AS AVENTURAS CONTINUAM...
AS AVENTURAS CONTINUAM...
Estava a Madalena, muito descansada da sua atarefada vida, a pensar na morte da bezerra, quando, de repente, sentiu ao seu redor um ruído muito estranho, sussurrante, mas que a envolvia como se tratasse de uma estereofonia vinda de todos os lados da atmosfera e cujo som se identificava com o de um enxame de abelhas dos mais populosos, mas também dos mais disciplinados, onde não existia a mínima desafinação. E como com estes simpáticos insectos não se brinca, sob pena de uma aferroada a pedir enfermeiro, ali se manteve inerte, sem pestanejar sequer. De súbito uma aterragem um pouco barulhenta num muro existente por trás de si, fê-la desviar a atenção e deixar de pensar nas picadelas. E eis senão quando...
Quem haveria de ser? A abelha mestra Carolina, a sua priminha de Braga, que ali voara para lhe pedir ajuda sobre um assunto muito importante e inadiável: Os bichos do monte Picoto andavam com manias e todos queriam ser chefes. Ninguém aceitava ordens de ninguém e então os de raças inferiores como as toupeiras, os sapos, os ratos e outros ainda mais pequenos já nem podiam sair das suas tocas pois logo seriam vandalizados pelos maiores. Nem mesmo o lendário Harry Potter cá do sítio,
o famoso António Hugo, que tão logo soube da determinação da abelha Carolina em solucionar o problema, pôs a vassoura voadora em movimento e lá foi parar também, não sem antes informar a rainha picoteira Marta Regina, que já havia reunido de urgência com a abelha Carolina, conseguiu colocar um ponto final no descalabro montesino.
A ideia de que a solução estaria algures em Lisboa, surgiu da parte de outro dos primos, o corredor de fundo, o automobilista de super fórmula, o grande entusiasta da primeira historinha, que não queria ver os bichinhos sem o sorriso nos lábios, o nosso conhecidíssimo Afonso “Fom-Fom”.
Sabendo das influências africanas da Madalena Figueiredo e porque a única hipótese para ultrapassar esta guerra que se avizinhava provável estaria naquelas paragens, devido à convivência com animais de grande envergadura e que já há muito ultrapassaram estas mesquinhas quezílias, achou por bem pôr a questão a votos, achando, porém, que a reunião em Lisboa devia ter a presença de todos. Mas como ele não tinha fotografia com os outros primos resolveu seguir para o Picoto, a fim de verificar como decorriam as relações inter-bichos, não sem antes entrar em contacto telefónico com o Harry Potter para se deslocar a Braga, via vassoura mágica, e transportar a rainha Marta para deliberarem em conjunto com a Madalena sobre a decisão final a tomar, o que efectivamente aconteceu num ápice.
Numa fracção de segundos aí estão eles espreitando a Madalena, que agora já não pensava mais na morte da bezerra.
Encimados no poleiro, pois se descessem ao jardim acabava-se a magia (é preciso não esquecer que o Harry é apenas aprendiz de mágico e por isso ainda não tem todos os poderes) escutavam a africanista, que lhes expunha o que iria ser feito, mas que o narrador não diz agora para fazer render o peixe. De seguida aconselhou-os a regressar ao Picoto e ela partiu imediatamente para o reino da bicharada, a fim de tomar algumas medidas antes de iniciar uma longa caminhada.
Junto dos seus elefantes meditou. E enquanto pensava “como era possível meia dúzia de bichotes a quem um pouco de vento mais forte os leva pelos ares andarem sem rei nem roque, quando toneladas de carne ambulante no meio das densas matas africanas obedecem à racionalidade da paz. Sim, porque as guerras acabaram!...Sem pensar duas vezes, entra no seu escritório (agora já não se diz “cristório” porque sabemos falar, nem andamos de chupeta no bolso, porque esses tempos já lá vão...) e envia um E-mail com destino que já vamos saber.
Segura do seu raciocínio veloz e coerente chama o seu conselheiro e manda que lhe tragam roupas apropriadas para uma viagem longa e penosa. Todavia como nós aqui facilitamos sempre as coisa vamos arranjar-lhe um camelo a turbo e não daqueles pachorrentos que estamos habituados a ver na televisão.
E aí vai ela a caminho do continente africano à procura de solução para a guerra da bicharada, quase a instalar-se no monte do Picoto, que por sinal ela nem conhece. Apesar da velocidade do camelo (este é mesmo um camelo; há os outros só com uma bossa, são os seus primos dromedários e esta fotografia é autêntica, foi mesmo tirada em África) a viagem ainda demorou uns dias, à volta de cinco, findos os quais se foi encontrar com o sultão, que era o que mais sabia destas guerras, e a recebeu com toda a pompa e circunstância, como os jornais gostam de escrever.
Após uns dias de negociações, sim porque estas coisas metem sempre uns banquetes, mesmo em África, lá se chegou a uma conclusão, que ela de imediato, como excelente colaboradora, transmitiu ao Conselho Superior da Paz Picoteira – CSPP (era preciso arranjar uma sigla, de contrário nem parecia verdadeira a guerra):
Iria seguir no primeiro transatlântico um rei leão para pôr cobro à indisciplina reinante e ai de quem não cumprisse. Ele tem umas garras muito afiadas e uns dentes tratados a Sensodyne... E como iria para uma terra sem lei e já há muitos anos que não comia uns petiscos, porque na sua era proibido... Quem quiser que entenda!
Punha-se, porém, um problema.
O leão, que não é o do Sporting, esse até se deixava comer por um rato, tão fraquinho anda, não devia fazer transbordo em qualquer porto. Como viajava incógnito não podia ser identificado pelos serviços secretos de qualquer bicharada internacional. Então a única solução foi arranjar uma máquina submarina que o retirou do transatlântico em Leixões, seguiu até à foz do Cávado, deste passou para o Homem, até encontrar o famoso rio Este que o deixaria mesmo debaixo da ponte na Avenida da Liberdade, em frente ao monte do Picoto.
Como estamos na era do instantâneo (esta está a ser inventada agora) em que é só pensar e logo os factos se concretizam, facilmente o assunto ficou resolvido. Aqui foi muito importante a vassoura mágica e a acção do seu detentor, Harry António Potter Hugo, que acompanhou de perto o percurso do rei Leão até o fazer penetrar na imensidão da selva, onde de imediato fez reinar a paz, tranquila e duradoura, tão necessária à boa harmonia de qualquer ser vivo, seja ele bicho do mato ou homem (que parece continuar a querer ser) das cavernas.
 Se ficou tudo resolvido?
 Ficou, sim senhor.  O leão adaptou-se muito bem ao ambiente, mesmo climático. Não queria voltar para a selva dele, mas estes tratados internacionais não se compadecem. Ao fim de uns dias logrou verificar que os seus novos amigos já viviam em paz, deixando-se de armar aos chefes. Tiraram dele uma lição muito proveitosa: É mais fácil obedecer do que mandar. Foi até por não haver ninguém voluntário para chefiar o Picoto que o leão teve de ficar mais tempo do que o necessário. Por fim lá se arranjou um cabrito malhado, que aceitou e ainda hoje se senta na cadeira dourada do trono. Os nossos amigos, depois duma festa em conjunto, lá seguiram para a rotina do dia a dia nos seus colégios, onde continuam a estudar, sempre com o propósito de serem os verdadeiros chefes de amanhã.
E assim se tentou fazer uma aproximação dos primos, que vivem tão distantes, ao mesmo tempo que ficaram todos a saber como foram as fantasias do Carnaval de 2003.
Fim
(No original tem fotos)