o rei do lixo

De: Luiz de Lima Navarro

PERSONAGENS: PITU (CATADOR DE LIXO)

GARRAFA (DE SIDRA)

CAIXA (DE PAPELÃO)

BALDE (DE PLÁSTICO)

MUSICA (REPENTE)

PITU – VAMOS AGORA COMEÇAR

UMA HISTÓRIA PRA VOCÊS

NÃO PRECISA ESPERAR

OU AGUARDAR A UA VEZ

SEU PEDIDO É UMA ORDEM

SUA VONTADE É UMA LEI

GARRAFA – ESSA HISTÓRIA É DE AMIZADE

ESSA HISTÓRIA É DE AMOR

TEM CAIXA BALDE E GARRAFA

TEM MENINO DE VALOR

TEM MUITA CHUVA CAINDO

PRA NO CHÃO NASCER UMA FLOR

BALDE – É A HISTÓRIA DE UM REI

DE UM REI MUITO VALENTE

SEU REINO ERA NO LIXO

NO LIXO TAVA CONTENTE

SONHAVA COM UMA ESTRELA

COM UMA ESTRELA CADENTE

CAIXA – E AGORA VAMOS LÁ

QUE O TEMPO TÁ PASSANDO

TEM MUITO QUE APRESENTAR

O POVO TÁ ESPERANDO

BOM ESPETÁCULO PRA TODOS

QUE JÁ ESTÁ COMEÇANDO.

PT – (empurrando a carroça) Droga de carroça! Tinha que emperrar logo agora? Vamos, preciso entregar esse lixo e voltar pra pegar mais. (chutando a carroça) Droga! Droga! Porcaria de lixo!

VOZES – Ai! Não chuta!

PT – Quem falou? Tem alguém aqui? Acho que estou ficando louco. Não há de ser nada. (volta a empurrar a carroça que emperra novamente) Você está querendo me enlouquecer? (chuta-a)

CX – Quer fazer o favor de não empurrar a carroça?

GF – Estou tontinha, quase me quebro toda.

BD – Acho que meu lascão aumentou.

PT – (assustado) Quem são vocês? O que fazem aqui?

TODOS – Nós?

PT – Sim. Vocês.

CX – Você está com medo da gente?

PT – Eu, medo? Não tenho medo de nada.

GF – Nem de fantasmas?

PT – Claro que não. Fantasmas não existem.

BD – É claro que existem.

PT – Como assim?

CX – Nós somos fantasmas!!! (correria geral)

BD – Ei! Pode aparecer, a gente estava brincando.

GF – Foi sim, venha cá.

PT – Quem são vocês de verdade?

GF – Eu não acredito, você não está nos reconhecendo?

BD – Quando falta água eu sou bastante utilizado, lembra?

CX – Não estão vendo que ele não reconheceu vocês? Agora vejam. E de mim, você lembra?

PT – Não!

BD/GF - (gargalhando) Não. Ele também não lembrou!

PT – querem parar de brincadeira e dizer quem são vocês de verdade? Estão me atrapalhando e eu estou muito atrasado.

GF – Tudo bem. Eu sou uma garrafa de champanhe...

PT/CX – Mentira!

GF – Que bobagem de vocês. Tudo bem, eu sou uma garrafa de sidra. Ah, é tudo a mesma coisa.

BD – Bom. Eu sou um balde. Você não teria aí um lanchinho?

CX – Chega! Agora é a minha vez. (faz uns trejeitos) Descobriu quem sou? Não? Bem, eu sou uma caixa de papelão, com a nobre tarefa de guardar a sua televisão. Gostaram da rima?

GF/BD – Não!

PT – Estou ficando biruta. O que fazem aqui?

BD – Ora, viemos agradecer.

GF – Somos muito gratos a você.

CX – Graças ao seu trabalho seremos reciclados e não ficaremos por aí poluindo tudo.

PT – Esperem! (assustado) Isso não pode está acontecendo. Já sei! É um sonho. É isso, eu estou sonhando, não é?

TODOS – (fazem sinal negativo)

PT – è, não pode ser um sonho. Eu estou acordado.

GF – Ora menino, não se prenda a esses detalhes.

CX – E já que você nos salvou, vamos ajudá-lo a realizar seu grande sonho.

BD – Sonho? Me deu até fome. Adoraria comer um sonho com recheio de creme ou até mesmo um sonho de valsa.

