A maçã de chocolate
As mãozinhas enfiadas nos bolsos da bermuda surrada procuravam algum trocado, enquanto os olhinhos brilhavam vendo aquela cachoeira de chocolate cobrindo a maçã. Lambia os beicinhos e engolia a saliva que lhe enchia a boca como água na piscina.
“Esse mundo tá todo errado mesmo”, pensou.
“Se Deus fosse criança, a chuva seria de chocolate. Maçãs dariam em árvores pela cidade e todas as crianças poderiam catar quantas quisessem e de graça”.
Estava cansado de arroz, feijão e couve. Mas a mãe lhe dizia para agradecer a Deus, porque ainda tinham o que comer.
“E isso lá é comida de criança!”
Via meninas e meninos devorando as maçãs com a boca lambuzada de chocolate. Foi sentindo uma vontade, uma tristeza...
De repente, sentiu uma mão encostar no seu ombro. Virou-se assustado e viu um garoto, pouco maior que ele segurando duas maçãs cobertas de chocolate. O menino estendeu-lhe uma das mãos e disse:
- É para você.
Ele não pôde acreditar. Olhou para o rosto do menino, depois para a maçã. Ficou sem saber se pegava primeiro ou agradecia depois, ou vice-versa. Então sorriu, pegou a maçã e disse “obrigado”.
O outro garoto devolveu o sorriso, virou-se e foi andando. Antes que se afastasse muito, ouviu:
- Qual é o seu nome?
- Pedro.
Enquanto ele comia feliz a maçã, ficou olhando o menino ir embora e teve vontade de correr atrás dele e lhe dar um grande abraço. Mas não fez isso. Terminou a maçã e foi embora para casa. Mais tarde um pouco, quando estava à mesa com a mãe, pronto para jantarem, ele disse:
- Hoje, mamãe, vou agradecer a Deus pela comida e ao Pedro pela sobremesa.