O GATO-DO-MATO E O PREÁ
Welington Almeida Pinto
Um dia o Gato-do-Mato acorda quase morto de fome, estica bem as pernas para espantar o restinho de preguiça e sai de sua toca com o pensamento ainda entretido no esplendor dos sonhos noturnos: encontrar um preá bem gordinho para saciar sua paixão por uma boa presa.
Calculista e velhaco, corre para o mato. Confiante no seu faro, por onde ia passando, investigava com cuidado todas as moitas de capim, ocos de pau, buracos de tatu e também de cupim. Nada. E assim foi horas a fio sem encontrar nem rastro de um roedor. Lá pelas tantas, moído de cansaço, resolve parar para descansar. Escolhe uma touceira de capim bem cheia e se aninha para recuperar as forças e colocar as idéias em ordem.
- Mas, oh, meu Deus!... Não parece ser meu dia de sorte – resmunga.
Enquanto refletia, um pensamento passa pela sua cabeça: no lugar de um preá, porque não degustar uma galinha!... Pensa um pouquinho mais e decide visitar o galinheiro da Fazenda dos Coqueiros, ali perto; já fantasiando a satisfação de abocanhar um galináceo bem rechonchudo. Entendido em geografia prática, logo encontra o galinheiro lotado de aves de vários tamanhos e cores. Com um brilho de satisfação nos olhos, examina tudo com malícia e resolve furar a cerca de taquara na parte baixa do terreno, mas, que azar!... Mal inicia o trabalho é obrigado a fugir dali às pressas ao escutar o fuzuê de um cão na sua batida. Pior: atrás, vinha o sitiante com uma cartucheira de chumbo grosso. Ah!... Não fosse um gato rápido como corisco e hábil para correr de zigue-zague não tinha escapado vivo dessa aventura.
- Cão dos diabos!... Se pensa que vou desistir deste galinheiro está enganado, volto outro dia – rezinga o Gato, já bem amoitado no meio do mato.
Enquanto maldizia a sina, lambendo as patas e lavando a cara, um cheirinho bom de animal roedor interrompe seus pensamentos. Prudente, levanta as orelhas e fareja o ar, como se calculasse a direção da presa. Engatinha um pouco para frente e logo vê entre a galharia um preá comendo folhinhas tenras de capim. Mal acredita. Passa várias vezes a língua sobre os beiços e fixa o olhar na presa já se posicionando para o ataque; de frente para o Sol, porque sombra atrapalha a manobra. Retrai-se, toma impulso e se lança como flecha sobre o roedor. Mas erra o alvo. O Preá foi mais astuto. Diante do perigo, o roedor salta assustado para trás e se esconde no meio de um monte de pedras.
Arrepiado de raiva, o Gato reclama outra vez da sorte. Tenta arrastar as pedras, mas pareciam grudadas na terra. Enfia uma das patas na pequena fenda por onde entrou o roedor e sente a respiração dele fazendo-lhe ventinho quente nos dedos, mas não consegue agarrar o roedor. Reanima-se. Olha em torno, sonda bem o local e conclui:
- Está no papo, questão de tempo – e colando o focinho nas pedras, grita – Você aí, criaturinha de nada, saia logo que ando com uma fome de leão.
Lá dentro, eriçado dos pés à cabeça, o preá permanecia mudinho da silva, ainda tremendo de medo ao sentir as garras do Gato bem perto de seus olhos. De fora, o felino insistia:
- Safadinho, não me faça perder mais tempo. Vamos, saia!
Mesmo assim, mais do que nunca, o roedor matutava um jeito de salvar sua pele. De repente, lembra de um velho truque: o golpe do faz-de-conta, perfeito para enganar os tolos! E pensa: começo a escavar aqui dentro e jogo a terra para fora. Aí... o gaiato vai imaginar que estou planejando fugir pelos fundos. Como se acha muito esperto, passará a vigiar o outro lado das pedras. Oba!... Assim, fujo sem ele perceber.
Não demorou muito o Preá atira o primeiro bolinho de terra. Por coincidência, acerta bem no focinho do Gato, que logo desconfia da manobra do roedor.
- Seu espertinho, querendo escapar por passagem subterrânea, não é? Quem é você, bicho? Meus olhos giram numa órbita de 360 graus. Não vai escapar. Não vai escapar.
