Joãozinho outra vez
A viagem seria de duas horas, mas minha mãe prevenida toda, enfiou em duas sacolas tudo que na certa eu iria precisar e também para que eu não enchesse a paciência de todos. Nas sacolas ela colocou: biscoito, iogurt, copo descartável, garrafa com água, lápis, papel, carro, jogo, papel higiênico, lenço umedecido. Sabem como é eu sempre apronto quando passo muito tempo fechado dentro de um carro.
No início, eu acho tudo uma maravilha. Falo mais do que o homem da cobra. Minha mãe, coitada, vai respondendo todas as minhas perguntas que não estão abaixo de mil por segundo. Ela diz que eu pareço uma metralhadora ambulante. Depois, passo a encher o saco de todo o mundo, e aí meu pai me manda fechar a matraca. Como isso não funciona, ele coloca uns CDs pra tocar, eu pego o controle e aí vou aumentando até meu pai não agüentar, isso faz com que ele fique com muita raiva. É nessas horas que seus olhos aparecem por cima dos óculos e pelo brilho já percebo a mensagem. O jeito é virar o rosto pro outro lado e tentar me divertir com outras coisas.
O sono chega. Com o travesseiro e o lençol estão à mão fico descansando meus miolos. Acordo em pouco tempo pra meus pais. Já eu acho que dormi demais. Recomeço na minha ânsia desejando chamar atenção. Entro pelo caminho das perguntas.
- Mamãe!
- Que é que foi, meu filho.
- Quem dirige caminhão é o que?
-Não entendi. Por que essa pergunta agora?
Repito já achando que minha mãe não era tão sabida como eu acreditava. Aumento o tom de voz:
- Como é chamada a pessoa que dirige um caminhão?
-Ah!- responde ela. Agora entendi. Quem dirige caminhão é caminhoneiro.
- E quem dirige Toyota?
- Toyoteiro! Papai respondeu com convicção.
Naquele momento passava um ônibus, e aí eu quis demonstrar que sabia de verdade.
-Então quem dirige ônibus é onisbeiro!
Meus pais caíram na risada, e eu fiquei com cara de melão sem entender pitaca de nada.