O Contador de história
Esse texto é uma pequena peça teatral voltada para o público infantil. Ela nasceu de um projeto desenvolvido numa pré-escola, pública, numa cidade satélite, chamada Estrutural. Essa cidade-satélite se encontra em Brasília, ou Distrito Federal como queiram. Esse era um projeto desenvolvido através do curso de Geografia da Universidade de Brasília,
que tem por nome: Geografia, espaço para cidadania. Cujo objetivo era de proporcionar às crianças uma consciência ambiental. A cidade Estrutural nasceu do lixão, que existe lá até hoje, é uma das cidades mais violentas de brasília, e se existisse em São Paulo, ou Rio de Janeiro poderia ser conhecida como favela. Mas como Brasília não tem favela, a Estrutural é conhecida como cidade satélite. Esse pequeno ensaio teatral foi idealizado para o referido projeto da Geografia - UnB, mas não foi materializado em prática. De toda forma disponibilizo abaixo o texto e sua intenção dentro da perspectiva do projeto.
Obrigado, bom texto.
Gregório Borges.
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O Contador de história
Garoto Árvore - Bom dia pessoal! Vocês me reconhecem? Eu sou aquela árvore que fica ali, logo ali: que vocês costumam passar por perto e muitas vezes nem falam comigo! Quem já me viu? Quem já falou comigo? Pois então, como eu sou uma árvore eu já vi muitos de vocês brincando ali por perto, sei cada coisa que cada um aqui já aprontou por lá. Por isso mesmo hoje eu resolvi contar uma história de uns garotos que eu vi brincando por lá. É uma história muito legal, com partes engraçadas, partes tristes, e no final, quem vai decidir como ela termina são vocês... Porque no final das contas somos nós que decidimos como nossas histórias acabam. Tudo depende das escolhas que fazemos. Vocês escolheram tratar bem os seus coleguinhas hoje? Muito bem. Tudo começou numa bela tarde de domingo...
(entra o personagem malvado)
Garoto Mal – Eu não gosto de vocês. Mas vocês vão ter que gostar de mim. Eu não quero saber o que vocês pensam, eu sou o maioral. Todos estão obrigados a ser meus amigos.
Garoto Árvore – Meus coleguinhas, meus futuros líderes! É assim que devemos falar com nossos amiguinhos? - (Olhando para o garoto mal) - Hei! você devia tratar melhor seus amigos, ou você pode acabar sem eles.
Garoto Mal – Hoje a gente vai brincar de... Cala a boca! Eu decido. Vamos brincar de: Obedece o Rei, senão apanha. E deixa-me ver... Ah! Eu sou o rei. Então todo mundo ai me obedecendo senão apanha.
(entre o garoto bom)
Garoto Bom – Oi João Fortão!
Garoto Mal – Oi João Bonzinho!
Garoto Bom – Poxa! Quanta gente bonita! Bom dia pessoal. Esses são seus novos amigos João Fortão?
Garoto Mal – Amigos nada! Eu não tenho amigos, eu não preciso de amigos. Se eu preciso de alguma coisa eu dou logo uma porrada e consigo. Na escola, eu fico provocando os colegas, chuto as coleguinhas, dou mordidas nos amigos, não obedeço a professora e jogo lixo no chão. Não dou a mínima pra natureza.
(entram a natureza – natureza 1 e 2)
Natureza 1 – Opa! Opa!! Tem alguma coisa errada aqui!
Natureza 2 – Já senti de longe esse cheirooo de coisa errada... erradíssima!! Nossa que fedor!
Garoto Árvore – Gente eu comi repolho no almoço! Sabia que não ia dar certo.
Natureza 1 – E arvore por acaso come repolho?
Garoto Árvore – Na verdade era uma água da chuva sabor especial repolho. É que eu me alimento de água e do Sol. Por isso minhas folhas são verdes.
Natureza 1 – Gente não é nada disso não!! Eu estou falando. Eu tou falando é do cheiro de coisa errada que está por aqui... tem alguma coisa errada aqui e logo eu vou descobrir. Alguém sabe o que está acontecendo de errado por aqui?
Garoto Árvore – Não tá comigo. (todos: nem comigo).
Garoto Bom – Olá Ser da natureza. Eu vou te falar o que está acontecendo de errado. É que o meu amigo aqui, acha que pode bater em todo mundo, maltratar os outros, desrespeitar o professor e o que é pior?
Natureza 1 – O que é pior?
Garoto Bom – Algo muito pior. Sério.
Garoto Árvore – Mas o que pode ser pior do que, bater em todo mundo.
Natureza 2 – Desrespeitar professor?
Garoto Mal – Não se esqueçam, maltratar os outros.
(todos olham sério pra ele)
Garoto Mal – Desculpa! Hehe!
Garoto Bom – Muitíssimo pior mesmo. Tou falando.
Todos: (todos se olham, inclusive o garoto mal – fazendo cara de interrogação fadigada) O queeê?