O roedor nem tchum. Continua cavando e despachando terra para fora. Depois de algum tempo sem parar, resolve dar uma espiada para ver se a pequena passagem estava livre. Para seu contentamento, o predador se encontrava de costas, feito trouxa, espreitando o outro lado das pedras. Cheio de coragem, faz sinal da cruz e reza: ... São Bento água benta... Jesus Cristo no altar, tira esse bicho mau do caminho para um filho de Deus passar. Toma fôlego e pula ligeiro para o interior de uma touceira espessa de capim-bambu, juntinha das pedras, tão veloz, que o Gato nem viu. E de lá, zomba:
- Ufa! Nunca vi bichano mais atrevido, metido a ser o tal.
E espirra:
- Atchiiiiim!... Sinto que sou alérgico a cheiro de gato. Deixe eu cair fora... Olelê... Olalá...
E sai comemorando vitória, fazendo curvas e saltando, para confundir os rastros, alegre com a lição que deu ao esperto caçador. Dia aziago mesmo foi para Gato selvagem.
Conquistando a Linguagem
Compreensão do texto
Atividades
Responda em folha anexa:
1) Quem conhece gato-do-mato? E preá? Recorte uma gravura ou desenhe os bichos e cole na folha.
2) Pesquise e faça descrição sobre a vida desses dois animais.
3) O gato-do-mato é da família dos felinos. Coelhos e preás são roedores. A luta é desigual, não é? Desta vez quem saiu ganhando foi o preá. Por quê?
4) É verdade que gato-do-mato não consegue entrar e moita trancada de capim? Por quê?
5) Que lição o preá pregou no gato?
6) Muito bem, conclui-se que....
Para a Professora
Reflexão: De Mikail Naaimé: Casem o gato e o rato se quiserem a paz perpétua.
Motivação:
Leitura dialogada: represente com as crianças um jogral com o texto.
Procure saber entre os alunos quem tem em casa animais rivais.
Vocabulário: selecione verbetes desconhecidos e oriente consulta no Dicionário
Educação Ambiental: converse sobre meio ambiente, ecossistemas e comensalismo.
** PCNs: história de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação, certificada pela Diretoria de Desenvolvimento da Educação Infantil e Fundamental da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, conforme ofício nº 39/02, de 22 de janeiro de 2002.
GÊNERO: aventura.
TEMAS TRANSVERSAIS: ética: comensalismo – relacionamento entre animais. * Geografia e Ciências: espécies animais e vegetais do Brasil. * Português: diversidades das línguas e dos costumes.
* FBN© 2004 * Categoria: Conto Infantil. © - O GATO-DO-MATO E O PREÁ/Welington Almeida Pinto - Texto revisado para substituir o da publicação como o mesmo nome – Edições Brasileiras
*** Do mesmo autor, você pode, neste mesmo site, ler obras nas seção de Contos, Crônicas, Artigos, Poesia, Infantis, Juvenis e Jurídicos.
Para saber mais:
ECOLOGIA
Ecologia é o ramo da Ciência Biológica que estuda as relações dos seres vivos entre si, deles com o ambiente e vice-versa. No sentido prático, o estudo da Ecologia aumenta a compreensão que o homem deve ter do mundo e das criaturas.
Uma das metas da Ecologia é esclarecer ao ser humano que nada é distante, a indústria que lança resíduos tóxicos em um rio, poluirá a água que bebemos, comprometerá a vida dos animais silvestres e passará partículas poluentes aos alimentos que consumimos.
Um animal ou uma planta que desaparece poderia, de alguma forma, ter sido útil ao desenvolvimento de nossa civilização, pois deixa de existir um rico tesouro de possibilidades. Remédios e produtos químicos são extraídos dos recursos naturais, existentes no meio ambiente.
AMBIENTE
Trata-se do conjunto das condições, favoráveis ou não, que cercam os seres vivos, animais e vegetais (bióticos) - os não vivos: água, ar e o solo, a temperatura, a pressão atmosférica (abióticos).
INDIVÍDUO
Indivíduo é o elemento de um conjunto, com função específica, mas dependente quanto à sobrevivência, direta ou indiretamente, de outros indivíduos.
ESPÉCIE
Espécie é um conjunto de seres muito semelhantes, sob vários aspectos e com capacidade para reprodução entre si.
POPULAÇÃO
Grupo de indivíduos de uma mesma espécie, que vive, ao mesmo tempo, numa região. Exemplo: população humana, bovina, felina, etc.
ECOSSISTEMA
Os seres vivos juntos ao meio ambiente físico (solo, água e ar) formam um sistema ecológico ou um ecossistema.
Um ecossistema pode ter qualquer área. Uma floresta, um oceano, um lago, uma cidade, um bairro, um aquário, um vaso de plantas, uma lata de sardinha com terra e algumas plantas também é considerada uma mini-estação ecológica.
