O mundo de Nena
A irmã entra com o coração na boca: “Mamãe, a Nena sumiu!”. Coitada! Uma criatura que só vivia para a casa e os filhos fica assustada. Já pensa no marido que logo chegará e na surra da menina por mais uma traquinagem. Desta vez não sabia como ajudar. Seria um deus nos acuda. E se o Batista chegasse zangado?
Dentro da mata fechada a menina não suspeitava do que ocorria em casa e nem das preocupações da mãe acerca de sua pessoa. Seu mundo era na imaginação. Deitada em cima de papelões de caixas ela lia Peter Pan. Se Sininho brincava com ela eu não sei. A única certeza que tenho é que os pezinhos dançavam em cima do mato e mesmo encostando-se aos carrapichos devido ao local minúsculo do esconderijo de leitura ela não sentia nada, nadinha. Seu mundo, uma fantasia. Até tentei gritar para ela tal a mãe sempre faz. Hoje mesmo a primeira coisa que a inocente alma materna fez foi gritar a pulmões soltos no ar:”Nena! Vem para casa, minha filha!”.
Todos na rua. Os olhos seguiam os quatro pontos cardeais procurando a direção em que Nena surgiria. Eram já dezessete horas. O sol escondia-se atrás de uma nuvem indagando destas se não viram a menina fujona. Vizinhos respondem que não a viram, mas que se acalmem, pois nada de desastroso teria acontecido ou já teriam sido inoformados. Notícia ruim era a primeira a chegar. Dona Inocência sabia que o mal era o pai chegar antes da menina. A palmatória cantaria nas mãos finas e magras de sua doce Nena.
De repente, Gislene grita com ar de crítica infantil:
_ Mamãe, ela estava esse tempo todo escondida dentro do quintal. Fazendo sabe-se lá o quê...
Nena era uma guerreira de Pan, sobreviveria! E era minha heroína!