PT – Como vocês sabem que eu tenho um grande sonho?

GF – Todos nós temos um grande sonho, um sonho especial. Eu por exemplo sonho em ser uma cantora “líxica”.

CX – Eu prefiro musica “papelar “ brasileira.

GF – Mas eu também sei cantar...

CX – Bom. O meu sonho é o seguinte: Já cansei de trabalhar fora da televisão, agora eu quero trabalhar dentro da televisão.

BD – Já sei! Você quer ser um tubo de imagem, acertei?

GF – Êpa! Tubo de imagem é de vidro e vidro é a minha área.

CX – Não é nada disso. Eu quero ser uma artista, eu quero ser uma apresentadora de televisão.

BD – Meu sonho é bem mais simples. Depois de reciclado, eu quero virar um pote de sorvete. Humn, que delícia.

GF – Esse só pensa em comida.

CX E o seu sonho? Qual é mesmo o seu nome?

PT – Pitu, me chamo Pitu.

GF – Pitu? Seu nome é bem antigo, não é?

PT – Como assim, antigo?

BD – Não ligue pra ela, está imaginando coisas.

CX – O que é dessa vez dona garrafa de sidra?

GF – Você tem o nome daquele idioma indígena.

BD – O quê?

PT – Como assim?

GF – Pitu Guarani.

CX – Não é pitu guarani e sim tupi guarani.

GF – Nada disso. Tupi guarani, era o nome daquele canal de televisão.

CX – Nada disso. O canal era só tupi.

GF – Era nada.

CX – Era sim. De televisão eu entendo.

PT – Vocês estão confundindo tudo. Eu me chamo Pitu, porquê quando eu era pequeno, era bem vermelho, parecia um camarão. Pitu é um tipo de camarão.

BD – Camarão ao alho e óleo. Que delícia!

GF – Então somos quase parentes.

PT – Como assim?

GF - Meus amigos me chamam de cabeça de camarão.

BD – E é mesmo.

PT – Eu ainda não estou acreditando no que está acontecendo. Balde, garrafa e caixa falando. E cada um com um sonho... (entra musica)

SONHO

UM SONHO

SEMPRE A GENTE

TEM UM SONHO

DESEJANDO REALIZAR

BRINCAR, VOAR...

UM SONHO, É MAIS LIVRE QUE O AR

É MAIS SOLTO QUE O MAR

SÓ PRECISA ACREDITAR

EU SONHO COM COISAS

JARDINS E LUAR

SONHO COM LÁGRIMA

SORRISO E GENTE A CANTAR.

O SONHO É MEU, É SEU

E DE QUEM IMAGINAR

SOMOS TODOS IGUAIS, NESSE MOMENTO

ONDE TUDO PODE SER POSSÍVEL

GF - (Lendo um telegrama) Não!!!

TODOS – O que foi?

GF – Não pode ser!

CX – Desenbucha de uma vez.

PT – O que aconteceu?

BD – É mais um ataque dela.

GF – Eu não acredito! Ele morreu! (chora)

TODOS – Quem???

GF – Está aqui no telegrama, ele morreu.

CX – Quem morreu?

GF – Max.

TODOS – Max? Quem é Max?

GF – Estou profundamente deprimida.

PT – Nunca ouvi falar de garrafa deprimida.

GF – Você já ouviu antes, alguma garrafa falar?

PT – Não.

GF – Então? (vai saindo)

BD – Aonde você vai?

GF – Preciso vê-lo.

CX – Mas ver quem?

GF – Max.

BD – Mas quem é Max?

GF – Não sei.

PT – Como não sabe?

GF – Não sei. Vocês não deixaram eu terminar de ler o telegrama.

CX – De quem é o telegrama?

GF – Não sei direito. Achei aqui no lixo. Vou terminar de ler. Ahhh! Max é um cachorro!

CX/BD – Um cachorro/ De quem?

GF – Sei lá.

CX/BD – Ahhh

PT – Vocês são loucos.

GF – Fiquei triste pelo Max.

CX – Você nem conhecia ele.

GF – Mesmo assim eu gostei dele.

PT – Um dia eu tive um cachorro. O nome dele era peludo.

BD – E o que aconteceu com ele.

PT – Ele também morreu.

GF – Ahhh (chora)

CX – Como ele morreu?

