A LENDA DO GUARANÁ

A LENDA DO GUARANÁ
Jorge Linhaça

Na aldeia dos índios Maués
Nasceu uma bela criança
Olhos cheios de esperança
Coração cheio de fé

Por todos era querido
Futuro grande guerreiro
Filho único e primeiro
De um casal bem conhecido

Curumim colhia frutas
E brincava pela mata
Quando uma sorte ingrata
Fez a sua vida curta

Pois eis que Jurupari
O deus de todo o mal
Sentiu inveja afinal
do pequeno curumim

Transformou-se em serpente
E dando um bote mortal
Feriu-o de forma fatal
Deixou triste toda a gente

Curumim ficou sumido
Uma noite e mais um dia
Pois ninguém dele sabia
Nem do fato acontecido

Todos deixaram a taba
Logo que amanheceu
Pra ver o que aconteceu
E onde o menino estava

Encontraram o seu corpo
E o lamento foi geral
Ninguém julgava afinal
Encontrá-lo assim já morto

Mas eis que uma tempestade
Surgiu no céu de repente
E um raio resplandecente
Feriu a terra da herdade

A mãe que ainda chorava
A voz de Tupã ouviu
E o recado transmitiu
À quem ali se encontrava

Deveriam enterrar
Os olhos do curumim
E nasceria assim
Uma planta em seu lugar

Assim fizeram por lá
Plantaram os olhos do menino
E aos poucos foi surgindo
E planta do guaraná

A semente se parece
Com os olhos do menino
Quando os frutos vão-se abrindo
E o miolo aparece

Centros negros, arilos brancos
Como os olhos do curumim
Porque Tupã quis assim
Secar da tribo o seu pranto.
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Arandu, 8 de setembro de 2009