Garoto Bom – Calma pessoal! Mas também vocês têm muita pouca paciência. (todos olhando sério para ele). O pior de tudo é que ele desrespeita a natureza.
(Todos os seres da natureza correm de um lado para o outro gritando)
(todos param e falam juntos)
Bichos da natureza - (juntos) Porque você faz isso?!
Garoto Mal – Porque sim!
(vai em direção do garoto arvore pra quebrar um galho, os outros seguram ele)
Garoto Arvore – Nesse exato momento da história quando, eu ali, parado! Na minha. Sem fazer nada de mal a ninguém, pelo contrário, oferecendo sombra, flores, frutos, e ainda por cima oxigênio pras pessoas respirarem. Vocês sabiam que as árvores jogam oxigênio no ar pras pessoas respirarem melhor? ...Pois foi nesse exato momento que o João Fortão se achando o maioral, se deu foi muito mal! É isso mesmo que acontece com quem não respeita os outros, olha o que aconteceu com ele...
Garoto Bom – Hei, João Fortão, não faça isso, não quebre o galho dessa árvore. Você não pode machucar a natureza, é dela que nós precisamos pra viver.
Garoto Mal – Eu vou é quebrar o galho dessa árvore nojenta aqui, e vou arrancar suas folhas. Deixa ela comigo... Vou dar uma lição pra ela aprender a não me contrariar...
Garoto Bom - João Fortão, cuidado, você vai caiiiir.
(o menino mal cai da árvore)
Garoto Mal – Ai! Ai! Quebrei meu braço... alguém me ajuda. Ai! ai! Alguém me ajuda.
(todos tentam levantar ele mas não conseguem)
Garoto Bom – Não consigo te levantar sozinho.
Garoto Mal - Manda os meus amigos te ajudarem.
Garoto Bom – Ah! Você se esqueceu que você não tem amigos?
Natureza 1 - Pois é! Você, por acaso se esquece, que de tanto implicar com eles, tratar mal eles, eles não quiseram mais ser seu amigo?
Natureza 2 – É sim, e agora que você ta ai caído com o braço quebrado, você não tem como bater neles e obrigar eles a te ajudar, tem? É nessas horas que contamos com nossos amigos de verdade.
Garoto Mal - Ah! Mas meu braço ta doendo muito! O que eu posso fazer pra eles voltarem a ser meus amigos.
Natureza 1 – Primeiro de tudo, você tem que pedir desculpas a eles. (todos concordam com a cabeça)
Natureza 2 – Depois tem que prometer que nunca mais vai maltratar eles de novo.
Garoto Mal – Tá bom, eu quero pedir desculpa por tudo de errado q eu já fiz. Prometo que nunca mais vou bater em nenhum coleguinha, que vou fazer de tudo pra que eles sempre fiquem felizes e nunca mais vou desobedecer a professora.
Garoto Bom – Do fundo do coração?
Garoto Mal – Do fundo do meu coração.
Garoto Bom – Isso mesmo João Fortão, logo você vai perceber que quando tratamos bem nossos amigos, eles ficam com vontade de tratar a gente bem, mas se a gente trata eles mal, então perdemos todos os amigos e quando precisamos... não podemos contar com eles.
Natureza 1 – Isso mesmo, muito bom João Bonzinho! E se todas as crianças fizerem isso, viverão num mundo bem melhor, onde todo mundo ajuda todo mundo.
Natureza 2 – Temos que tratar todos os amigos bem, sem exceção, porque se a gente trata um bem e outro mal, também estamos errados.
Garoto Arvore – E não se esqueçam que se todos cuidarmos da natureza, também vamos viver num mundo bem melhor. E quem sabe aí como cuidar da natureza?
(dá um tempo pras crianças tentarem responder)
Garoto Mal – Eu sei que nunca mais jogo lixo no chão, ou maltrato um animal ou uma planta, porque todos são nossos amigos!
Garoto Arvore - Poxa João Fortão! Você está muito certo. Está de parabéns! Acho que ele aprendeu muito bem a lição de hoje! E se você quiser ainda você pode aprender reciclagem, pra poder reaproveitar um monte de coisa ao invés de jogar tudo fora.
(todos concordam e falam entre si com entusiasmo que reciclagem é muito fera)
Natureza 1 – Gente! Eu acho que o João Fortão merece uma segunda chance.
Natureza 2 – Que legal! Eu também acho que ele merece uma segunda chance. Quem mais acha?
Garoto Bom – Eu também concordo!
Garoto Arvore – Já que vivemos num país democrático, vamos fazer uma votação. Quem acha que ele merece uma segunda chance?
(todos incentivam as crianças com gestos pra que elas votem afirmativamente e dêem uma segunda chance ao menino mal)
Todos: Vivam o João Fortão! (comemoram e saem pra abraçar as crianças, sempre lembrando elas de que é importante cuidar da natureza, dos amigos, perguntado o que acharam da história).
FIM