PT – De tristeza.

GF - De tristeza? Como assim de tristeza?

PT – Ele tinha uma namorada chamada Pantera, aí eles se casaram...

BD – Nunca ouvi falar que cachorro casava.

Pt – Nunca ouvi dizer que balde falava.

GF – Cachorro se casa sim.

Cx – Todos os animais se casam. Cala a boca Balde, não atrapalha. Continua Pitu.

PT – Aí eles se casaram...

GF – E foram felizes para sempre!

CX – A história é triste. Não atrapalha Garrafa. Continua Pitu.

PT – Então eles se casaram e ficaram morando no quintal de minha casa, (musica instrumental) Mesmo depois que eles se casaram, eles continuaram namorando. Teve um dia que eu vi eles beijando na boca. Achei tão engraçado. Eu pensei que só gente beijava na boca. Aí eu pensei: Quando eu crescer, quero namorar e beijar na boca também. Bom, passou um tempo, então notei uma felicidade no olhar de peludo, Pantera parecia que is explodir de tanta alegria. Foi quando eu percebi que a barriga de pantera estava crescendo, foi quando então eu entendi que ela ia ter cachorrinhos. Era engraçado, mas parecia que ia ter outra família por perto.

CX – Você não tem família?

PT – Comecei a imaginar os cachorrinhos no quintal, a alegria de Peludo, eles mamando na Pantera... Mas nada disso aconteceu.

GF – Por quê?

BD – O que aconteceu então?

PT – Foi numa noite escura, chovia muito mesmo, e os bueiros estavam cheios de lixo, assim, logo encheu tudo, de água e de lixo. A correnteza era forte e arrastou Pantera, peludo que era meio brabo, estava amarrado e se salvou, mas Pantera e e os cachorrinhos que nem chegaram a nascer, se foram. Aí Peludo foi ficando triste, triste... Acho que ele morreu de saudade, de tristeza.

GF – É triste mesmo a história.

PT – Mas eles agora estão no céu.

CX – Céu? Quem disse que animal vai pro céu?

PT - É um céu diferente um céu só pra animais.

BD – Já ouvi falar em loja pra animais, em hospital, mas em céu, nunca ouvi falar, não acredito.

PT – Eu não acreditava em balde ou qualquer objeto falasse, mas vocês falam não é verdade. Existe sim céu de animais.

GF- Será que existe céu só de garrafas?

CX – Claro que não, que bobagem! A gente não morre. A gente se acaba. Mas podemos ser reciclados.

BD – Só os seres vivos morrem.

GF – descobriu o Brasil.

PT – Minha esta no céu (musica instrumental fundo), dizem que toda mãe quando morre, vira uma estrela, mesmo de dia ou quando o céu esta nublado, mesmo assim elas estão olhando pra gente. Vocês sabiam que quando elas ficam se mudando, é porquê elas estão felizes com alguma coisa que a gente fez ? Se a gente passa de ano na escola, quando a gente trabalha, quando sara de uma doença...

CX – E seu pai? E seus irmãos?

PT – Não tenho irmãos. Meu pai casou de novo, a nova mulher dela é legal. Mas minha companheira inseparável é mesmo Cacilda.

GF – Já sei ! Cacilda é sua prima acertei?

PT – Errou! Cacilda é minha carroça.

GF – Oi Cacilda!

CX – Como vai Cacilda? É um prazer enorme. Obrigada por me carregar.

PT – Cadê o Balde?

CX – É. Balde!!!

BD – Estou aqui. Encontrei esse lanchinho pendurado na Cacilda. É seu Pitu? (come)

PT – Não é do rato!

BD – Do rato? Como assim do rato?

PT - Esta comida está com veneno de rato.

BD – Ai! Estou passando mal, minha vista está escurecendo.

GF – Socorro! Socorro! Alguém chame o médico! Balde, fale comigo. Diga alguma coisa. Alguém chame o médico.

CX – (som de Sirene) Acalmem-se todos! O socorro chegou.

GF – Você é médica?

CX – Esqueceu que eu já fui caixa de remédios no hospital? Aprendi algumas coisas.

BD – Não!!! Estou perdido. Socorro!!!

CX – Cale-se! Vou examiná-lo. (examina) Seu caso é sério.

GF – O que ele tem?

BD – O que eu tenho?

