São João da minha infância

   Era uma data muito esperada

   Mal entrava o mês de junho
 
 
   A família inteira  "arribava"
   Rumo ao interior onde os avós moravam
   Hoje  restam-me as lembranças,
   Do São João da minha infância.
 
 O pai, a mãe e a filharada,
 Nove horas de trem viajavam,
 Mais duas na empoeirada estrada
 E quando de longe se avistava
 A cruz da capela apontando
 Era aquela alegria no rosto da meninada.
 
O festeiro oficial, era o avô “Tiné”
Fogueteiro de mão cheia
Fazia muitos rojões,
Foguetões e busca-pé...
Muitos coloridos balões
Para as noitadas de S João.
 
 
Alegrava toda aquela gente,do lugarejo
Com novenas, fogueiras e comilanças.
Havia fogos menos perigosos
Para distribuir às crianças.
 
 Criançada que ajudasse
 Nas confecções das bandeirinhas
 Ganhavam chuveirinhos,traques
 Estrelinhas”peito de veia”e bombinhas.
 
 
 Havia uma engenhoca inventada pelo meu avô,
 fios de estopim suspenso amarrado num pau,
 Cada ponta, dois bonecos de papel com gravata e paletó
 Um rodava a roda, outro socava um pilão
“Bonecos de roda” feitos por minha avó.

 
 Dentro do boneco que socava o pilão
 Um coração bomba havia
 Quando o estopim acendia
 
 
 Correndo na direção
 Em mil pedaços o boneco explodia
 Encerrando a festa, dum inesquecível S. João.