A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Havia, no tempo dos deuses do Olimpo, um fazendeiro que era muito pobre. Era casado e tinha um filho de cinco anos, magrinho, tão magrinho que um vento forte poderia erguê-lo do chão.
A casa da fazendinha era velha. No telhado faltavam algumas telhas e, quando chovia, a mulher do fazendeiro espalhava panelas pelos quartos e sala para aparar as goteiras. A esposa reclamava muito. Para amenizar a situação, ele pescava no rio para matar a fome da família.
- Quando vamos sair dessa situação, homem? – perguntava a mulher com lágrimas nos olhos. Sem saber o que responder, ele abanava a cabeça.
Os vizinhos criticavam o fazendeiro, cochichando entre si, toda vez que ele passava a caminho do rio para pescar.
- Ele não se esforça...
- Ele não gosta é de pegar no pesado...
O homem era adorador de Hermes, um deus mitológico. Quando ele estava pescando conversava, em pensamento, com o deus e contava a sua triste situação. Condoído, Hermes resolveu ajudar o fazendeiro, dando-lhe uma galinha que botava ovos de ouro. Ele levou a ave para casa, colocando-a num pequeno compartimento atrás da cozinha. No dia seguinte, ele teve uma grande surpresa:
- Mulher! – chamou agitado – A galinha botou um ovo de ouro...
- Será mesmo, marido? – perguntou ela chegando e apalpando o ovo.
- Vou levar para o ourives ver. – disse decidido.
Chegando a loja ele apresentou o ovo esquisito ao ourives dizendo que era obra da sua galinha. O ourives, depois de examinar atentamente o ovo, deu o seu parecer final.
- É de ouro, sim. Do mais puro ouro. A sua galinha deve ter um tesouro dentro da barriga...
O ourives tratou de espalhar a notícia pelo vilarejo. O pobretão da fazendinha tinha um tesouro. Uma galinha que botava ovos de ouro. A princípio ninguém acreditou, mas, devido a mudança na vida do fazendeiro, eles começaram a prestar mais atenção. Primeiro foi a casa. De velha e destelhada, tornou-se um casarão bonito, reformado, pintado de branco com janelas azuis e telhado novinho.
Depois o filho. Já não estava tão magrinho e vestia roupas novas. A mulher vivia mais alegre. Ele mesmo mudara de figura. Estava mais forte e a sua fazendinha estava cultivada. Ele plantara milho, feijão, verduras e frutas. A fome desapareceu de sua casa.
Alguns anos se passaram e, como não precisasse vender mais os ovos de ouro, pois o lucro que a fazendinha gerava era suficiente para cobrir as despesas, ele resolveu guardá-los. Era a sua poupança. O prefeito do vilarejo morria de inveja do fazendeiro. Dizia para as pessoas que ele é que merecia aquela galinha e não aquele infeliz que pouco sabia ler. Fazia de tudo para prejudicar o pobre fazendeiro. Um dia ele chamou o fazendeiro e propôs:
- Quero comprar a sua galinha dos ovos de ouro! O fazendeiro disse-lhe que ia pensar.
Acontece que ele não queria comprar nada. Ele queria roubar a galinha do homem. Já havia contratado uns capangas para, no final de semana, invadir a fazendinha e levar a galinha para ele.
Naquela noite o fazendeiro teve um sonho. Sonhou que o deus Hermes entrava em sua casa e lhe dizia:
- Dê a galinha de presente para o prefeito...
Ao acordar o fazendeiro pegou a ave e foi direto para a casa do prefeito.
- Aqui está a galinha. É um presente para o senhor... cuide bem dela, pois ela é um tesouro...
O prefeito, mais que depressa, agarrou a galinha e foi direto para a cozinha dando a ordem:
- Abatam esta galinha porque eu quero retirar o tesouro que está na barriga dela.
Um dos cozinheiros, que sabia da história dos ovos de ouro, perguntou:
- Tem certeza? Olhe, Sr. Prefeito, só galinha viva bota ovos...
- Vamos logo, seu molenga, execute logo o trabalho que eu quero pegar o tesouro.
E assim foi feito. Abatida e aberta a ave, o cozinheiro foi retirando tripas, papo, moela, fígado e nada de tesouro. Aquela galinha não diferente das demais.
O prefeito, como louco, gritava:
- Cadê o tesouro, cadê o tesouro... cadê o tesouro...
Depois desse acontecimento, o prefeito ficou desvairado, falava com alguém que só ele via, perguntando insistentemente onde estava o tesouro da galinha dos ovos de ouro. Por esse seu estranho comportamento, acabou sendo expulso da prefeitura perdendo os bens que gananciosamente acumulara.
Moral da história: nem todos são merecedores das benesses dos deuses: gananciosos que querem sempre mais terminam perdendo até o que possuem.
12/05/09.
(histórias que contava para o meu neto)