CX – Não sei. Mas vou aplicar uma injeção.

BD – Injeção? Nunca! (correria)

CX – Segura ele Garrafa. (aplica a injeção)

GF – Está melhor?

BD – Não. Estou pior.

CX – Vou examiná-lo novamente. (examina) Seu caso é muito mais sério do que eu pensava.

BD – Mais injeção eu não agüento.

CX – Nada de injeção. Seu caso é de cirurgia. (com um serrote. Nova correria)

PT – (que estava se divertindo assistindo tudo) Parem com essa barulheira. Nada de cirurgia. Eu estava brincando. A comida não tinha veneno nenhum.

BD – Que brincadeira de mau gosto, Pitu.

GF – Serviu pelo menos como lição. Não se pode comer tudo que se vê pela frente.

CX - Logo agora que eu estava adorando ser médica. A cirurgia ia ser um sucesso.

PT – Chegou a hora de levar vocês.

GF – Não Pitu. Vamos brincar mais um pouquinho.

BD – Gostamos tanto de você.

CX – Você é tão divertido.

PT – Eu também gostei muito de vocês. Fazia tempo que eu não sabia o que era brincar. Foi muito bom mesmo. Mas agora preciso ir mesmo. Quem sabe a gente não se encontra por aí/ Vou levar vocês e voltar pra pegar mais.

GF – Dá mais um tempo Pitu.

CX – Você nem falou de seu sonho.

GF – É mesmo, precisamos ajudar você a realizar o seu sonho.

PT – Nada de sonho por enquanto. Agora preciso trabalhar. Não é a toa que me chamam por aí de O REI DO LIXO! (musica)

BD – (vestido de rei) Nem mais um passo mocinho. Como se atreve dizer que é o Rei do lixo?

PT – É porquê...

BD – Cale-se! Eu sou o Rei do lixo. Senhor absoluto de tudo isso e daqui você não leva nada.

PT – Era só uma brincadeira. Eu não sou rei de nada. Mas preciso do lixo. É o meu trabalho. Sem contar que todo o lixo que eu cato, é reciclado e assim não fica por aí , jogado poluindo tudo, as ruas, os rios, o ar...

BD – Eu proíbo você de levar qualquer coisa do meu reino.

PT – Mas seu rei...

BD – Nem mais nem menos, daqui não sai nada.

CX – Seu rei, por gentileza...

BD – Quem é você?

CX – Eu? Eu sou uma simples caixa.

BD – Simples? O que é isso Você é a caixa mais bonita que vi por estas bandas.

CX – Imagina. Bondade sua.

GF– Seu rei, eu sou uma garrafa.

BD – É? (para a caixa) Você é daqui mesmo?

CX – Hoje sou daqui, amanhã sou de outro lugar. Eu viajo muito, viajo até para o exterior.

GF – Senhor rei. Eu já fui garrafa de champagne francesa..

CX – Garrafa não exagera, aquele champagne era do Paraguai.

GF – Mentira! Era francesa. Como você pode dizer uma coisa dessas?

CX – Eu era a caixa daquelas champangnes. Mentira não senhora.

BD – Calma garotas. (para Pitu que estava saindo de fininho) E você mocinho, nem mais um passo eu já disse. Daqui não sai lixo nenhum.

PT – Tudo bem. Eu pego lixo em outro lugar, o que não falta por aí é lixo.

BD – Acontece que eu sou o dono de todo lixo do mundo, eu sou o Rei do lixo, e não você.

PT – Tudo bem, eu não quero ser o rei, eu não ligo pra isso. O senhor pode continuar com o seu reinado, eu só quero continuar trabalhando.

BD – Você quer o lixo?

PT - É claro que eu quero.

BD – Então vi ter que brigar por ele.

PT – Eu não sou de briga...

BD – Não quero saber. Agora ta feito, peque sua espada e lute.

PT – Eu não quero lutar, já disse. Vamos esquecer tudo e pode ficar com seu lixo. Agora eu quero lhe pedir uma coisa. Já que todo lixo do mundo é seu, veja se não o deixa jogado por aí...

BD – Pegue sua espada e lute. Se vencer pode continuar seu trabalho e ser o rei do lixo, agora se perder... (começam a luta. Gritos das mulheres. Pitu vence a luta.)

PT – Eu venci, mas não quero ser o rei de nada, quero apenas catar meu lixo.

