Canção de dezembro
Sentia um perfume delicado no ar, aquele lugar não me era estranho, parecia um sonho bonito que eu tive um dia, ao qual eu não me lembrava bem. Os ilustres no chão eram tão bonitos, bem desenhados, e com muita dedicação e trabalho foram executados, o lugar era enorme e encantador. Olhei pro teto, e notei mais desenhos, de ambas as partes pareciam do tempo medieval, e também notei vidraças nas paredes. Naquele momento, ouvi uma música, parecia estar distante, era um som bem baixinho, mas muito agradável. Então fui em busca daquele som, parecia mágica. Andando por aquelas enormes escadas o volume aumentava suavemente, enquanto caminhava em minha busca percebia os demais detalhes da casa, os quadros bem aprimorados com um colorido embaçado, o corrimão das escadas era bem escorregadio, dourado bem forte, cor de ouro. As notas se passavam, e então me deparei com uma porta, o que poderia haver atrás dela? Afinal quando entrei naquele lugar estava um silêncio surpreendente, um pouco tenebroso, maravilhoso para uma meditação, que foi quebrado apenas por aquela música. Atrás daquela porta poderia haver coisas normais, coisas que ficam atrás de qualquer porta, eu poderia também encontrar um paraíso, maior ainda do que eu já tinha visto até agora, e me surpreender, ficar com aquela imagem pra sempre na cabeça, ou o meu maior pesadelo. Toquei o corrimão, o que eu poderia temer tudo bem que eu era uma intrusa, mas o que poderia acontecer, tudo bem que me alertaram sobre os perigos de ser uma herdeira do trono real, mas o que eu poderia fazer? Então destemida eu abri aquela tão inusitada porta, acompanha de um poço de intuição. Vi uma moça, com roupas finas virada de costas em sua cadeira, percebeu minha presença pelos enormes espelhos que tinham naquele quarto. Seus cabelos grisalhos estavam presos com um coque, parecia um penteado bem trabalhado e demorado, muito bonito, ao seu lado eu vi uma coroa, coberta de diamantes, raríssimos, só a rainha poderia chegar perto dele. Foi então que conclui, era ela, eu tinha certeza, minha querida avó que eu tanto esperei e procurei no mundo, agora eu era quem iria carregar aquela coroa, precisava me preparar psicologicamente para aquilo, mas antes precisava curtir bastante tudo o que eu perdi, há bastante tempo atrás. Trocamos um longo abraço, conversamos e com a linda canção que cantávamos quando eu era pequena e ela cuidava de mim, nos preparávamos para a grande apresentação da entrega do trono. Nunca me esqueci daquela canção, a canção de dezembro, que tocava em nossos corações sempre que cantávamos juntas. Era o símbolo da nossa amizade, e símbolo do cuidado com que ela dava as coisas pequenas da vida, ela era, é, e sempre será meu maior presente de natal, e enfim, da vida.
*Esse é um trecho do filme Anastácia, na minha versão, e com mínimas modificações.