O BRIGADEIRO E O OVO DE PÁSCOA
Na cozinha da velha fazenda, a vovó Anita fazia bolo e brigadeiro para o aniversário do seu netinho Carlinhos. O menino, sentado no canto da cozinha onde ficava a mesa, observava o trabalho da avó. Depois de colocar o bolo no forno, dona Anita veio sentar-se à mesa trazendo nas mãos a tigela com a massa de chocolate para enrolar os brigadeiros. Carlinhos, com água na boca, perguntou:
- Vovó, quem inventou o brigadeiro e o ovo de páscoa?
- Eu acho que foi uma mãe muito especial, uma mãe com um coração imenso e cheio de muito amor. – respondeu a vovó sorrindo.
- Ah, sei! E quem é essa mãe? - quis saber o menino.
- Eu vou te contar:
Quando Jesus era criança, lá no Egito, ele tinha muitos amiguinhos. Todas as tardes eles se reuniam no terreiro da casa onde Jesus morava para inventarem sadias brincadeiras. José, o pai de Jesus, montou um pequeno parquinho para o filho e seus amiguinhos. Tinha balanço, escadinha sobe-e-desce, uma prancha de madeira com rodas do mesmo material onde uma criança sentava e a outra empurrava. Para as meninas, José esculpia pequenas bonecas de madeira, caixinhas para guardar as roupas das bonecas que a mãe de Jesus fazia para a alegria de todas.
Para a hora do lanche, Maria, a mãe, preparava quitutes que a criançada adorava. Ela reunia todos e, com uma grande jarra de suco de tâmara no meio da mesa redonda, ela distribuía os alimentos em meio a risos e gritinhos. Jesus era o mais alegre de todos. A mãe olhava para ele com um profundo amor e ele, com apenas cinco anos, entendia aquele sentimento verdadeiro retribuindo com um sorriso angelical. Depois que as crianças foram para suas casas, Jesus foi até a mãe, que preparava o jantar, e puxando a saia dela para ser atendido ele perguntou:
- Mãe, você pode inventar um doce que não existe?
- Ah, meu filho, eu não sei se poderei, mas vou pensar. Quem sabe eu encontro a receita desse doce que não existe. – respondeu sorrindo. Porém a pergunta ficou bailando na cabeça da mãe. Ela conversou com José e ele lhe disse que era coisa de criança.
Foi numa noite: Maria sonhou que um anjo chegava até ela, pegava sua mão e a conduzia por uma estrada entre muitas árvores. Maria olhava tudo. Ela não conhecia aquele lugar. Então o anjo falou:
- Estás vendo aquela árvore carregada de frutos cuja forma lembra um ovo?
- Sim. – respondeu ela.
- É dela que farás o doce que não existe para o teu filho.
- Como farei? – perguntou aflita Maria.
- Quando encontrares os frutos tu saberás. – respondeu o anjo desaparecendo.
Maria contou o sonho ao marido e ele, para sossegá-la, prometeu que quando fosse comprar material para a sua carpintaria prestaria atenção em toda e qualquer árvore que encontrasse pelo caminho e também perguntaria às pessoas se já tinham visto tal árvore. Bom carpinteiro e sabendo desenhar, José fez um esboço do fruto, de acordo com o relato da esposa, e o guardou.
Numa tarde, depois de terminar seu trabalho, José disse a Maria:
- Amanhã eu irei à cidade próxima para comprar madeira e algumas ferramentas para terminar os móveis do governador.
- Ah, José, não se esqueça do pedido que lhe fiz. – disse Maria brandamente.
- Não esquecerei. Fique sossegada. – afirmou José.
No dia seguinte, montado no seu jumento Juma e levando no bolso o desenho do fruto com o qual Maria sonhou, José partiu rumo à cidade vizinha para comprar o que precisava. Depois da compra ele foi visitar alguns amigos e, para eles, mostrou o desenho do fruto que Maria tanto queria. Todos responderam negativamente. Ninguém conhecia a árvore que dava aquele tipo de fruto. Já estava desistindo quando o rapaz que fazia a limpeza da loja disse:
- Com sua licença, senhor! Pode me mostrar o desenho?
José mostrou e o rapaz lhe disse:
- Ah, eu já vi este fruto na fazenda do senhor Omar.
- E onde fica a fazenda? – quis saber José.
- Mais ou menos uns dez quilômetros partindo daqui.
José agradeceu e partiu com seu jumento para a fazenda do senhor Omar. Lá chegando foi recebido pelo dono da fazenda que lhe ofereceu água e uma cadeira para descansar. Refeito da caminhada, José disse por que estava ali. Mostrou o desenho do fruto que estava procurando. Foi aí que o senhor Omar disse:
- Amigo você veio ao lugar certo. Aqui tem tanto desse fruto que às vezes nem sei o que fazer com ele. Pode levar o tanto que quiser.
