Formigueiros (A cidade das formigas)
Formigueiros
Assim se chama a cidade das formigas.
E como em todos os formigueiros há a formiga-rainha.
A formiga-rainha é quem dá as ordens para toda a cidade.
Como todos nós sabemos as formigas vivem trabalhando sem parar.
No verão elas trabalham dobrado para armazenar alimentos para quando chegar o inverno, não faltar o que comer.
A formiga-rainha decidiu formar grupos de formigas para fazerem revezamentos.
Enquanto alguns saiam para o trabalho em busca de alimentos, outras descansavam.
Um certo dia a rainha ordenou alguns grupos de formigas jovens para o trabalho.
Elas estavam trazendo pedaços de folhas bem grandes e pesados.
Era uma trombando na outra por causa do tamanho e do peso das folhas.
No meio de toda essa confusão, uma formiguinha se perdeu das outras pois ela estava muito atrás e acabou tomando outro caminho sem se aperceber pois estava muito cansada.
Ela continuou andando mas logo viu que estava andando em círculos e sozinha.
Vendo que não conseguia achar o caminho de volta para formigueiros, ela parou, pensou com calma e exclamou.
-- Xí! Estou perdida mesmo e não consigo encontrar o caminho certo de voltar para casa.
-- Não é nada bom ficar sozinha no meio do bosque. É muito perigoso.
-- Mas não vou me apavorar e nem ficar chorando para não chamar a atenção de alguém que possa me fazer algum mal.
-- Bom. Não adianta eu ficar andando com todo esse peso nas costas sem rumo.
-- Acho que vou me deitar aqui nesta sombra sobre a minha folha e descansar um pouco.
-- Quando as meninas chegarem em Formigueiros sem mim, a rainha mandará alguém à minha procura.
-- É isso mesmo. Vou ficar quietinha, esperando e descansando aqui.
-- Aí, que medo! Não, não posso ficar com medo. Tenho que ter só pensamentos bons e positivos.
-- Também tenho que ter fé e acreditar que vou arranjar um jeito de voltar para casa.
Nesse meio tempo, as outras formigas de teu grupo já estão á procura da amiga perdida no bosque pois estão com medo de chegarem em casa faltando uma delas.
Enquanto isto, a formiguinha perdida está descansando na sombra sobre tua folha e nem se mexe de tanto medo pois estava perdida e sozinha.
Quando der repente ela ouve um barulho aterrorizante e logo começou a tremer e se encolher ao máximo que podia.
Ela criou coragem e resolveu levantar-se, mesmo com todo aquele medo e trêmula para ver o que estava fazendo aquele barulho tão feio.
Era um grilo esfomeado e muito mal que havia chegado, justamente ali perto dela. Ele foi comer as folhas que faziam as sombras onde ela estava.
A formiguinha, quando viu aquele monstro gigante começou logo a chorar de tanto medo e quis pegar no seu pedaço de folha e sair correndo dali.
Mas o grilo esfomeado e mal, a viu e já gritou.
-- Ô, sua formiga intrometida, sai dai e deixe a minha comida ou então eu lhe piso e depois a como junto com as folhas.
A formiguinha não conseguia nem respirar de tanto pavor mas mesmo assim tentava continuar andando, quase se arrastando com a folha nas costas.
O grilo se enervou muito, achando que ela o estava enfrentando e disse:
-- Ô, formiguinha teimosa!
-- Vou ter que massacrá-la para deixares minha comida em paz?
Ela se jogou ao chão e ficou ali quase que imóvel e sem dizer uma palavra pois tinha já tinha perdido todas as forças.
E quando o grilo veio para pisar a formiguinha mesmo eis que aparece uma linda borboleta branca, que por sorte da formiguinha estava passando por ali e viu que o grilo ia matá-la mesmo.
No mesmo instante a borboleta voa bravamente para cima do grilo e brigou com ele em defesa da formiga.
A borboleta vence a briga pois ela era bem maior que o grilo. Ela só quis dar um susto nele dando uns tapas.
O grilo ainda queria ter razão mesmo depois de ter apanhado da borboleta.
Começou a refilar com ela dizendo:
-- Porque você está defendendo esta porcaria de formiga sendo que quando um de nós estamos feridos ou mesmo sem estarmos feridos, ela vem com o exército dela e nos devora vivos se não tivermos forças para fugir?
A linda borboleta lhe dá uma grande lição moral com as tuas respostas dizendo-lhe:
-- Olha aqui grilo. Em primeiro lugar, ela não é uma porcaria. É um ser vivo como eu e você.
