Meu Reino

Brincava o dia todo no quintal da casa.

Esse quintal que até hoje embala minhas lembranças .

Um enorme mangueira (hoje, nem sei se era tão grande assim), sustentava um balanço: cordas amarradas em um galho tendo uma tábua como assento era um dos meus veículos. Um velho cabo de vassoura era o outro.

Todos os dias eu viajava... meu avião subia mais que outro qualquer. Subia rápido no embalo das minhas curtas perninhas. E eu, lá de cima, olhava a humanidade que se transformava em diminutas formigas. Eu me sentia soberana. Era uma rainha. Uma rainha que aos cinco anos já dominava o mundo.

Às vezes meu reino sofria ameaças. Ameaças de ser dominado por outro rei e outra rainha da minha própria família. Eram mais velhos e muito mais experientes. Então eu passava horas planejando para defender meu território. Se o perigo era muito grande não tinha outra alternativa senão lançar mão da minha arma mais poderosa: montava em meu dragão, (eles não possuíam um), chamava meu fiel escudeiro, um lulu que já devia ter uns 12 anos, e partia para o ataque como forma de defesa.

Zezão era uma figura feia. Feia de meter medo. Enormes olhos esbugalhados, uma boca arregaçada continha lâminas afiadas em forma de dentes. Possuía asas e dava vôos rasantes sobre o inimigo. Eu procurava não usar a estratégia de fazê-lo cuspir fogo, pois poderia exterminar os inimigos e eu não poderia viver em paz se eliminasse alguém. Para afugentá-los preferia usar a cauda de Zezão e então eles batiam em retirada.

Terminada a batalha, a última antes da próxima, voltava vitoriosa para o meu reino. Era uma festa. Uma festa na maioria das vezes interrompida pela voz da rainha-mãe ordenando a hora do banho, a hora do almoço, a hora da escola.

Subia escada que dava para o castelo da rainha-mãe resmungando: ainda hei de fazer meu reino totalmente independente.