AVENTURAS DE RAFAEL
Rafael queria saber como é a cara do sono.
Mas suas pálpebras pesavam assim que o sono se
aproximava.
Ele adormecia sem nunca saber se o sono tem a cara
do pai, ou de um anjo, ou de um ogro amigo.
Naquela noite encontrou um modo de descobrir. Fingiria
que estava dormindo e abriria os olhos assim que o sono
entrasse em seu quarto.
E ele fez exatamente isso.
Ao sentir que as pálpebras pesaram, as abriu
imediatamente e ficou pasmo ao notar que o quarto havia
desaparecido.
Esticou os braços apalpando e percebeu que não havia
a cama sobre a qual estivera deitado.
Ele estava sobre a terra nua!
Muito admirado tentou sentar-se e bateu com a cabeça
em algo sólido.
“Tuuuuummmmmmm” – fez o som resultante da
cabeçada em uma chapa de aço que vibrou.
O menino rolou para a direita e sentiu o sol cegar seus
olhos e aquecer seu rosto.
Cada vez mais admirado se pôs em pé e viu que estava
ao lado de uma retroescavadeira amarela. Viu que
estivera deitado na terra, embaixo da escavadeira.
Abaixando-se, viu que sob a mesma máquina havia um
homem usando macacão de mecânico. O homem sorriu para ele dizendo:
— Agora consertamos. Está como novinha em folha e
você pode pilotar essa coisa.
— Tem certeza? – perguntou Rafael.
— Absoluta!
E Rafael não viu mais o homem de macacão. O que ele
viu foram muitas máquinas e muitos homens trabalhando
nas escavações necessárias para a construção de um
grande campo de futebol.
Aquela gente estava preparando um estádio para o
Campeonato Mundial de Futebol no Brasil. Escavavam
quase perto do lugar onde Rafael havia depositado uma
coisa preciosa, que havia encontrado próximo a um rio.
Mais do que depressa ele dirigiu a retroescavadeira para
o ponto onde fora aberta numa grande vala muito longa.
Era uma área do terreno ainda não tocada pelos
trabalhadores e suas máquinas. Ali Rafael havia
escondido ovos de dinossauros, a preciosidade que
encontrara às margens do rio.
Com a retro-escavadeira amarela ele fez um fosso muito,
muito fundo. E com muito carinho, ali escondeu todos
os ovos e cobriu com terra úmida.
Um dia ele voltaria para ver se os ovos chocaram.
Mas para isso precisava manter as pálpebras em
condições de se abrirem assim que o sono estivesse
chegando.
Porque ele queria pedir ao sono que levasse com ele o
pai e a mãe para que também eles vissem a ninhada e
assim compartilhassem de sua aventura.
(escrito para uma criança de 7 aninhos,
um menino, filho de minha colega de
trabalho Cecilia Delicol)