BD – Tudo bem, pode continuar com seu trabalho. Só quero pedir uma coisa.

PT – Pode pedir.

BD – Quando cheguei aqui, me encantei por uma linda donzela...

GF – Ah, seu rei...

BD – Essa caixa é a caixa mais linda que já vi em toda minha vida. Peço que deixe que eu me case com ela.

PT – Não é a mim que o senhor tem que pedi. Eu não sou pai de caixa.

CX – Casamento? Como assim casamento? O senhor Rei me pegou desprevenida. Bom... Eu... Eu aceito. Você deixa Pitu?

PT – Se você está certa do que quer, por mim tudo bem. Está concedida a mão da senhorita caixa em casamento.

CX – Eu não acredito! Eu vou casar! Eu vou casar!!!

BD – (tirando o disfarce) Vocês são bobos mesmo.

GF – Ih! É o Balde! Eu acho é bom.

PT – Que brincadeira sem graça.

BD – Só descontei a brincadeira do veneno do rato, agora estamos kits.

CX – Quer dizer que não vai mais haver casamento? Poxa Balde, como você pode fazer isso comigo?

GF – É querida, você vai mesmo ficar no caritó.

BD – A verdade é que você Pitu, é o rei absoluto de tudo isso aqui e muito mais!

PT – Balde, entenda uma coisa. Não é bom ser o é bom ser o Rei do lixo. Por mim não teria lixo em lugar nenhum do mundo.

BD – Poxa Pitu, você não gosta da gente?

PT – Não é isso. O que eu quero dizer, é que não precisava existir lugar como este. Se todo mundo soubesse que muita coisa que vem para o lixo, poderia ter vida nova de novo, vocês não estariam aqui. Se mesmo o lixo que tem que ser jogado fora, tivesse um tratamento melhor, as coisas seriam muito diferentes.

CX – Mas Pitu, se não tiver o lixo pra você catar, você vai viver de quê?

PT – Eu faria outra coisa. Mas não se preocupem, o lixo sempre vai existir enquanto o ser humano viver. O que é preciso é saber conviver com ele. É fazer com que o lixo não mate a gente, entendeu?

BD – Mas você é nosso Rei. Vamos a coroação!

PT – A brincadeira acabou, tenho que ir embora.

GF – Não senhor, um rei não pode faltar a sua coroação. (começa a coroação)

BD – Atenção todos que moram, que passam no reino do lixo. Atenção que sua majestade Pitu vai falar!

PT – Meus caros amigos, tudo isso é uma brincadeira, mas mesmo brincando de ser rei, quero dizer que vou fazer o possível para que todos sejam reciclados e tenham vida útil novamente, e assim não fiquem jogados por aí poluindo tudo. Não vai ser fácil, mas enquanto eu brincar de ser rei, vou fazer tudo para convencer todo o mundo, principalmente gente grande, que o lixo merece respeito e cuidados especiais, e assim eu tenho certeza que nossa vida será muito melhor. O que eu queria mesmo de verdade é que todos fossem, mesmo que de brincadeira, pelo menos por alguns minutos... O REI DO LIXO!!!

BD – Vida longa ao rei!

GF – Viva ao rei!

BD – Viva o lixo! Pitu é nosso rei!

PT – O que é que você tem na caixa?

CX – Eu pensei que era verdade.

PT – Verdade o que?

GF – O casamento.

CX – Fiquei muito chateada, viu balde.

BD – Mas foi metade brincadeira. Eu fiquei mesmo amarradão em você. A proposta do casamento esta de pé. Aceita?

CX – Claro que aceito. Mas aonde vamos casar?

PT – Aqui. Se quiser eu caso vocês.

GF – Desde quando você é padre?

PT – Desde agora.

GF – Nesse caso eu vou arrumar a noiva. Ah! Vou cantar na entrada dela. ( musica. Preparativos, entrada da noiva. Casam-se )

CASAMENTO (MÚSICA – ÓPERA)

ESTAMOS AQUI

PARA O MATRIMÔNIO

COM ALEGRIA E GRAÇA

O CASAMENTO DO BALDE E A CAIXA

SENHOR BALDE

ACEITA SE CASAR COM A DONA CAIXA

POIS SIM

E O MEU CONSOLO

É COMER DEPOIS O BOLO

AH...! AH... AH...

