O menino e a mãe
O menino não entende porque lhe dizem que ele perdeu a mãe. Ele tem vontade de dizer:"Eu não perdi a mamãe. Ela está na cama, só está de olhos fechados e mãos cruzadas."
Lembra dos últimos tempos. A mãe, sempre deitada, o balde ao lado da cama. Ele passava a mão no rosto da mãe, que sempre sorria. Antes, a mãe tinha um cabelo tão grande. Porém, o cabelo foi caindo. O pai lhe dizia para não incomodá-la. Ela dizia: "Deixe, quero ficar com ele. Ele só tem três anos. Não sabe o que está acontecendo."
O pai o botava para dormir e contava histórias. Papai estava sempre de olho vermelho. O menino não entendia. Pensava: "Gente grande também chora?"
Agora, o pai está com ele no colo, dizendo-lhe que a mãe é anjo no céu. O menino quer saber por que, se ela virou anjo, não cria asas e voa.
Não tem tempo de perguntar. Vêm uns homens, falam com o pai e a avó. A avó fica com ele, o pai entra no quarto com os homens. Saem com uma grande caixa de madeira. O que levam dentro?
Depois, vão para a casa da avó. Tanta gente. A mãe, dentro da caixa aberta. O pai chora. A avó lhe diz que beije a mãe. O menino a beija. Será que a mãe vai acordar com o beijo e virar anjo? Ele sempre acordava quando a mãe o beijava.
Vê o menino fecharem a caixa. Entra num carro. Vão a um lugar com um nome estranho. Põem a caixa dentro dum buraco. O que fará a mãe lá? Ela talvez ache chato.
Volta o menino para casa. Por dias, pergunta ao pai quando ela voltará. O pai não sabe que dizer.
Os anos passam. O menino agora sabe. A mãe se foi. Ele quase não lembra dela. Apenas que foi amado. O pai sempre diz:"Ela amou muito você, filho."
Vai o menino ao cemitério. Leva rosas para a mãe. Diz:"Eu amo você, mãe, ainda que poucas lembranças tenha."