Menina gorducha de fivela
Quem não conhece a Samantha,
A menina de fivela,
De cabelos coloridos
Que tem a bota amarela?
A levada da breca,
Do olho cor de canela?
A famosa pão-de-ló
Não aguenta brincadeira,
Ela é a mais fofinha
E sai sempre na carreira
Quando chamam de cotó
A menina roladeira.
Corre atrás dos moleques
Não os pega na carreira
Cansa, para e desiste
Quando dá a suadeira.
Ela é bem vingativa
Perde sempre a estribeira.
Mas quando por traição
Chega perto do xingador
Arremessa-lhe um soco
Destemperando a dor
Se instalando a confusão
Entre ela e o agressor .
É esse o dia-a-dia
De todos os amiguinhos
Aqueles de coração
Formando o clubinho:
"Os cidadãos do futuro"
Pra mudar esse mundinho.
A Samanta tinha
Um ursinho de pelúcia,
Acredita, nobre amiga
Que ganhou da prima Lúcia
Tão velhinho, o bichinho,
A cobiça da Marlúcia.
Ele tinha carapuça.
Nenhum amigo sabia,
Que aquele era o disfarce
Que a menina fazia
Pra esconder chocolate
Que ela mesma comia.
Nas costa tinha um zipper
Pra facilitar a abertura
De quando batia a fome
A menina ir na usura:
Pegar de cheio os doces
E se fartar na fartura.
Ela não o emprestava
Fosse quem pedisse um instante
Nem que prometesse o mundo
O tal do meliante
Mesmo assim, não tinha jogo
Pedia pra passar rasante!
A mãe vivia a reclamar
Dos maus hábitos da filha
Falava alto e com pressa,
Parecendo ter pilha.
Comia sem mastigar,
Botava tudo pra dentro, depois
Botava tudo pra fora...
Às vezes a mãe tinha de esconder
A chave da despensa na gola
Lugar que ela nem imaginava
Que tinha uma abertura secreta.
Estava sempre a mastigar
Não parava aquela boca
De tudo comia um pouco
Com fome ficava louca.
Quando via alguma coisa
Se quer mesmo saber
Ia logo pondo o dedo
Não importava em que...
Se era doce ou salgado
Se era quente ou frio
Se era insosso ou salgado
Se era mole ou duro
Queria provar de tudo
Tinha uma gula descontrolada -
Era uma peste, a danada -
Gritava a vizinha atordoada -
Na venda da esquina, comprava e comprava e comprava...
A menina gorducha tinha
uma energia interessante
adorava quebrar as luzes dos postes
pegar carona nos ônibus.
Quando via uma carroça
Logo, logo inventava dor nas pernas
E o senhor carroceiro, amigo da família
A levada para casa faceira
E de pagamento, ele não sabia
Que quando o pneu da carroça secava
Era ela que fazia...
Com a ponta de sua fivelas
Os pneus da carroça esvaziava
Deixava o homem louco
Para de sua janela estourar em graça
Ria e fazia bolas do chiclete que mascava
Ninguém sabia como ela conseguia
Fazer essas coisas ao mesmo tempo
Sorrir e fazer bolas de chicles
Que sempre lhe estourava na cara
Deixando-a sem graça e morrendo de fome.
Samantha era melhor amiga
da serelele menina Aparecida
as duas juntas eram um terror
na escola, na praça e na esquina
em todos os cantos que estavam
tinham ideias super malucas...
inventavam balanços nas árvores
corridas de saco e de limão na colher
de tirar banana e coco da feira
sem feirante nenhum dar fé
arribavam as saias das meninas
baixavam os calções dos meninos
empinavam pipas, jogos de castanhas
as duas nunca se estranhavam
eram amigas de todas as horas
até nos dias de chuva e noites escuras.
No fundo, no fundo
era uma menina dengosa
adorava carinhos na cabeça
gostava quando a mãe de sobra
alisava-lhe os longos cabelos
fazendo-lhes as belas tranças
depois cheirava-lhe o rosto
e fazia-lhe córcegas no pescoço
balbuciava-lhe palavras de afeto
e sentava-lhe no colo, a danada
pesada que só ela ...
_ É a filhinha da mamãe _ dizia _
A coisa mais linda dessa terra,
a menina mais fofinha e delicada
que Deus havia colocado na vida...
A menina se derretia com tudo isso
saia correndo, toda corada e banguela
ainda por cima tinha caido um dente
logo na frente da boca dela
quando naquele momento
mordia um pedaço de rapadura
em sua boca tinha uma janela...
motivo de muito riso na turma
que tirava-lhe a paciencia.
Era uma menina esquentada
mas na hora da amizade cerrada
era a primeira a marcar presença...
Essa Samantha, gorducha de fivela
é a Samantha pão-de-ló...
Menina também levada da breca.