-- Em segundo lugar, é uma formiguinha que está sozinha e indefesa e que apenas estava levando um pedacinho de folha para comer.
-- Você deveria ter vergonha na tua cara feia e nunca mais querer fazer mal à alguém bem menor que você.
-- E para terminar, Deus ensina à toda a sua criação que nunca, jamais devemos pagar o mal com o mal.
-- Olha o teu tamanho e olha o dela, seu covardão.
O grilo baixa a cabeça e todo sem jeito diz:
-- Está bem, borboleta. Ouvindo tuas palavras eu vi que estou errado em pensar e agir assim.
E aproximando-se da formiguinha passou uma de tuas patas na cabeça dela e disse:
-- Formiguinha. Você perdoa o mal que lhe causei?
A formiguinha quase sem forças e com a voz trêmula e meio rouca, responde:
-- Senhor grilo. Eu não tenho que perdoá-lo porque não senti ódio de si. O que senti foi medo de morrer pisoteada.
-- Mas ao mesmo tempo tive muita fé que Deus ia enviar um anjo para me salvar e ele enviou.
-- Sabe senhor grilo. Quando chegar em casa, vou contar à formiga-rainha de toda a revolta que todos bichos têm com as formigas.
-- Tenho certeza que ela vai pensar muito em tudo isto.
O grilo pede desculpas à borboleta pela besteira que havia feito e a borboleta o desculpou e continuaram amigos e ele foi comer para outro lado.
A formiguinha virou-se para a borboleta super admirada e agradece. Dizendo:
-- Muito obrigada dona borboleta. A senhora é linda!
-- Branquinha. Parece um anjo-da-guarda que Deus mandou para me salvar.
A borboleta meio sem jeito diz à formiguinha:
-- De nada, minha jovem. Não fiz mais que minha obrigação. Agora quero saber porque você está aqui sózinha e onde você mora.
A formiguinha falou o que aconteceu e também disse onde morava.
A borboleta disse:
-- Então você está perdida e não sabe o caminho de volta à casa?
-- Sim, dona borboleta. É isso mesmo.
-- Amiga formiguinha. Suba em minhas costas e traga o teu pedaço de folha com você. Vou levá-la de volta para casa. Só assim ficarei tranquila.
A formiguinha super feliz agradece a borboleta mais uma vez e sobe nas costas dela levando tua folha.
A borboleta começa a voar rumo à Formigueiros. Vira-se para ela e diz:
¬¬-- Formiguinha. Você está gostando de voar comigo? Olha! Estou voando com calma e com cuidado para que você não caia pois enquanto você estiver comigo serei responsável se algo de mal lhe acontecer.
A formiguinha responde feliz e alegre:
-- Se estou gostando? Estou adorando voar consigo dona borboleta.
-- Nunca me diverti tanto assim na minha vida. Estou sentindo uma sensação tão gostosa com este vento fresquinho batendo em minha cara.
-- Ah! As meninas vão ficar morrendo de inveja de me verem voando assim.
A borboleta continua a voar toda orgulhosa com o bem que estava fazendo a um ser que quando sozinho, se torna ainda mais pequeno.
Quando chegaram na cidade de Formigueiros, a borboleta pousou bem no centro e ninguém viu que a formiguinha perdida estava em suas costas.
Como nós sabemos, as formigas são carnívoras mesmo e nisso o grilo estava com toda razão. Elas não perdoam um inseto parado por perto.
Em poucos instantes o formigueiro estava em volta da borboleta e ela já ouvia umas dizerem para as outras:
-- Vamos atacá-la. Não vamos deixá-la escapar. Temos que aproveitar essa chance.
De repente um grupo de formigas começou a picar as patinhas da borboleta que só pulava de dor mas tendo o cuidado de não derrubar a formiguinha que ainda estava nas sua costas. Sentindo as picadas doídas dizia:
-- Ai, ai, ai… Não façam isso comigo. Vim aqui em missão de paz. Não vou lhes fazer mal algum. Sou vossa amiga.
A formiguinha ao ver aquilo e notando que a formiga-rainha não estava por ali, correu pelas costas da borboleta, subiu em sua cabeça e deu um só grito bem alto com as amigas:
-- Parem com essa maldade. Vão já chamar a nossa rainha agora pois vou contar à ela tudo o que aconteceu. Quero ver se vocês continuarão umas esfomeadas, maldosas e vão comendo tudo que vêem pela frente.
