ERA UMA VEZ

Não tinha sorrisos diante de seu silêncio.

Peregrina de espaços tão limitados,

Diante de suas inquietações frustrantes,

Uma cadeira de rodas era seu mundo,

Tão pequeno que não via nem crianças,

Com as quais gostaria de se interagir,

Tendo suas amiguinhas sapécas,

Para com elas até confidencias trocar.

Imaginar-se uma bailarina esvoaçante,

Deslizar por palcos onde poderia bailar,

Presença bonita na ponta dos pés,

Com sapatilhas douradas tão graciosas,

E porte altivo para mostrar suas graças,

Levando ao delírio platéias em aplausos,

Que se encantavam com sua formosura.

Desejos ocultos que foram emergindo,

E para os pais revelou seus segredos,

De ser bailarina nos palcos da vida,

Mesmo que tivesse todas limitações,

Que compreendia por ser tão altiva,

Dotada de graças que Deus lhe segredou,

E aceitava sem jamais se rebelar.

Primeiros passos ainda que vacilantes,

Com barras assimétricas para nele se apoiar,

Músculos fracos que foram se amoldando,

Nas pernas graciosas que queriam dançar,

Mostrando surpresas até aos incrédulos,

Que não acreditavam na sua recuperação,

Mas que pela força e altivez conseguia.

Presença constante de amigas tão lindas,

Que sempre sonhou estar junto delas,

Pois torciam por ela para dar-lhe energias,

Que foram fluindo num despertar de magias,

Pois Deus lhe atendeu suas preces tão puras,

E cada dia foi aprimorando todas suas graças,

Até calçar sapatilhas e ficar na ponta dos pés.

Festival de danças tão ansiosamente aguardado,

Lá estava a menina altiva sem vacilar seus passos,

E aos acordes da música de sonoridade divina,

Foi desfilando sua graça qual bailarina serena,

Porte altivo num rosto de irradiante beleza,

E que pais orgulhosos com lágrimas nos olhos,

Viram a filha graciosa deslizar formosuras.

08-09-2009