AS AVENTURAS DO TRENZIM DE FERRO

O trenzim de ferro corria velozmente pelas estradas de ferro de Minas Gerais. Ele passava por cidades, vilas e vilarejos carregadinho de gente e de bichos sempre sorrindo e saudando as pessoas pelo caminho, especialmente as crianças, com o seu piui. Depois entrava na mata, rodando no trilho, para cumprimentar os animais. Aí ele diminuía a velocidade e gritava: “piui, piui, piui...” Desde pássaros até jacarés, todos corriam para ver o trenzim de ferro passar. Era uma amizade que já durava muitos e muitos anos.

Um dia, voltando de uma dessas viagens ao fundo da mata, o trenzim de ferro viu, ao longe, um homem. Ele foi se aproximando e, quando estava quase perto da criatura, ela ergueu o braço fazendo o trenzim parar instantaneamente.

- Uai, sor! Cuma é qui ocê feiz isso, sor? – perguntou o trenzim assustado.

- Magia, meu caro amigo, pura magia. – respondeu o homem com largo sorriso.

- Intonces ocê é mágico? Podi mi insiná essa tar de magia? – perguntou o trezim no seu linguajar mineiro.

- Poder eu posso, mas vou fazer melhor: como hoje é um dia especial, eu vou lhe mostrar a força da magia.

Dizendo isso, o mágico subiu no trenzim de ferro que partiu rapidamente. Depois de alguns quilômetros, o trenzim sentiu como se estivesse flutuando no espaço entre nuvens que pareciam fumaça. Ficou meio tonto, mas não disse nada. De repente ele se viu num lugar estranho.

- Qui lugá é essi, sor? – perguntou nervoso. O mágico, respondeu calmamente.

- Logo você irá saber.

- I donde istá o trio di ferru, sor?

- Aqui não é preciso...

- Cuma qui não, sor...!

- Pode ir que eu garanto... – respondeu o mágico.

O trenzim achou engraçado porque ele corria como se, realmente, estivesse num trilho de ferro e, alegre como ele era, começou a apitar: piui, piui, piui... Parou a pedido do mágico.

- Uai, aqui num é Minas Gerais...! – exclamou o trenzinho.

- Não é não. Aqui é Jerusalém e você irá conhecer um personagem muito importante.

- I quem é ele? Quis saber o trenzim de ferro.

- Um homem sem preconceito. Um sábio. Até hoje não nasceu outro igual. - respondeu o mágico.

O trenzim, levando a bordo o mágico, rodou por Jerusalém indo parar numa montanha, onde um homem alto falava para uma multidão. Todos ouviam em silêncio. Depois ele viu o mesmo homem ser preso por uns soldados que vestiam uma espécie de saia e judiavam muito do homem. Viu o homem ser pregado numa cruz e uma mulher que chorava muito. O trenzim pensou tristemente: - essa muié só podi sê a mãi deli.

Outra vez a mágica, e eles foram parar diante de uma gruta fechada com uma enorme pedra. O mágico disse ao trenzim.

- Hoje é o terceiro dia...

De repente uma luz radiosa iluminou a gruta e a pedra, que fechava a entrada, afastou-se para o lado, surgindo majestoso, o homem que o trenzim havia visto crucificado. Espargindo luz e pairando no ar, Ele murmurava preces e abençoava àqueles que tiveram a felicidade de presenciar o grande milagre. O mágico emocionado e respeitoso, disse:

- Trenzim, este é Jesus Cristo, o filho de Deus, ressuscitado!

O trenzim, emocionado foi se aproximando de Jesus, e Ele, com toda bondade, disse:

- «Vinde a Mim, todos que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei. Até você, trenzim, que serve a homens e bichos, transportando-os para todos os lugares sem reclamar, sempre alegre e feliz.” E, erguendo a mão, Jesus abençoou o trenzim de ferro que fez um piuiiii de agradecimento e de júbilo. E como é domingo de Páscoa vamos embarcar no trenzim de ferro e voltar para a realidade.

12/04/09

(histórias que contava para o meu neto)