-- Ao invés de vocês estarem preocupadas à minha procura, estão pensando em comer, comer, comer…
As formigas pararam no mesmo instante em que ouviram a voz da formiguinha. Abaixaram a cabeça e ficaram ouvindo o pequeno grande sermão sem responderem nada à ela.
Ficaram sem entender o porque da companheira estar ali encima da cabeça daquela borboleta branca e enorme, muito brava e dizendo todas aquelas coisas para uma cidade inteira de formigas.
Quando a formiguinha olha para a porta do formigueiro maior, vê que a formiga-rainha está lá parada e muito admirada ouvindo ela falar daquele jeito com todos da cidade.
A formiguinha pára de falar e chama a formiga-rainha.
A rainha se aproxima e faz umas perguntas:
-- Mas o que está acontecendo aqui formiguinha? Porque você está tão brava falando assim com todos? E o que faz esta grande borboleta com você em sua cabeça se você ficou perdida no bosque sozinha e ninguém conseguiu te encontrar?
A borboleta com as patinhas doloridas e sangrando um pouco esperou a rainha terminar de fazer as perguntas, baixou a cabeça e disse:
-- Já podes descer formiguinha. E muito obrigada por ter me salvo a vida. Agora vou falar com a rainha.
-- Boa tarde dona formiga-rainha. Eu encontrei uma de suas jovens formigas perdida no bosque com muito medo e assustada. Então achei melhor trazê-la de volta para casa sã e salva. Foi isto que aconteceu.
A rainha só respondeu o cumprimento da borboleta e ficou ouvindo.
A formiguinha quis contar tudo o que havia acontecido detalhadamente em voz alta e clara para que todos a ouvissem.
Cortou a borboleta dizendo:
-- Dona borboleta. A senhora me desculpe mas não foi só isto que aconteceu não.
E assim foi. Ela contou tudo o que realmente acontecera com ela no bosque e todos ficaram quietos prestando muita atenção.
A rainha ficou ali ouvindo tudo e muito pensativa. A formiguinha terminou de contar o que havia se passado com ela e disse para a rainha:
-- Rainha. Foi isto que aconteceu comigo de verdade. Ela salva-me a vida arriscando a dela enfrentando aquele grilo gigante, traz-me em casa tendo todo cuidado comigo, chegou aqui e arriscou a vida mais uma vez por mim.
-- Porque minha família, assim que a viu pousando, já foram logo a atacando. Agora ela está com as patas feridas e sangrando e estou me sentindo culpada de tudo isto.
A borboleta diz à formiguinha:
-- Não se preocupe comigo formiguinha. Vou ficar bem logo. Não é culpa tua e de ninguém. Todos nós temos de nos alimentar, não é?
A rainha ficou com o coração aos pedacinhos ouvindo tudo aquilo e disse à todos:
-- Todos vocês prestam bem atenção no que vou falar e ordenar aqui em nossa cidade e que servirá para todos.
-- Em primeiro lugar a senhora borboleta vai ficar aqui e ser nossa hóspede até que ela fique completamente curada para voltar para casa.
-- Ela vai ser tratada e cuidada pelo grupo de formigas que a atacaram e por isso, aqueles que fizeram isto podem irem providenciando casa, cama, comida e medicamentos. Também exijo que vocês a tratem muito bem e com muito respeito. Ouviram?
-- E outra coisa que também vai ficar muito bem claro aqui em nossa cidade.
-- Vou declarar a lei que, de hoje em diante, as formigas da cidade de Formigueiros não mais comerão nem um ser vivo. O bosque é grande. Temos alimentos para todos e vamos nos alimentar só com vegetais. E deixaremos os insetos viverem em paz e aquele ou aquela que não obedecer minhas ordens mandarei prender e deixarei que morra de fome. Estamos entendidos?
A formiguinha, muito feliz por tudo ter acabado bem, agradeceu a formiga-rainha por ela ter sido tão justa e feito o que era certo.
A formiga-rainha olha para a formiguinha e diz:
-- Formiguinha. Eu é que tenho que cumprimentá-la pelas lições de vida que destes hoje para uma cidade inteira.
-- Hoje você nos mostrou como amarmos de verdade uns aos outros e sem restrições.
-- Lhe digo mais. Se você continuar assim, serás minha sucessora.
E assim termina esta estória com um final feliz e também nos ensinando que, com o amor pelo próximo, reconstruiremos um mundo novo e muito melhor que este em que vivemos agora.
15/09/2009
(Também publicado no Recanto como e-livro)