A MENINA E O MAR

Pisando a areia com graça

A menininha falava ao mar:

- Tu mais pareces uma praça

Feita pra criança brincar.

As ondas são carrosséis,

Os pássaros pipas no ar

Feitas de brancos papéis

Pra tua grandeza exaltar.

Agora inalo teu perfume,

Provo teu gosto salgado,

E digo sem queixume:

Sabes a bife malpassado!

Olha, tu tens uma estrela

Por certo a pegaste do céu

Ou tiveste a vontade de tê-la

Satisfeita por um ventaréu

Derrubando a estrelinha

Na tua água clara e morna

Pra ser a tua filhinha,

E enfeite que adorna

A fina areia da praia.

Cantas como gondoleiros

Remando seus barcos na raia

Rompendo os nevoeiros

Dos meus sonhos infantis.

Corro. Deixo as marcas dos pés.

Oh, brancas ondas gentis

Levem meus passos ao convés

Do barco da minha infância

Ancorado em águas de saudade crua,

E não me importa a distância

Desde que eu possa ver a lua!

Dos olhos do mar, de pupilas claras,

Caíram lágrimas cristalinas

E dissipando todas as neblinas

Transformaram-se em pérolas raras

Rolando até os pés da menina.

E antes de continuar seu caminho

Guardou na bolsa pequenina

O presente dado com tanto carinho

Pelo rei, o mar sem fim,

Para que dele não se esqueça

E que sempre seja assim

Uma criança e feliz permaneça.

27/08/06.

(Maria Hilda de J. Alão)

https://hildaalao.blogspot.com