Menina de trança, sapeca; Menina levada é essa...

Menina sapeca levada da breca

A menina travessa, peralta, enganou a vista da mãe dela

Pulou a longa e alta janela, foi para a rua, escondida...

Brincar com os colegas! Brincar com as colegas!

Atravessando logo em frente a pista, olhou rapidamente para o lado

Depois, sem atenção, para o outro, mirou na frente o seu ponto

Fincou o pé na carreira, sem remorso, achando que estava enganando

O bobo do automóvel acelerado que não respeitou as linhas

Da travessia de pedestre, o agoniado.

No meio do caminho, encontrou uma mangueira

Subiu lá em cima, no topo, sem fazer menor careta.

Chupou tanta manga verde, chupou tanta manga amarela

Que nem percebeu, distraída, o tempo ligeiro passar

Enquanto lá debaixo o povo tagarela:

_ Cuidado menina, você pode se machucar.

Entre tantas gargalhadas, a menina boca suja de manga, sapeca

Pendurou-se no galho da mangueira, soltando as compridas pernas

Chegou lá em baixo em cambalhotas, correndo em disparada, a magricela

Sem ninguém pegar nela, nem ela...

Na casa da amiga, chegou esbaforida, jogou pedra, a danada, na janela,

Era o tal sinal do combinado, da destemida galera.

Apareceu de repente, um senhor de bigode

_E agora, meu Deus? Só se salva quem pode!

Escondeu-se bem rápido por trás do fedido lixeiro

Já não agüentando todo aquele mau cheiro

Tomou de imediato a espirrar de maneira tão alta, gasguita

Que o senhor de bigode matou a charada bendita:

- Só podia ser coisa da travessa menina, de pernas compridas, longas e finas

De tranças no cabelo, com laços e fitas, a menina de sardas, a tão famosa Aparecida.

_ Aparecida não é gente _ Gritava feroz a vizinha _

É uma menina peralta, de alma levada e amarela,

É uma sunguela, dentuça, que vestindo a carapuça

Parece uma caipora, e além de tudo é inventosa:

Inventa dor de dente, inventa dor nas costas;

Inventa tanta dor, só para faltar à escola.

A serelepe menina ainda de costa

Fazia cara feia, parecendo não gostar

Do que disse a vizinha do outro lado de lá.

Fazia uma careta daquelas de menina banguela

Apontou-lhe o dedo e disparou em reta...

- Quem chegar por derradeiro... - era a ordem dela.

Logo atrás apareceu a colega

Uma menina gorducha de macacão e fivelas

Nos cabelos compridos, pretos que só ela.

A menina Samanta levada da breca,:

_ Outra criança inventosa - Gritava a vizinha da janela.

E depois apareceu o Bené, dito menino quatro olhos,

Usava óculos fundo de garrafa, e ainda por cima, zarolho...

O menino enxerga tanto que o óculos parecia desnecessário

Para as astúcias do danado que para tudo tinha um plano.

Chegou o Alfredo, conhecido catita:

Magro, ruivo e raquítico, as pernas todas marcadas

Com grandes marcas de ferida.

Era um menino tinhoso, que adorava invenção

E todas elas acabavam em grande confusão:

_ Certo dia, dizia a vizinha, num jogo de bola de meia

Jogou em cima de minha casa e quebrou várias telhas

Logo em cima da televisão. Na primeira chuva, meu Deus

Estava instalada a questão. Era tanto fogo de dentro

Que tivemos de chamar o pai, pai que nunca veio, o demo,

Responder pelo malcriado rapaz!!!

E todo esbaforido, surge da rua de baixo

O temido menino bola: gordo, branco, alto

Adorava soltar sola alta, era um menino de hábitos irreparáveis...

Quando o viu de longe, tratou logo de fechar a janela

A distinta vizinha que de todos dava conta...

Este era o menino Jerônimo, mais conhecido como apito

Comia tanto o moleque, e adorava roubar pirulito.

Todos se confiavam nele porque a todos ele protegia

Em troca ganhava doces, e ai daquele que não quisesse

Sua honrada companhia.

A turma toda montada, era hora de mais um plano

Quem o trazia na cachola era a Aparecida dos encantos.

Odiava o nome dela, mas era a líder do bando

Além de ser a mais velha menina de tantos planos.

Do outro lado, o Escurinho, apelido do João Ricardo

O menino negro de cabelo comprido, além de todo trançado

Tinha brinco na orelha, era um moleque engraçado

Andava de moleta, corria, parecia um mau olhado

Queria ser cientista, quando crescesse, sempre dizia o danado...

_ João Ricardo não tem pai, mora na favela ao lado -

Gritava a vizinha escondida de dentro de sua casa -

É um menino encapetado, de andar desgovernado

Imagine sem moleta, iria voar esse mal-assombrado.

A menor de todas era a Foca, de cabelos partidos ao meio

Andava sempre de chupeta, e de lancheira no recreio

Era uma menina tata, de longas saias rodadas

Falava pelos cotovelos, era então a Rosália

Estava sempre de guarda, os pais eram evangélicos

Nunca sabiam o paradeiro da filha caçula, danada

No meio desse tiroteio.

Esta é a turma de rua,da menina peralta, tagarela

A turma de planta encrenca, todos levados da breca...

Turma de opostos e iguais, soltos sempre por aí

Sempre inventando coisas pelo prazer de se divertir.

Percebem que as diferenças, fazem deles todos iguais

Porque é pela amizade que fazem coisas anormais,

Anormais aos olhos daqueles que estão sempre a vigiar

A liberdade daqueles que só querem, na verdade, brincar.