O navio Salmar
Um marinheiro chamado Jorge trabalhava no navio Salmar que transportava sal de um porto para outro.
Jorge tinha dois filhos, Rita e Rodrigo, de sete e quatro anos. Eles adoravam ir recebê-lo no cais porque, além da alegria de ser vestidos por sua mãe com impecáveis roupas brancas, eles tinham licença para caminhar a beira mar e beber quanta água quisessem nos dias de calor.
Nessa época a água do mar era doce fato que não perdurou muito tempo depois.
Mais tarde, já no lar, o marinheiro fascinava seus filhos contando aventuras em alta mar, onde é costume acontecerem coisas curiosas.
_ Essa noite.
Começou relatando Jorge.
_… as estrelas ocultaram-se e todos no navio começamos a sentir medo. Nunca uma noite tinha obscurecido daquele jeito. O vento soprava forte e as ondas cresciam até molhar a coberta do navio. O capitão deu ordens de proteger nossa carga com lonas para que o sal não ficara úmido.
“Fiiiiiuuuuuuuu Fiiiiiuuuuuuuu” escutava-se enquanto o navio balançava de um lado para outro. De repente um relâmpago clareou o céu e um raio cor violeta bateu forte na superfície da água. Uma onda gigantesca chegou até o navio e arrastou todas os sacos de sal. “Ajuda, ajuda” Gritou o capitão e como nenhum de nós teve coragem de se atirar na água para apanhar o sal, tivemos a certeza de tê-la perdido para sempre no meio daquela tempestade. Na manhã seguinte a calma voltou e com surpresa vimos várias sacos de sal caindo sobre a coberta.
PUM PUM ressoava na madeira. Um marinheiro correu para a ver o que estava acontecendo. PUM. O grumete subiu no mastro. PUM. Então nos aproximamos da varanda e pudemos ver cinco polvos que com seus oito tentáculos jogavam os sacos para cima. Havia também quatro tartarugas, dez golfinhos brincalhões, duas baleias, oito focas, sete pingüins, cada um deles carregando um saco nas costas. Pelo ar chegavam gaivotas de plumagem marrom e pelicanos dispostos a ajudar. Os cavalinhos de mar e as estrelas, sendo eles muito pequenos, animavam os outros cantando:
“O sal caiu no mar,
viemos ajudar.
O mar não tem sal,
nós vamos limpar.
Cantamos sem parar la la la la la…”
Quando apenas faltava apanhar quatro sacos que ainda flutuavam na água, chegaram os tubarões dançando ao ritmo da melodia. Nadaram entusiasmados em círculos, as baleias expulsaram água, os pelicanos agitaram as asas e os polvos usaram às carapaças das tartarugas como tambores. Então, os tubarões, esquecendo suas dentaduras afiadas, morderam os sacos e derramaram o sal no mar.
“Ohhhhhhhhh” exclamaram todos, mas já nada podia ser feito. E quando os tubarões ficaram muito tristes, nosso capitão descobriu que as ondas, batendo contra o navio, formavam uma espuma muito branca.
O azul do mar tornou-se mais azul, em contraste com a espuma, e quando uma gaivota mergulhou para apanhar peixes para o jantar mudou a sua cor marrom para o branco do sal.
Duas coisas mágicas aconteceram naquele dia: o mar tornou-se salgado e agora pode-se distinguir às gaivotas de longe entre o azul do céu e o azul de mar, por causa da brancura das penas.