O que o Lipe queria era boa doçaria…
Lipe, leve e frágil, traquina e brincalhão até demais, um menino muito bonito, diz-se independente dos pais.
Não há monte nem vale que lhe seja desconhecido, corre os cantos do jardim, tudo lhe é um tesouro escondido.
Não gosta é da avó Clemência, que o adora tanto e não suporta a sua ausência.
- Lipe, a avó Clemência está a chegar, vais ser bem-educado e vai-la cumprimentar. – Alertava a mãe do menino.
- Não gosto dessa avó, têm óculos grandes e cheiro a pó. – Refilava o pequeno.
Não havia estratégia para o fazer melhorar, o que seria da avó quando lhe fosse acenar?
- Olá a todos, como vão? E onde está o meu netinho? Vá… então? – Perguntava, ansiosa, a avó, acabada de chegar.
- Lipe, a avó já chegou, vem dizer-lhe olá, está feliz, radiante, por poder estar cá. – Apelava a mãe.
- Já vou, já vou… Estou mesmo a caminho, diz a velhinha que se sente um bocadinho. – Voltou a refilar.
A avó ficou destroçada, sentou-se no sofá com a filha de mão dada.
- Mãe, não fique assim! O Lipe anda muito refilão, vou castigá-lo, verás então.
- Não faças isso ao meu netinho, eu é que estou velha, de passo levezinho.
Lipe ouvia atrás da porta com ar preocupado, com tantas manias tinha sido mal-educado.
- Avó, não quero que fique assim, mas as roupas da outra avó cheiram melhor, a pudim.
A mãe ficou zangada e gritou bem alto, cá fora, na rua, levantou-se o asfalto.
- Menino malcriado, só dizes asneiras, não gosto dessas palavras que são feias brincadeiras.
Mas a avó sorriu e um dente reluziu, o código estava decifrado, mas mais ninguém descobriu.
O Lipe, envergonhado, sorriu de mansinho, abraçou a avó e deu-lhe um beijinho.
- Mas o que aconteceu? É que nada percebi, há uma chateada e outra que sorri? – Interrogou-se a mãe.
- É que este menino tem palavras na barriga, o pudim da outra avó, esse, que o diga. Não era das minhas roupas e cheiros que fugia, só não queria uma avó que não lhe oferece a doçaria. – Explicou a avó, bem mais aliviada.
- É verdade mamã, a avó do pai faz coisas tão saborosas, bolos, tartes, pudins e aquela mousse deliciosa. Eu fiquei triste porque a avó da mãe não fazia nada para mim, nem um bolinho de arroz com creme de pudim.
- Não vou esperar mais, pois na cozinha sou muito sabedora, e a minha especialidade é a tarte de cenoura, mas sei outras coisas mais, bolinhos de caramelo, crepes de cereais…
- E que mais, e que mais? – Perguntava o menino.
- Sei fazer miminhos como doces principais…
Os três abraçaram-se entre risos curtos e grandes gargalhadas, logo depois, na cozinha, vi três barrigas consoladas.
Lacrima D’Oro