O CARACOL ENCARACOLADO
Era um caracol retraído, diria, um bocado tímido... Mas era simpático.
Gordinho e careca tinha um olhar cheio de brilho e um freqüente sorriso...
Morava em um lindo jardim...
Mais parecia um bicho do mato, por não gostar de sair de casa... Porque será? Medo, preguiça comodismo?Na verdade nenhum bicho da redondeza sabia explicar, mas contam que quando jovem era magro e tinha cabelos (muitos) encaracolados e com o passar dos anos foi ficando assim... gordo e careca. Dizem que é por isso que ele ficou... Retraído. Fala pouco... De si mesmo, nada.
Ah... mas dava gosto ver quando ele resolvia sair de casa...Se produzia todo: uma linda gravata borboleta (vermelha!!!),um chapéu coco e aquela indefectível bengala (preta como o chapéu) que ele teimava em dizer que lhe dava todo charme. Era de chamar a atenção! Mal apontava na porta e aquele sorriso largo aparecia... As crianças gostavam... Com elas, ele se soltava. Até arriscava uns passos de dança meios desengonçados... E a garotada caia na gargalhada...
Ele era a atração da comunidade.
Contam também, que um dia notaram que ele estava sumido e foram procurá-lo; chamaram, bateram na porta... Ninguém atendeu. Então, resolveram entrar, pois ele poderia ter passado mal... mas nada...ninguém dentro da casa... Foi um alvoroço... Uniram-se e saíram em busca do fujão.Não demorou muito e encontraram-no , engravatado enchapelado e a bengala na mão, sem aquele sorriso...se arrastando, cabisbaixo .Uma imagem triste. Chegaram até ele e ele, arregalou aqueles olhinhos que, antes brilhantes, estavam opacos, melancólicos. Para surpresa dele, os mais fortes, pegaram-no nos braços, e o levaram de volta para casa , falando em coro que um amigo não abandona os amigos... Falaram tanto sobre amizade, que convenceram o caracol e o sorriso voltou-lhe à face.
Foi deste dia em diante que ele passou a sair mais vezes de casa e começou a fazer apresentações, cheias de humor, para todos da comunidade...
Talvez até hoje esteja por lá...
E talvez ainda continue usando a gravata borboleta... O chapéu coco... A bengala...
Mas com certeza o sorriso continua...