A CONFERÊNCIA ANUAL DOS SAPOS

Houve um tempo que os animais falavam e se portavam como gente. Foi nesse tempo que existiu um boi de grande beleza e muito elegante. Quando ele passava pelas trilhas da mata, os outros animais ficavam admirados.

- Que elegância! – exclamava o macaco extasiado com a vestimenta do boi e o seu porte atlético. Sim, meus amigos! O boi se vestia com tal bom gosto que gerava inveja. A calça bem esticada com vinco perfeito, a camisa branca por baixo do colete prateado, a casaca de talhe perfeito lhe caia bem e lhe dava um ar de nobreza, a cartola dourada bem aprumada entre os dois chifres e os sapatos. Ah! Os sapatos. Estes eram feitos de material especial e brilhavam tanto que ofuscavam os olhos dos bichos. Ninguém sabia o tipo do material, mas corria a boca pequena, entre os outros bois, que os sapatos foram feitos em Paris por um boi sapateiro que, em visita ao Brasil ainda não descoberto por Cabral, tornou-se muito amigo do nosso boi. Que ele era um boi de alta estirpe não se pode negar.

Foi num desses passeios pela mata que o boi se aproximou do rio. Fazia sol forte e o calor aguçava a sede. Justamente naquele dia realizava-se A Conferência Anual dos Sapos, evento de grande prestígio sempre aguardado com ansiedade. O falatório era grande, mas ao verem aquele boi elegantíssimo bebendo água no rio, fez-se silêncio total, até o vento parou. Quando terminou de beber, o boi tirou, do bolso do colete, um lenço branquíssimo com as iniciais do seu nome bordadas no canto direito, e enxugou os beiços. Os sapos se rederam a beleza daquele imenso boi. Foi nesse instante que o sapo, presidente da conferência, disse com desprezo:

- Grande coisa! Se eu quisesse seria igual a ele...

O primeiro secretário da Conferência Anual dos Sapos, olhando sério no olho do presidente disse-lhe:

- Não seja bobo. Veja o tamanho do boi! Ele é imenso. Quanto a você... – e riu baixinho da estatura do sapo presidente.

- Caro presidente, sabe como se chama este seu desejo de ser igual ao boi? Não? Não sabe? Inveja pura. Um dos sete pecados capitais condenado por aquele que nos criou. – disse-lhe, enfática, uma sapinha com um jeitinho de ser muito inteligente.

- Ora, isso tudo é bobagem. Eu vou mostrar a vocês como é fácil.

Os sapos fizeram um círculo e no centro ficou o sapo invejoso que começou a inchar para ficar do tamanho do boi. Volta e meia ele perguntava aos companheiros:

- Já estou como ele...?

- Não. Ainda falta muito... – respondia em coro a saparada.

E o sapo foi estufando, estufando, estufando... e já estava quase estourando quando uma sapa, já bem velhinha, gritou:

- Pare com isso, seu tolo! Que pensa que está fazendo? Se estufar mais um pouco explodirá como uma bomba. Será que vale a pena? Seja você mesmo sem invejar a condição física de outro animal. Ele é um boi, você é um sapo e ponto final.

O presidente da Conferência Anual dos Sapos, muito envergonhado, parou de estufar, mergulhou na água do rio para não ouvir os risos e comentários dos outros sapos que aplaudiam a sapa velhinha que, além de lhe salvar a vida, deu-lhe uma lição de moral extensiva ao gênero humano.

Crianças, em todas as circunstâncias da vida, sejam sempre vocês mesmas.

27/09/09

(histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)