Pingo
Pingo era o seu nome. Pingo porque era mesmo um pinguinho.
Pequeno, pequeno. Pequeno e chato. Muito chato.
Sua dona, que se dizia sua mãe, possuía os mais belos cabelos loiros que jamais vi. Uma mãe de quatro anos.
Pingo tinha prato, vasilha para água, cama e cobertor. Tinha sabonete e shampoo. Tinha até escova de dentes. Tomava vacina, vermífugo e vitaminas. Bonito, muito bonito, muito amado e mimado, mas era chato.
Todos os dias, quando sua mãe saia de mochila rosa presa às costas, ele ficava resmungando baixinho, de olhos compridos no carro que se afastava.
Visita chegava, o mal educado era o primeiro a sentar-se no sofá. E sempre no mesmo lugar.
Eu o odiava. Amava e odiava.
Vivia atrapalhando meu andar pela casa se embaralhando entre os meus passos. Agarrava minha roupa quando queria alguma coisa. O que mais me incomodava era que fazia olhos de mendigo
quando estava comendo algo perto dele. Mas confesso que era a alegria da casa, depois dos longos cabelos loiros. E era a jóia mais preciosa que ela possuía. Seu companheiro na televisão, no pega- pega, no sol da praça...
E foi no sol da praça que aquela coisinha, pulando e latindo, escapou de sua mãe e acabou inerte no meio da rua...
Mereceu flores e lágrimas... e por muito tempo, olhos saudosos que olhavam o nada.