O REINO DAS ÁGUAS TURVAS

O REINO DAS ÁGUAS TURVAS

Jorge Linhaça

Havia um lugar, não muito distante daqui, que possuía um ribeirão.

Mas infelizmente não era um ribeirão Lobatiano, de águas límpidas.

O " nosso" ribeirão, tinha águas turvas e escuras.

Nesse ribeirão vivia o rei Cascudo I e a sua corte. Zé Caramujo era o seu primeiro ministro.

Nem sempre o reino fora assim, muitos e muitos anos atrás, o riacho era claro,

em suas águas cristalinas viviam peixinhos multicoloridos a nadar para lá e para cá.

Aconteceu, no entanto, que as águas foram escurecendo e os peixinhos desaparecendo.

Alguns seguiram a correnteza para longe dali, procurando um lugar melhor, outros

acabaram ficando até a sua morte e não deixaram descendência naquelas águas.

Por fim, algumas espécies se adaptaram ao reino agora turvo.

Volta e meia, em meio a uma chuva mais forte, as águas se tornavam mais claras

e alguns raios de luz , quando a chuva parava e o sol voltava a brilhar, atingiam

o fundo do ribeirão turvo. Os peixinhos já desacostumados com a luz, tinham as

reações mais diversas.

Alguns corriam para chamar os outros para brincar sob os raios do sol mas é claro

que a maioria sentia-se ofuscada, os olhos desacostumados com a luz, doíam.

Não faltavam os que amaldiçoassem a luz e aos que gostavam dela.

Rei Cascudo I estava entre os que preferia a comodidade das sombras,

até porque, qualquer voz dissonante em seu reino era encarada como uma ameaça.

Em um outro local, não muito distante dali, vivia um grupo de peixinhos que

se ocupava de encontrar soluções para os problemas que afetavam a tantos outros.

O rei cascudo e seu ministro Zé Caramujo,não toleravam a presença desses peixinhos,

principalmente a de João Lambari, mas volta e meia deparava-se com panfletos dele

a serem distribuídos pelo seu reino de águas turvas. Isso o deixava incomodado e

chegou a estabelecer decretos, que Zé Caramujo se encarregava de cumprir, proibindo

que as mensagens de João Lambari circulassem em seu reino.

Claro que isso foi ficando cada vez mais difícil, as histórias de João Lambari eram

contadas de boca em boca e o decreto acabou caindo quase que em desuso.

João Lambari, por seu lado, não fazia a menor questão de viver naquele reino.

Continuava a questionar o que julgava errado e a buscar soluções contra a acomodação

dos peixinhos que viviam nas águas turvas.

João Lambari e seus amigos resolveram nadar riacho acima, contornando o reino das águas

turvas, para descobrir a fonte do escurecimento das águas.

Foi uma jornada difícil, encontraram vários obstáculos pelo caminho, vários peixinhos e

outros seres que achavam que eles estavam loucos.

Mas não desistiram.

Por fim chegaram a um ponto em que as águas estavam cada vez mais escuras,

lutaram bravamente contra aquela escuridão e , de repente, as águas se tornaram

cristalinas.

João Lambari e seus amigos pararam algum tempo para descansar e desfrutar

da água limpa e oxigenada, levaram um tempo para se acostumarem mas logo

estavam a nadar alegremente naquele local.

João Lambari, depois disso, resolveu descobrir o que é que tornava as águas

turvas mais abaixo do ribeirão e começou a fazer a jornada inversa.

Agora nadando em águas limpas era mais fácil ver o que acontecia.

E foi assim que João Lambari e seus amigos avistaram uma coisa enorme

algo como um rio que saia de uma caverna redonda e que jogava no ribeirão

todo tipo de dejeto.

Era justamente a partir daquele local que o ribeirão ficava escuro.

João Lambari percebeu que era daquele cano enorme que vinham, também,

alguns restos de alimento que rolavam ribeirão abaixo e que alegravam aos peixes

do reino das águas turvas.

João Lambari e seus amigos, agora já haviam sentido o gosto da comida saudável,

embora mais trabalhosa de se conseguir, que existia acima do tubo que a tudo escurecia.

Lembrou-se João, dos peixinhos ribeirão abaixo e de como estavam vivendo de migalhas.

Escreveu uma mensagem aos moradores do reino das águas turvas contando de suas

descobertas e despachou vários mensageiros para darem as boas novas.

A mensagem foi espalhada por todo o ribeirão, no entanto João foi tachado de louco,

alguns estafetas foram perseguidos e expulsos do reino das águas turvas.

Mas ainda assim houve peixinhos que alegremente nadaram ribeirão acima, apesar das

dificuldades e de serem ridicularizados ao longo do caminho.

Enquanto isso, no reino das águas turvas, o rei Cascudo I, continua a armazenar

os restos que rolam ribeirão abaixo e a distribuir aos seus súditos como se fosse

o maior benfeitor da "peixidade".

Zé Caramujo continua a idolatrar o rei e a combater qualquer raio de luz que invada seu reino.

Lambari e seus amigos hoje vivem felizes acima do cano de esgoto felizes por não se alimentarem

das sobras que o ribeirão leva corrente abaixo, poluídas pela sujeira que verte do cano.

E esta é a história dos peixinhos que tiveram coragem de nadar contra a correnteza.

APRENDENDO COM OS PEIXINHOS

Destaque no texto as palavras e expressões que não conhece

e, com a ajuda do amigo dicionário descubra o seu significado.

ENTENDENDO A HISTÓRIA

Quais são os personagens desta história?

Quais as principais diferenças entre eles ?

Como era a vida no reino das águas turvas?

Como os seus habitantes se comportavam quando a luz chegava até eles?

Quem era João Lambari? Por que o rei se incomodava com ele ?

Do que João Lambari se ocupava?

O que João Lambari e seus amigos resolveram fazer?

O que eles descobriram em sua viagem?

Qual era a causa do escurecimento das águas?

O que eles fizeram com sua descoberta?

Quais as consequências da descoberta de João Lambari ?

Se você vivesse no reino das águas turvas o que faria com a notícia

de João Lambari?

Qual sua opinião sobre o modo de governar de Cascudo I?

Pelo tipo de texto apresentado podemos dizer que trata-se de:

( ) Um poema

( ) Um conto

( ) Uma notícia

( ) Uma peça teatral

Quem é o autor do texto?

BRINCANDO DE ESCRITOR

Crie um final diferente para a historinha do reino das águas turvas.