DONA CAIXA ACEITA

SE CASAR SE CASAR COM SENHOR BALDE

HI! NÃO PODE SER, PRESICO IR.

QUE VAI CHOVER.

PT – E o casamento dona caixa?

CX – Esqueça o casamento, preciso me proteger da chuva, senão eu viro lama.

BD – Eu nunca pensei ser abandonado no altar.

GF – Bem feito. Se fosse comigo...eu posso tomar chuva.

CX – Não pode nada. Se você ficar cheia d’água parada, pode ser um foco do mosquito da dengue.

GF – Você gosta mesmo de me botar pra baixo não é?

CX – Não é nada disso, pode acontecer com baldes, pneus, caixa d’água...é só tomar cuidado.

BD – O que foi Pitu? Você está triste?

PT – Toda vez que chove, eu me lembro de peludo, de Pantera e dos cachorrinhos. Já imaginaram quantas enchentes podem está acontecendo neste momento? Quanto lixo deve está impedindo a passagem da água nos bueiros?

GF - Mas a chuva é muito boa.

CX – É a chuva que molha a terra e faz crescer a plantação.

BD – É a chuva que dá água pra gente fazer um suquinho. (entra música)

CHUVA I

LÁ VEM A CHUVA CANTANDO

E PÕE O CÉU A CHORAR

É FESTA DA GAROA

CANTIGA D’GUA SOA

OS PINGOS CAEM NO INVERNO

COMO SE DÁ LEITE MATERNO

DA MÃE NATUREZA INQUETA

SOBRE AS FLORES E FLORESTAS.

A TENPETSDE ASSUSTA

E PÕE O CÉU A GRITAR

É PROTESTO QUE INUNDA

CONTRA O EFEITO ESTUFA

CHUVA II

COMO É BOM

PULAR,E CANTAR E DANÇAR

NA CHUVA, CHUVA

COMO É BOM

CORRER, SE MOLHAR E FICAR...

NA CHUVA , NA CHUVA

CHUVA É SEMPRE

DIVERTIDO ESTA NA CHUVA

É SEMPRE MAIS GOSTOSO

ESTAR NA CHUVA

TOMAR BANHO DE BICA DÊLICIA

JOGAR BOLA DE GUDE NA RUA,

ROLAR NA GRAMA, SE DEITAR

BRINCAR NA ÁGUA SEM PARAR...

CHUVA...

PT – É pessoal, a chuva passou, chegou a hora de ir.

GF – Mas já?

PT – O trabalho me espera!

CX – Mas você nem falou do seu grande sonho.

PT – Meu grande sonho é impossível.

CX – Vai Pitu, fala qual é o seu grande sonho.

PT – Eu queria chegar bem perto da minha mãe. O mais perto possível.

CX – Mas sua mãe não virou uma estrela?

PT – É isso.

GF – Como você vai saber qual estrela é sua mãe? São milhões delas.

PT - Mas só uma brilha daquele jeito. Só pode ser ela.

BD – E se a gente construísse um foguete?

CX/GF – É isso!

PT – Um foguete? É pode dá certo. Mas onde a gente vai arrumar peças pra construir o foguete?

BD – No lixo, onde mais? P lixo é mágico e tem seus mistérios. Vamos lá! (entra musica. Começa a construção do foguete)

BD – Pronto. Agora é só lançar.

PT – E o combustível?

GF – Como você se apega a detalhes.

CX – Ele tem razão. E o combustível?

BD – Pensamento.

PT – Pensamento?

BD – Pensamento, imaginação, fé, esperança, vontade. Vamos Pitu, suba no foguete e pense.

GF – Pitu, se der passe no céu dos animais e dê lembranças a Peludo, pantera e os cachorrinhos.

CX – Boa viagem Pitu, e boa sorte. Se você encontrar uma estrela quadrada é a minha mãe, diga a ela que eu estou muito feliz e que eu sou uma caixa de televisão de plasma de 42 polegadas.

BD – Vamos, não temos mais tempo. Valeu Pitu! E quando você passar pelas nuvens e se elas forem mesmo de algodão doce, trás um pedacinho pra mim.

PT – Obrigado meus amigos. Hoje eu sou a pessoa mais feliz do mundo. Voltarei logo. Espero que todos realizem seus sonhos. Adeus!

