque tenho minha casa e quando resolvo repousar-me basta encolher-me dentro dela!
     A borboleta prosseguiu:
     - Acha que isso me causa inveja? Que bobagem! Pra que vou querer uma casinha minúscula e ridícula como a sua, se minhas asas me levam aonde eu quiser e se tenho todo o espaço da terra para voar?
     O caracol já estava farto daquele blá-blá-blá e gritou:
     - Pois então porque está perdendo o seu tempo aqui no chão? Agite logo essas asas desengonçadas e desapareça daqui do meu espaço.
     - Seu espaço uma vírgula, nosso espaço. Se você tem o direito de ficar aqui o tempo todo, eu também tenho o direito de voar e de pousar em qualquer lugar.
     - Em qualquer lugar duas vírgulas; nas costas dos outros não.
     - Eu já lhe pedi desculpas, já disse que foi sem querer, o que mais quer que eu faça?
     - Que desapareça daqui, neste minuto.
     - Está bem senhor caracol eu vou, fique aí na sua área restrita, porque eu tenho o infinito para voar.
     O caracol desmanchou a carranca e disse com voz branda:
     - Olha graciosa borboleta agora eu que lhe peço desculpas. Você tem a sua vida e eu tenho a minha. Sou feliz como sou, porque tenho a vida digna de um caracol e meu destino é rastejar e você tem a propriedade de voar.
     Cada um é do jeito que o Criador criou e cada qual tem o direito de ter a vida e o espaço que lhe cabe, aceitando as próprias limitações.
     E assim o caracol e a borboleta fizeram as pazes.

     MORAL DA HISTÓRIA:
     DEVEMOS RESPEITAR AS DIFERENÇAS E OS LIMITES DE CADA UM