Depois de encher alguns sacos com o fruto José perguntou ao homem como ele utilizava aquele fruto. Omar segredou, ao ouvido de José, a fórmula para utilização do fruto.
À noitinha o pai de Jesus chegou a sua casa. Depois de um bom banho e de um excelente jantar, José chamou Maria e com ela foi até onde estavam alguns sacos encostados num canto do cômodo onde dormia o jumento.
- Veja Maria, encontrei os frutos iguaiszinhos aos do seu sonho. Olhe para eles!
E abriu um dos sacos. Maria, de olhos arregalados, exclamava:
- São eles, são eles....
Então José transmitiu para ela a receita de Omar: como trabalhar com aquele fruto e produzir doces. No dia seguinte Maria começou o processo de preparação. Foi abrindo um a um retirando a polpa marrom esbranquiçada das sementes. Pôs as sementes para secar ao sol. Depois de secas, Maria as torrou num tacho e as espalhou sobre a mesa para esfriarem. Enquanto isso ela preparava o moedor de madeira, feito por seu marido, para moer as sementes. Após algum tempo ela tinha uma massa marrom, mas faltava o restante da receita do senhor Omar. Então ela acrescentou açúcar, manteiga e leite levando ao fogo até a massa ficar homogênea. Pronto. E agora? Que doce ela faria? Qual era o doce que não existia? Criança faz cada pedido! Estava perdida nestes pensamentos quando José entrou na cozinha.
- Hum! Está cheirando bem.
E José foi levando o dedo direto para a massa marrom para experimentar. Então Maria o repreendeu:
- Não ponha o dedo na massa, ela pode estragar.
Rindo, José foi saindo e dizendo baixinho:
- Eu só queria relembrar a minha meninice...
Maria continuou a olhar a tigela de massa sem saber o que fazer com aquilo. Então teve uma ideia. Começou a fazer bolinhas com a massa, mas a massa colava em suas mãos e estragava as bolinhas. Ela experimentou untar as mãos com manteiga. Agora sim, as bolinhas ficavam bonitinhas e brilhantes. Ela pensou:
- Doce bolinha... está faltando mais alguma coisa...o que será?
Neste momento Jesus entrou correndo na cozinha com a metade de um dos frutos na mão dizendo:
- Mãe, mãe, veja! Não parece um barquinho?
Sim. Era isso mesmo. A solução estava ali. Maria foi falar com José.
- Será que podes fazer uma fôrma de forma oval?
Depois de algum tempo José entregou a Maria a fôrma pedida feita de madeira polida. Após lavar e untar a fôrma com a massa, ela ficou aguardando que endurecesse. Era uma experiência. Minutos depois ela desenformou a massa cuidadosamente e viu, com surpresa, que era uma metade de um ovo e que se ela fizesse outra podia formar um ovo inteiro. Ah, que alegria! A santa senhora estava feliz, finalmente ela fez um doce que não existia.
- Vovó, Jesus sabia que a mãe dele estava fazendo o doce que ele pediu? – perguntou o Carlinhos curioso.
- Não. Maria escondia muito bem os doces. – respondeu dona Anita
E ela continuou a contar a história para o seu netinho.
Depois de fazer aqueles ovos com a massa marrom, Maria começou a recheá-los com as bolinhas brilhantes e a unir uma metade à outra. No segundo dia ela terminou o trabalho. Agora era só se preparar para apresentar ao filho querido o doce que não existia. E assim foi feito. A mesa redonda estava preparada. Os doces e o suco estavam cobertos com uma toalha muito branca. Jesus, obedecendo a ordem de sua mãe, foi chamar seus amiguinhos. Vinham todos juntos conversando e um dos meninos perguntou:
- Por que sua mãe mandou chamar a gente?
- Ela tem uma surpresa para nós. – respondeu Jesus.
- Você sabe o que é? – perguntou uma menina.
- Se eu souber não será surpresa.
E entraram todos falando ao mesmo tempo. Maria foi acomodando todos à mesa e, rápida, tirou a toalha dizendo alegre:
- Crianças, apresento-lhes os doces que não existiam: bolinhas e ovos. Hoje eles não têm nome, mas alguns milhares de anos, depois de Jesus, eles terão nomes e serão mais aprimorados. Serão muito apreciados, não só pelas crianças, mas por adultos também.
Foi assim, meu netinho, que surgiu o BRIGADEIRO e O OVO DE PÁSCOA. Alguém tem de dar o primeiro passo, e neste caso um pedido inesperado foi o degrau para mais uma descoberta que sempre é rudimentar, mas com o passar do tempo ela vai sendo lapidada até chegar à perfeição. Deus pôs tudo de que precisamos neste planeta, cabe a nós descobrir.
- Vovó, eu sei o nome do fruto. É o cacau, né?
- Isso mesmo meu querido. – respondeu a avó, abaixada, retirando o bolo do forno.
15/03/10
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)