BD – É isso aí. A gente pensa e faz a contagem.

GF – A gente pensa e faz a contagem progressiva.

CX – Regressiva.

GF – Foi o que eu disse.

BD – Não comecem. Vamos lá! 10, 09, 08, 07, 06, 05, 04, 03, 02, 01, já!!! (não funciona)

GF – O que aconteceu?

BD – Algo saiu errado.

CX – O que será?

PT – No fundo eu sabia que não ia dá certo.

CX – Vamos tentar novamente.

GF – É isso!

BD – Vamos começar de novo?

PT – Não. (desmontando o foguete) Eu tentei o meu sonho e não deu certo, agora é a vez de vocês. Não faz mal, vou continuar por aqui. Já aprendi a só admirá-la a distância. Vamos embora, agora é hora da realidade, não se preocupem comigo, eu sei me virar sozinho, ou melhor, eu e minha velha amiga Cacilda sabemos nos virar, não é Cacilda? Vamos embora. (saem)

(num domingo)

VOZ EM OFF - Atenção todas as emissoras de todo o mundo para o toque de 08 segundos. Vai entrar no ar o programa O LIXO É UM SHOW, com a estrela internacional CAIXA STAR!

CX – Boa tarde mundo! Aqui estou eu e este é o meu sonho. O programa de hoje é dedicado a uma pessoa que torna possível muitos e muitos sonhos. Sonho de uma vida melhor, de um ar mais limpo, sonhos de pessoas e lixo, o nosso amigo Pitu!!! (Pitu entra) O nosso público não pode esperar. Este Show tem o oferecimento dos sorvetes Ki – mel , um sonho de sorvete. (entra o balde) E agora traremos pra vocês, uma das maiores cantoras do mundo. Com vocês, LADY GARRAFA. (ela canta)

GENTE EU TÔ TÃO BONITA

LINDA, EU QUERO DIZER

OLHA , UMA COCA-COLA

JÁ TEM INVEJA DE MIM

É SIM, EU SOU FRANCESA.

MESMO QUE DO PARAGUAI

AI AI AI AI AI

MON AMUR CHERRY

AVEC MUA

NO CINEMA ARRASAR

MAIS UM TAKE CORTA

VOU GANHAR UM OSCAR

HOLLYWOOD, VOU BRILHAR.

CX - Obrigada Lady Garrafa e obrigada também ao sorvete Ki-mel. O LIXO É UM SHOW volta na próxima semana ou quando você imaginar. (musica) Que bom que você veio Pitu.

GF – Onde está a Cacilda?

PT – Hoje é folga dela.

BD – Viu? Graças a você realizamos os nossos sonhos.

GF – E você Pitu, já realizou o seu?

PT – Não. Não realizei.

CX – Continua tentando, Pitu.

BD – Pitu, você já tentou fazer o contrário?

PT – Como assim?

BD – Já que não conseguiu ir até a estrela, porque você não pensa que a estrela , a sua mãe venha até aqui.

CX Muito boa idéia.

GF – Você lembra Pitu, que eu queria ser uma cantora “líxica”? Pois é, como eu não consegui, modifiquei um pouco meu sonho, e hoje sou uma cantora”papelar” brasileira.

PT –É mesmo uma boa idéia. Vocês me ajudam?

BD – A gente torce pra que dê certo, mas esse pensamento tem que ser só seu. Adeus Pitu!

GF – Pense forte Pitu.

CX – Pensamento. Adeus e obrigada por tudo.

PT - Pensar forte. Pensamento, imaginação, esperança, vontade. Pensar forte. (entra musica. Estrela aparece).

ESTRELA MÃE

ÉS MINHA ESTRELA AMIGA

QUE BRILHA E ME CONDUZ

POR UM CAMINHO PRATEADO

POR UM CAMINHO DE LUZ

A SAUDADE BATE FORTE

E FICO A TE PROCURAR

OLHO O CÉU E LÁ ESTÁS

ÉS MINHA ESTRELA A ME GUIAR

MINHA ESTRELA MÃE

MINHA ESTRELA LINDA

BRILHA UM POUCO MAIS

NÃO ME DEIXE AINDA

BRILHA UM POUCO MAIS

MINHA ESTRELA LINDA

FIM

luiz de lima navarro
Enviado por luiz de lima navarro em 23/09/2009
Código do texto: T1826807
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