O SAGÜI
— Existem lugares e mais lugares, mas tem uns que são realmente especiais. Eu fico encantado com esse vale e perdido sem saber pra onde olhar com tanta beleza. E você, urso pardo, acha que existe um lugar mais bonito que esse?
— É difícil, lobo guará, um lugar mais bonito que outro, todos são especiais. Nós e que o vemos mais ou menos bonitos de acordo com o nosso estado de espírito. Não concorda?
— Seja lá o que for é lindo.
— E é eterno.
— Tenho certeza disso.
E ficaram lá observando todos os cantos, arvores, relva com os primeiros raios de sol e se aperceberam que havia um barulho estranho na floresta e partiram rapidamente entre as arvores. O dia ainda estava nascendo e o sol tornava brilhante as folhas ainda banhadas do orvalho da madrugada. Pássaros voavam alegremente de um lado para outro, cantando para homenagear o dia e quando viram o urso e o lobo correndo entre as arvores os seguiram.
— Essa arvore é minhaaa!!! Gritava o sagüi para a onça pintada.
— A arvore pode ate ser sua, mas a sombra não é. Falou o tamanduá bandeira.
— Tudo que esta na arvore ou sai dela me pertence. Disse o sagüi.
— Isso é um absurdo! Falou a onça pintada
Os pássaros quando pousaram na arvore.
— Saiammm, saiammm, essa arvore é minhaaa... Gritava o sagüi.
Muitos levantaram vôo menos à ararinha azul.
— Desde quando?
— Saiammm, saiammm, saiammm... apartir de agora é cada um na sua! Falou o sagüi.
— A ararinha azul olhou para a onça pintada e fez um sinal que não estava entendo nada.
O sagüi não sossegou e continuou.
— Tem muita arvore, pois cada um e que encontre a sua. A onça pintada fica na rocha na beira do rio, e ninguém a incomoda. O elefante fica o tempo todo na lagoa. O urso pardo tem ate toca e porque que eu não posso ter a minha arvore?
— E claro que pode! Falou o urso pardo, mas para que gritar com todo mundo e ate mesmo proibir a onça pintada de ficar na sombra.
— Eu só não quero e ter que dividir nada com ninguém na marra.
Ouvir aquilo foi demais. Desnorteados olhavam um para outro.
— Até a sombra é dele? Perguntou o urso pardo.
— Como pode ser isso? Queria saber a ararinha azul.
— Eu não sei, mas é melhor se afastar, assim evitamos problemas disse o tamanduá e no mais ele tem até razão.
A arvore ficava ao lado de uma grande pedra onde todos os animais se reuniam, com o frescor de sua sombra e protegidos do vento, mas o sol e os muitos amigos reunidos os fizeram relaxar e curtir. O urso sempre esparramado na relva rolava de um lado para o outro. Os pássaros voavam e cantavan. Cada um fazia do dia um dia único ate que o urso pardo cochilou.
— Acorda, acordaaa, eu não falei que ate a sombra é minha. Falou o sagüi.
— O que foi? O que esta acontecendo???
— Estou falando com você, tudo que sai da minha arvore me pertence.
— Eu estou no sol.
— Estava! Agora não esta mais a sombra da minha arvore te alcançou.
— Estou saindo não precisa se estressar.
O urso pardo estava tonto de sono, mas se levantou e saiu voltando a ficar no sol. Agora deitava de pernas abertas para cima. Os outros animais não gostaram nem um pouco do jeito que o amigo foi acordado, mas entenderam o recado: Eles teriam que se afastar da sombra da arvore de acordo com o cair da tarde, sem problema, o negocio é não brigar, discutir para que. O tamanduá atento pediu a todos que prestassem atenção para evitar confusão com o sagüi. O sol indiferente a tudo se punha no horizonte e a onça pintada.
— A sombra esta aumentando olhem quem esta ali?
O sagüi estava a postos subia e descia de sua arvore toda hora para ter certeza que ninguém invadira seu espaço, cada vez maior o que lhe dava um sorriso maroto na cara, não vacilava sempre atento a sua arvore, sombra e ao por do sol que sem querer aumentava seu território.
— E agora? Já quase não da para ver o fim da sombra, esta anoitecendo falou a ararinha azul.
E quando todos menos esperavam apareceu o sagüi correndo com um monte de gravetos marcando o limite da sombra, que era imensa.
— Que absurdo!!!
E agora dava ate sinal de cansaço, mas nem isso o abatia, ia e vinha sem parar, pegando gravetos e os colocando em linha no fim da sombra.
— Dá vontade de ajudar disse a onça pintada.
— Isso ele tem que fazer sozinho, para saber o quanto custa o espaço que ele quer ou precisa ter, disse o tamanduá bandeira.
E junto com o por do sol veio o ultimo graveto, à noite estava linda com a lua iluminando a floresta o tatu péba antes de entrar em sua toca comentou com o tamanduá bandeira...
— Que trabalheira? Se a intenção não fosse tão triste até que ficou bonito, ate amanhã.
— Definir espaço faz parte da vida, eu tenho o meu você o seu e muitos o têm também, e triste e aquele que não definiu o seu, falou o tamanduá bandeira.
E pensativos todos se recolheram para dormir. Um show de estrelas varou a noite ate que cedeu aos primeiros raios de sol e como sempre o orvalho da madrugada dava o brilho na floresta.
O lobo guará se esticava e o urso pardo cambaleante de sono, procurava se acomodar sob o sol para se aquecer e acabar de se despertar e quando esfregava a sua cara na relva viu o sagüi a correr embaixo da arvore, subindo, descendo, pulando demonstrando uma alegria contagiante.
Conforme iam aparecendo os animais se encantavam com tanta felicidade e ficavam ali refletindo sobre o acontecido no dia anterior, quando o sagüi assumiu a arvore como seu espaço...
— Eu me lembro quando vi a lagoa disse o elefante africano foi bom de mais, a minha alegria é mergulhar nela e a onde eu me sinto muito feliz.
— E a clareira então com aquela relva macia e ainda encontrei uma toca espaçosa, falou o urso pardo, para mim é o paraíso.
— E para muitos era só uma pedra, mas e a onde eu me sinto bem quando me relaxo ao sol, falou a onça pintada. É pequena nem se compara a uma arvore ou a toca do urso, mas é o meu lugar preferido.
— O sagüi conquistou seu espaço do jeito dele, e pela sua alegria, não demora muito quem vai estar aqui é ele como nós, feliz da vida falou o tamanduá bandeira. Só falta aprender a dividi-lo.
— Mas só dividimos aquilo que temos.
Dessa vez falaram em coro.
— E vai ser muito bom fazer-lhe uma visita.