JUQUINHA E O REI
Um rei muito rico e poderoso foi fazer um passeio de barco e uma tempestade o naufragou.
Ele conseguiu salvar-se nadando até uma praia deserta e, depois, caminhando a pé até a cidade mais próxima que não era tão próxima assim.
Chegou lá, sujo, molhado, faminto, sem dinheiro e sem ter como se comunicar com o palácio.
Não teve outra alternativa que não fosse apelar para a caridade do próximo. Pedir esmola.
Procurou uma casa de bom aspecto onde devia morar gente abastada para quem não faria falta o que lhe desse e pediu:
- Sofri um naufrágio e estou faminto e com frio. Poderiam me dar um prato de comida e uma roupa para eu trocar?
- Que pouca vergonha! Vejo que tem roupas caras e seu aspecto não é o de quem passa fome. Sua profissão de pedinte deve dar muito dinheiro. Como se atreve a vir pedir ajuda que na certa não precisa?
- Realmente, sou rico, sou o rei deste país, mas estou passando por um momento difícil e o gratificarei se me ajudar.
- Rei? Além de tudo é mentiroso. Saia daqui antes que eu chame a polícia.
Vendo que não conseguia sensibilizar o ricaço, o rei foi até um bairro mais pobre. Gente pobre, que sabe o que é passar necessidade, geralmente, avalia melhor o sofrimento alheio.
Mas, qual! Os pobres também não quiseram ajudar.
Desanimado sentou na sarjeta por onde os transeuntes passavam sem vê-lo ou desviavam da sua figura lastimável.
E foi então que passou um menino a caminho da escola, viu o mendigo e aproximou-se:
- Homem você está com fome?
- Muita fome! Sofri um naufrágio perdi todo meu dinheiro e todos meus documentos. Virei mendigo.
- Que horror! Tome o meu lanche. Dá para você matar a fome.
O rei hesitou. Comer o lanche de uma criança!
O menino insistiu:
- Coma! Está gostoso! Tem pão, queijo, ovos e frutas. Minha mãe sempre me dá um lanche reforçado.
- Mas, e você? Fica sem lanchar?
- Não tem importância. Eu almocei bem e a tarde vou jantar. Não preciso desse lanche.
O rei estava comovido:
- Você é um bom menino e eu vou gratificá-lo por isso. Sabe quem eu sou?
- Não.
- Eu sou o rei deste país e posso dar o que você quiser quando conseguir voltar para o palácio.
- O rei? Nossa! Acho que meu lanche não está à altura de sua Majestade.
O rei não pode deixar de rir:
- Que nada! Nunca comi nada com tanto gosto!
Se você me der seu endereço eu lhe mandarei um bonito presente... quando puder.
O menino rapidamente anotou numa folha do caderno o seu nome e seu endereço.
À distância soou a sineta da escola
- Nossa! Estou perdendo a minha hora! Tchau, Rei! E saiu correndo.
Quando Juquinha, na hora da merenda, contou na escola o que se passara seus colegas não acreditaram.
- Você está tendo visões ou está mentindo. Imagine se há reis perdidos por ai.
- Juro que é verdade!
- Como você é bobo! Esse vagabundo mentiu para você só para tomar o seu lanche.
Juquinha achou melhor não discutir mais com os colegas, mas, quando chegou em casa contou excitado, à mãe, o ocorrido.
Mas a reação da mãe não foi a que ele esperava.
- Você não sabe que não deve falar com estranhos?
- Mas ele é o Rei!
- Rei? Imagine! É um mentiroso e vagabundo, isso sim!
- Ele disse que quando voltar para o palácio vai me mandar um presente.
- Você não deu nosso endereço pra ele, deu?
- Dei!
A mãe ficou muito preocupada com medo de que o tal homem aparecesse na sua casa pedir mais coisas animado com a ingenuidade do Juquinha.
Começaram então as notícias alarmantes: O rei estava desaparecido. Temia-se que ele tivesse morrido no mar.
- Mãe nós precisamos contar que eu vi o rei. Ele não deve estar longe. Estão perdendo tempo procurando ele no mar.
- Deixe de bobagem, menino! Esse sujeito devia saber que o rei estava desaparecido e quis se aproveitar de sua boa fé.
Mas, por fim, o rei foi encontrado e voltou ao palácio.
Dias depois Juquinha recebia uma carta com o selo do palácio real.
O rei comunicava que agora ele era o seu pupilo e que durante toda sua vida receberia uma mesada muito boa, teria pagado todos os seus estudos e poderia visitar o palácio quando quisesse.
Os pais ficaram embasbacados com o ocorrido.
- Que coisa boa! Estamos ricos! Não preciso mais trabalhar, disse o pai.
- Eu acho que agora podemos reformar a casa, trocar o carro... continuou a mãe.
- E eu vou dar lanches para todos os mendigos que encontrar.
- Deixe de ser bobo. Você acha que vai encontrar outro rei? Vai encontrar vagabundos, viciados e sem vergonhas, isso sim!
- Mas todos têm fome, não têm? Se forem bons ou maus não é problema meu.