HÁBITAT
É o ambiente onde vive cada ser, seu endereço na Natureza. Os peixes têm hábitat nos lagos, rios e mares; os bois, os cavalos e os caprinos no campo. As rãs, nos brejos. As minhocas, no interior da terra.
NICHO
Cada animal tem seu jeito de viver, embora residentes no mesmo hábitat - a isso chamamos de nicho. Em um nicho organismos da mesma espécie podem conviver com os animais de espécies diferentes, sem comprometer a reprodução e o ciclo de vida de cada grupo.
Na vegetação, árvores e capins, mesmo dispostos num mesmo hábitat têm nichos diferentes na busca de nutrientes e água; as árvores atingem as camadas mais profundas do solo, enquanto o capim vive na parte superficial do solo. Portanto, nicho é o local onde vivem e atuam determinados organismos.
FOTOSSÍNTESE
O Sol é a maior fonte energética que a Terra dispõe, mesmo distante 150 milhões de quilômetros. Chega aqui somente 0,5 bilionésimo de sua luz e de seu calor. Sem essa pequena fração de luz e calor, seríamos um planeta perpetuamente gelado, sem luz e sem vida.
A energia solar transforma-se em calor para aquecer o solo, o ar e a água. Uma pequena parte desta energia, um por cento aproximadamente, é aproveitada pelos vegetais para sintetizar sua própria energia. Isso é a fotossíntese, o processo de converter a energia luminosa do Sol em energia química dos alimentos.
Para que a Fotossíntese ocorra são necessários mais três elementos: clorofila (pigmento verde presente nas partes verdes da vegetação), água e gás carbônico. A água é absorvida pelas raízes das plantas. O gás carbônico, dissolvido no ar, penetra nas plantas pelos poros microscópicos das folhas. A clorofila, absorvendo a luz solar, produz a glicose, um tipo de açúcar - reação que promove liberação do oxigênio.
A Fotossíntese é muito importante para os vegetais e os animais. Todos dependem direta ou indiretamente dos vegetais clorofilados. Sem eles a vida na Terra desaparece.
CADEIA ALIMENTAR
Conjunto de espécies vegetais e animais, enumeradas de tal modo, que cada um se alimenta da precedente. Isto é, os seres vivos dependem um dos outros na luta pela sobrevivência. Muitos animais se nutrem de plantas. Outros comem animais que se abastecem com plantas. As plantas, por sua vez, vivem de luz, água e ar. Através da luz solar juntam-se gás carbônico, ar e água para fabricar alimentos necessários à sobrevivência. Os vegetais, no Nível Trófico ou Alimentar, são os produtores.
CONSUMIDORES
Primários: animais que se alimentam de plantas ou comem outros animais que consomem vegetais. São eles: gafanhoto, boi, cavalo, etc.
Secundários: pássaros, cobras, que se alimentam dos gafanhotos, das formigas.
Terciários: felinos, aves de rapina.
Decompositores: são os organismos que se alimentam da matéria orgânica de plantas e animais em decomposição.
Cada estágio desse sistema é conhecido como Nível Trófico, ou melhor, nível relacionado à nutrição. Exemplo: a planta é comida pelo Gafanhoto, que é consumido pelo passarinho, que é devorado pela cobra, alimento predileto do Gavião, que depois de morto e, não devorado por outros carnívoros, será decomposto pelos Decompositores.
TEIA ALIMENTAR
Teia Alimentar é um animal consumir um tipo de comida numa cadeia alimentar e, em outra, consumir outro tipo de comida ou, servir de alimento para diversas espécies de animais.
O louva-deus pode ser consumido por um pássaro, um sapo, uma galinha ou outro animal de outra espécie. O pássaro pode ser consumido por outros animais carnívoros de diferentes cadeias alimentares, como a cobra, um gato-do-mato ou uma águia, formando um entrelaçamento em um mesmo Hábitat.
PIRÂMIDE ALIMENTAR
O gafanhoto alimenta-se dos componentes alimentares das plantas. Ao ser consumido pelos pássaros, transfere a eles a matéria orgânica, passando-a depois à cobra que devorou os pássaros. Comida pelo gavião, a cobra passa a ele a matéria orgânica que precisa para sobreviver.
Para um leão de 100 quilos são necessários 20 cabritos de 50 quilos cada. Para manter os 1.000 quilos de herbívoros bem alimentados são necessários 10.000 quilos de vegetais.
As relações alimentares são de extrema importância. O rompimento de apenas um elo numa cadeia alimentar pode comprometer a comunidade toda.
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