EU CONTO, VOCÊ RECONTA...





Quando escrevo um conto não tenho a pretensão de uma escolha ingênua, mas sim, uma maneira de olhar o mundo.

Um dia ouvi essa história, a qual agora conto do meu jeito. Você pode recontar, pois é assim que as histórias permanecem circulando.

Há muitos e muitos anos, a VERDADE perambulava nua e solitária pelas ruas empedradas de um vilarejo circundado de montanhas, castelos e grutas, prováveis moradias de dragões.

Sorria, como só uma pessoa desprovida de maldades conseguia sorrir. Contudo, as pessoas não a encaravam, não olhavam em seus olhos.

Pior, viravam o rosto propositalmente, batiam portas, fechavam  janelas como se sua imagem fosse impura, indigna de ser vista.

Mesmo assim, a VERDADE continuava circulando, circulando...

Do outro lado da rua, caminhava exultante a HISTÓRIA, em seus trajes exuberantes, imaginativos e coloridos. Por onde passava, deixava rastros de alegria e simpatia.

Numa bela manhã, depois de muitos dias, meses, anos e anos... exausta por ver tamanha injustiça, estendeu seus longos e delicados braços para a VERDADE.

Ofereceu-lhe um de seus trajes e pediu-lhe que a vestisse. Timidamente, a VERDADE começou a cobrir seu corpo puro e desnudo.

Estranhou seu reflexo no brilho da água recentemente tirada do poço, mas mesmo assim, pôs-se a caminhar lentamente ao lado da HISTÓRIA.

E enquanto seus passos se alargavam mais e mais, as pessoas começaram a perceber sua sutil presença e quase sorriam, quase...

As portas e janelas não mais eram fechadas abruptamente. Permaneciam abertas e ela, a VERDADE, podia adentrar com a HISTÓRIA e presenciar o brilho nos olhos dos ouvintes, conforme as palavras iam e vinham, tal qual o movimento das notas musicais numa melodia.

Desde então, a VERDADE aceitou sua sorte e nunca mais se separou da HISTÓRIA e vice-versa.

E se essa história não for verdade, que a mentira me leve com o vento e faça com que eu me esborrache em qualquer muro de cimento.








heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 02/06/2010
Reeditado em 03/06/2010
Código do texto: T2296220
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