O início do mundo
Um dia vovô Braulino saiu para puxar
picaré na praia da Enseada como de costume.
Ele foi com o Tio Jovelino, pois para
puxar o picaré era preciso duas pessoas. A rede
de malhas finas tinha madeiras roliças nas pontas. Assim um homem
segurava no raso e o outro ia caminhando pelo mar puxando de
vagarzinho, fazendo um cerco.
Capturando um amontoado de peixes de diversas espécies:
Paratis, Tainhas, Sargos e tantos outros que faziam
parte das refeições dos caiçaras, moradores à beira-mar.
Logo após a pescaria, tio Jovelino colocou todo o
pescado no samburá - cesto de palha - e tratou de
levá-los logo embora para que vovó Maria pudesse consertar o peixe, ou seja, limpá-lo e distribuir para toda a família.
Vovô Braulino ficou mais um pouco.
Caminhou até o lado esquerdo da praia, quando
percebeu a presença da bruxinha Brisa. Toda
tristonha, estava sentada desajeitadamente em uma
pedra da costeira com lágrimas nos olhos.
Vovô Braulino, todo preocupado,
foi logo perguntando o que a deixara daquele jeito.
Ela, tímida, foi falando aos poucos, em
meio de soluços, que não agüentava mais ser
tão desastrada! Tudo que fazia parecia ser errado,
mesmo quando tentava acertar. Sempre
tropeçava em alguma coisa, derrubava leite na
mesa ou caía tudo por onde passava.
Vovô muito paciente disse: - Vou lhe contar a
história do início do mundo! Foi aqui mesmo,
nas terras de Iperoig. Mais precisamente na praia do Costa. Fica
entre a praia Vermelha da Fortaleza e a Praia Vermelha do Sul.
“No início do mundo era tudo preto e branco.
Um dia São Jorge reuniu todos os anjinhos. Deu pra cada um uma pena de passarinho, dizendo: - Pintem todos as flores do mundo com as belas cores do arco-íris.
Todas as tardes, um pouco antes do anoitecer, os anjinhos em fila apresentavam suas tarefas.
Um deles era muito desastrado! Quando foi apresentar
suas florzinhas pintadas, elas escaparam de
suas mãos despetalando-se!! Então, cheio de medo,
ficou no fim da fila com as mãos trêmulas. Ao apresentar sua
pequenina mão ao Santo, teve uma surpresa maravilhosa!
São Jorge soprou as pétalas e, por puro milagre,
surgiram incríveis espécies de borboletas de
diferentes formas, tamanhos e cores.
O mais incrível é que elas moram até hoje na praia do Costa ficando em volta de dois imensos pés de pitangas.”
- O que quero dizer, dona Brisa, é que todos temos
defeitos, assim como também temos qualidades. E
quando aprendemos a nos aceitar exatamente como somos, os outros passam a nos amar assim mesmo e a nossa vida fica mais feliz.
Como São Jorge ensinou ao desastrado
anjinho, se não fosse ele, talvez não existiriam as
belas borboletas.
Brisa ainda intrigada com as informações que vovô
relatava sentia-se melhor. Levantou-se, pegou sua
vassoura e despediu-se do vovô dizendo:
“- Muito obrigada, até logo!” E rumou para a
região sul até a praia do Costa e lá
brincou junto aos pés de pitangas com as muitas
borboletas de espécies diferentes,
coloridas, grandes e pequenas até o anoitecer...