O Rato do Meio
Naquela toca havia rato demais. Era o que achava o ratinho do meio. Mamãe rato não parava de colocar mais e mais filhotes no mundo, e ele ali, naquele lugar onde nada de novo acontecia.
Mamãe rato percebeu o descontentamento do filho, e fez o que pôde para que voltasse a se sentir feliz com o que estava ao seu alcance. Mas em vão. Seu filho do meio sempre queria mais.
O que ele queria estava além daquelas paragens, além do que ela podia proporcionar, além do que conhecia. Não era seguro e, além disso, havia muitos predadores. Mais do que, os que estavam sempre à espreita naquele lugar tão conhecido, afinal seus pais, seus avós viveram ali, e ali morreram.
O rato do meio continuava dando suas espiadas, para além da montanha. Tanto pensou, tanto insistiu que já não conseguia ouvir nem prestar atenção ao que estava ao alcance de suas patas e de seu faro tão apurado. Ele queria mais, e naquele dia tomou a decisão mais difícil de sua vida.
- Mãe! Estou partindo. Não me peça pra ficar. Não suporto essa toca, essa rataria que não pára de crescer, esse espaço tão medíocre. Quero mais e vou à procura dos meus sonhos!
A mamãe rato, baixou a cabeça, e percebendo que seu filho do meio estava resolvido a ir, disse:
- Filho, o que eu tinha pra lhe dizer já disse. Você quer partir não lhe impeço, porém quero que ouça meu último conselho. Você parte para um lugar desconhecido, vai ter contato com um mundo onde a competição é maior, e por isso mesmo estará mais exposto a toda situação de risco. O que tenho para lhe oferecer não lhe basta, então vá. Se um dia resolver voltar, essa toca estará aberta, e sua mãe de braços abertos lhe esperando. Se não puder voltar, lembre-se: a escolha foi sua.
Com lágrimas, despediram-se.
Embora mamãe rato, sentisse falta do filho, tinha que continuar sua labuta. Quanto ao rato do meio, a cada dia sentia-se dono do mundo. Tanto espaço, tanta comida, tantas descobertas. Mamãe não sabe o que está perdendo, pensava ele. Por instinto, sempre que ouvia um som diferente se escondia, e assim ia vivendo.
Depois de muitas noites caminhando, já distante e sem pensar em voltar, preparou-se para dormir. Mas algo lhe deu uma botada, sem, contudo lhe prender entre os dentes. Pensou: deve ter sido um animal assustado que passou com pressa, porém sentiu que lhe doía às costas; era a hora do plano de fuga. Tentou correr, mas as patinhas não lhe obedeciam. Usou de toda força para entrar embaixo de um tronco caído, mas seus movimentos eram desordenados. Sentia que a morte estava chegando, um pensamento lhe veio à lembrança:
- Minha mãe rata bem que falou. Como eu queria poder voltar atrás, porém não há mais como dá um passo em direção à toca que tanto me acolheu, e que eu, na minha ânsia de viver, rejeitei justamente a vida que estava ao meu alcance. Rejeitei viver, junto dos que me amavam e que só queriam o meu bem.
Quando só a cabeça conseguia mover, seus olhos assustados perceberam aquela sombra ondulante... Era o fim. O rato do meio conseguiu dizer entre chiados:
- Adeus minha mãe, meus irmãos... Perdi dentro dos meus sonhos que me fizeram dá passos além do que eu deveria ter dado.
Com lágrimas correndo pelos olhos, já sentindo a língua asquerosa lhe tocando, exclamou num gemido:
- Mãe, a senhora tinha razão!
Ali, ainda em convulsão, o rato do meio pôde dá seu último suspiro quando era empurrado para dentro de uma bocarra que estava preparada para a festança.
MORAL: Ouçamos os conselhos de quem pode nos orientar. Devemos nos contentar com o que está ao nosso alcance. Há perigo nos espreitando quando damos um passo além da conta.