O TRENZIM DE FERRO – CONTADOR DE HISTÓRIAS
Locomotiva e dois vagões, esse era o trenzim de ferro. A beleza do trenzim estava na frente da locomotiva. Era como uma cara redonda com dois olhos grandes e a boca sorridente. Qualquer um se apaixonava por aquele trenzinho mineiro, folclórico e querido de todos os bichos.
- Olá, trenzim! Fez boa viagem? – perguntou uma tartaruga com voz de menina mimada. Depois foi o coelho com sua voz de menino sapeca:
- Oi, trenzim! Trouxe histórias pra nós?
A raposa e o macaco também saudaram o trenzinho, no estilo de dupla caipira, cantando:
- “Nossa amizade não tem fim,
Chegou nosso amigo Trenzim”.
Agradecendo a recepção da bicharada, ele respondeu que tinha muita história pra contar. História de bicho e de gente. Foi aí que a bicharada pediu, todos juntos numa só voz:
- Conta, conta amigo...!
E todos se sentaram diante da locomotiva para ouvir. Então o trenzinho de ferro contou a seguinte história:
- No tempo dos deuses do Olimpo, viveu, numa lagoa mitológica, um grande e bonito sapo chamado Melquíades. Ele era invejoso e debochado. Sempre que via outro sapo, ria da aparência ofendendo o pobre que, muito triste, mergulhava na água da lagoa. Uma rã, que vivia por ali, disse:
- Um dia será castigado. Ninguém é melhor do que ninguém... cuidado!
Ele resmungava olhando a sua imagem na água: “não há sapo grande e bonito como eu”. Um dia, a deusa da bondade passeava pela lagoa. Ela colhia flores e com elas enfeitava os cabelos. Depois se debruçava na água para ver a sua imagem. O sapo Melquíades, que a tudo observava, disse: “- Não adianta, nunca será tão bela quanto eu...”. A deusa sorriu e não disse nada. Mas, Zeus, o senhor do Olimpo, ouvindo a conversa do sapo e avaliando a sua maldade, resolveu intervir.
Transformado num lindo boi dourado ele baixou na lagoa. E ficou por ali bebendo água, comendo uma graminha e, devagar, aproximou-se do sapo. Ao ver aquele enorme boi, Melquíades, cheio de inveja, disse para a rã:
- Eu quero ser igual. Quero ser do tamanho desse boi e lindo como ele... Eu querooooooo! – gritava.
- Você não pode...! – advertiu a sensata rã.
- Eu posso... é só estufar meu peito e eu crescerei até alcançar o tamanho do boi, então serei o maior, o mais bonito.
E assim fez. Começou a inchar. Inchou tanto que já estava a ponto de explodir. A deusa da bondade, prevendo a triste sorte do sapo, disse a Zeus, disfarçado de boi:
- Penso que é suficiente. Ele aprendeu a lição. Veja como está feio, a pele toda rachada, cheia de bolhas, os olhos esbugalhados... Não é mais o mesmo sapo. – concluiu a deusa. Então o boi, voltando a ser Zeus, disse ao sapo:
- A inveja só traz desgosto. Seja você mesmo e não menospreze os semelhantes. Não seja orgulhoso, lembre-se que cada um é do jeito que é, e cada um tem o que merece. Se quiser ser mais na vida, precisa conquistar com dignidade e não desejando o que é alheio e pisando nos sentimentos dos outros. Seu desejo invejoso foi realizado.
Não está do tamanho do boi, nem bonito como ele, só cresceu mais um pouco e conseguiu essa aparência feia. Será diferente dos outros sapos, causará asco aos homens e será chamado de sapo-boi.
Zeus e a deusa da bondade voltaram para o Olimpo, deixando o sapo Melquíades arrependido e muito triste à beira da lagoa. E quando os outros sapos, dos quais Melquíades debochava, perguntavam como foi a tentativa de ficar grande e bonito como o boi, ele respondia com a cantilena:
- Foi...não foi...foi...não foi...sapo igual ao boi? Castigo foi...
Terminada a história o trenzim de ferro se despediu dos animais, com a promessa de voltar para contar outras.
14/04/09.
(histórias que contava para o meu neto)